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Bolsonaro troca 6 ministros e deputada Flávia Arruda assume articulação política

29 mar 2021 - 21h09
(atualizado às 21h24)
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O presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta segunda-feira a inesperada troca dos titulares de seis ministérios, incluindo os principais nomes palacianos e as pastas de Justiça e Defesa, e entregou a articulação política a uma deputada ligada ao centrão, após pressão do Congresso.

Presidente Jair Bolsonaro em cerimônia no Palácio do Planalto
10/03/2021
REUTERS/Ueslei Marcelino/File Photo
Presidente Jair Bolsonaro em cerimônia no Palácio do Planalto 10/03/2021 REUTERS/Ueslei Marcelino/File Photo
Foto: Reuters

Bolsonaro pediu o cargo do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, o que pegou ministros e parlamentares de surpresa. Em nota ao anunciar a saída do posto, o general disse que preservou "as Forças Armadas como instituições de Estado" durante seu período à frente do ministério.

Uma fonte do Congresso, no entanto, relatou à Reuters que Azevedo havia confidenciado a alguns parlamentares um incômodo em permanecer no posto. A saída do ministro ainda pode desencadear mudanças no comando das Forças Armadas, e os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica se reuniram para discutir a situação, de acordo com duas fontes com conhecimento da reunião.

Para a Defesa, Bolsonaro indicou o general Walter Braga Netto, um dos homens fortes do governo, que deixará a Casa Civil como parte da dança das cadeiras. O cargo será ocupado por Luiz Eduardo Ramos, que ocupava a Secretaria de Governo.

A reforma abriu espaço ainda para a entrada da deputada Flávia Arruda (PL-DF), presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO) e muito ligada ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), na articulação política, como ministra da Secretaria de Governo. O cargo era uma antiga demanda do centrão, grupo do qual ambos fazem parte.

A escolha de Arruda também pode ser entendida como um gesto a Lira e ao centrão, após o presidente ter optado, há quase duas semanas, por um nome diferente do sugerido pelo grupo para o Ministério da Saúde. Além disso, ocorre após Lira ter feito duro discurso na semana passada, alertando sobre "remédios amargos" para erros do governo e afirmando ter acendido um "sinal amarelo".

As trocas feitas por Bolsonaro, oficializadas à noite em nota, começaram com a saída pela manhã do titular do Ministério das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, também após cobranças do Congresso.

As demais mudanças envolvem o Ministério da Justiça e a Advocacia-Geral da União (AGU). André Mendonça, atual ministro da Justiça e Segurança Pública, um dos nomes mais próximos a Bolsonaro, volta para a AGU, no lugar de José Levi, exonerado por Bolsonaro.

Levi perdeu o cargo, segundo uma fonte do governo, porque não assinou a Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) apresentada por Bolsonaro junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra medidas restritivas adotadas por governadores para tentar conter a disseminação do coronavírus.

A ação foi rejeitada pelo ministro do STF Marco Aurélio Mello justamente por ter sido assinada só pelo presidente.

Para o Ministério da Justiça e Segurança Pública irá o atual secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres, delegado da Polícia Federal.

Torres foi cotado por diversas vezes para ocupar a vaga no primeiro escalão do governo. Uma delas foi quando Bolsonaro cogitou tirar o poder do então ministro Sérgio Moro e dividir o ministério, separando a área da segurança pública, e também quando Moro deixou a pasta. Naquela ocasião, o presidente preferiu um nome mais próximo a ele, no caso André Mendonça, depois de todos os problemas com Moro.

As mudanças feitas pelo presidente ocorrem no momento em que o país se tornou o epicentro da pandemia de coronavírus, o que aumentou a cobrança por uma mudança de postura de Bolsonaro. A pressão já havia resultado na troca do ministro da Saúde este mês, sob pressão do Congresso.

Com as novas trocas, há risco de isolamento do presidente se acabarem por aproximar demais o governo dos apoiadores mais radicais, mas Bolsonaro também pode se enfraquecer perante sua base mais fiel caso se volte totalmente ao centrão.

ITAMARATY

A saída de Araújo do Itamaraty ocorreu sob forte pressão de parlamentares, incluindo o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), especialmente depois de tuítes considerados agressivos do chanceler contra a presidente da Comissão de Relações Exteriores da Casa, Kátia Abreu (PP-AL), no fim de semana.

O comando do Itamaraty será ocupado agora pelo embaixador Carlos Alberto França, hoje chefe da assessoria especial do presidente.

França era um nome que não era cogitado no Itamaraty. Como Araújo, é um embaixador com carreira recente, não seria, em situações normais, avaliado para o cargo de chanceler. Como o ministro que deixa o cargo, nunca chefiou uma embaixada nem teve um cargo de peso no ministério. Foi promovido a embaixador em 2019.

Mas, segundo fonte do Itamaraty, ao contrário de Araújo, não é considerado ideológico e tem um perfil discreto.

França foi para o Planalto ser subchefe do cerimonial no governo do presidente Michel Temer e depois virou chefe da área. Após organizar a posse de Bolsonaro, ficou no cargo e ganhou a confiança do presidente, sendo promovido a chefe da assessoria especial do gabinete.

Além da crise gerada pela situação com Kátia Abreu, Araújo vinha sendo criticado pelas dificuldades enfrentadas pelo governo na articulação internacional para obter vacinas e insumos contra a Covid-19, principalmente pela postura contra a China -- um dos maiores fornecedores do mundo.

Na carta de demissão, publicada no Twitter, Araújo disse que nos últimos dias se tornou impossível seguir no cargo. "Ergueu-se contra mim uma narrativa falsa e hipócrita a serviço de interesses escusos nacionais e estrangeiros, segundo o qual minha atuação prejudicaria a obtenção de vacinas", afirmou.

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