Bombeiros interditam mega-loja Casas da Mamãe, na ex-sede da Caixa, no Centro
Laudo dos Bombeiros revela que o grande magazine, inaugurado há poucos meses, tem risco iminente de incêndio. A loja fica bem na esquina da Rio Branco com a Almirante Barroso, e tem 3700m2 Bombeiros interditam mega-loja Casas da Mamãe, na ex-sede da Caixa, no Centro
A inauguração da loja Melhor das Casas, no saguão e loja da ex-sede da Caixa Econômica Federal - bem na esquina da Almirante Barroso com a Rio Branco, ocorreu há pouco tempo, com grande estardalhaço, e foi noticiada em primeira mão aqui no DIÁRIO. Só que, em virtude de denúncias de insegurança e risco de incêndio, o Corpo de Bombeiros acabou lavrando, ontem (04/01) auto de interdição da mega-loja do grupo chinês Casas da Mamãe. Em uma vistoria filmada pela corporação - responsável pela prevenção de incêndios e acidentes, é possível identificar caixas de papelão amontoadas até próximo ao teto e que obstruiriam parte do sistema de combate a incêndio, além de dezenas obstruindo a passagem de corredores, o que dificulta o escape de pessoas em caso de fogo, assim como o acesso de deficientes. Além de encobrirem as belezas dos vitrais coloridos e das colunas trabalhadas pelo artista Espinoza. Nas imagens, é possível ver a fiação elétrica nas prateleiras das gôndolas. Há ainda muito material inflamável acumulado, assim como caixas empilhadas; a situação representaria perigo por ser um magazine com artigos para o lar, brinquedos, perfumaria, entre outros. Todo este 'caos aquitetônico' foi denunciado pelo articulista Wagner Victer, em matéria que publicamos aqui.
https://youtu.be/Tdr82Zx_dW4
A Melhor das Casas pertence ao grupo Casas da Mamãe, que tem várias lojas em São Paulo e já tinha chegado ao Rio. A inauguração foi realizada no fim de 2022 e está em posição estratégica por conta da proximidade ao metrô, farta condução e junto a prédios como a Assembleia Legislativa (Alerj) e Câmara do Rio, onde há bastante movimento de pessoas nos dias úteis, sem contar os bares da Praça Floriano, e as grandes empresas na Avenida Chile.
O órgão determinou interdição imediata da loja, "por risco iminente, obstrução de rotas de fuga em caso de incêndio, elevada carga de incêndio (material inflamável mal instalado)". Com isso, os donos da loja - que são inquilinos de um Fundo imobiliário gerido pelo BTG Pactual, que comprou o prédio em 2003 - devem regularizar todas estas pendências e solicitar uma nova inspeção dos Bombeiros. Caso reabram sem as adequações necessárias, a Polícia, Prefeitura e Ministério Público serão acionados imediatamente, para evitar danos graves aos clientes e funcionários. Na década de 70, o mesmo imóvel sofreu com grande incêndio que demorou mais de 14h para ser controlado. A estrutura ficou parcialmente destruída, em especial, na parte do edifício de escritórios que fica acima da megaloja e que pertence aos mesmos proprietários.
https://diariodorio.com/victer-sede-da-caixa-economica-no-centro-uma-catastrofe-urbanistica-que-pode-terminar-em-fogo/
A loja tem mais de 3.700 metros quadrados, é a terceira maior de todo o Centro e vai da saída Rio Branco da estação do metrô até a Avenida Almirante Barroso, com portão inclusive para Largo da Carioca. No espaço, funcionavam uma agência bancária e o antigo Centro Cultural da Caixa, que abrigava um teatro de arena com mais de 200 assentos, dois cinemas, três galerias de arte, livraria e salas de oficina e ensaios, além de um espaço onde ficava um piano para o acesso ao público em geral.
A decoração era em mármore com dois painéis restaurados do artista plástico Lydio Bandeira de Mello e já abrigou mostras como do colombiano Fernando Botero e do grande pintor Milton Dacosta. Ainda nas imagens registradas pelos bombeiros, é possível ver que o ambiente foi bem modificado, inclusive com aparatos colocados sobre o mármore verde que dava requinte ao salão, sem contar a colagem de cartazes sobre a obra de arte do artista Espinoza, que confeccionou colunas em estilo neo-colombiano que ornam toda a grande loja. Segundo especialistas, as colunas deveriam ser isoladas, seja com acrílicos ou corrimãos de alumínio, em respeito à sua história. O imóvel, porém, não é tombado e nem protegido por nenhum órgão de patrimônio, e teoricamente as obras de arte poderiam ser destruídas a qualquer momento.
Ontem, o atual estado de outro imóvel histórico do Centro do Rio foi alvo de crítica, desta vez, pelo presidente do Instituto Art-Déco Brasil, Márcio Roiter, que usou as redes sociais para desabafar sobre o estado do prédio do antigo Banco Andrade Arnaud, localizado na Rua Sete de Setembro, onde a antiga agência bancária, recentemente esvaziada, sofre obras que podem modificá-la, sendo que ainda está em estado original. "O que vai acontecer com as luminárias nas colunas, painéis esculturais em travertino e os tetos com iluminação zenital?", questiona. O imóvel pertenceria ao Itaú.
A procura por patrimônios históricos ou culturais têm sido comum pela rede de varejo na cidade. Na Avenida Passos, a Vivian Festas preservou a estrutura, a claraboia e os gigantescos vitrais em forma de pavão da antiga Casa Esperança, no número 36. A fachada e o interior foram completamente preservados; o imóvel tem 3.000m2 e uma simples visita à esmerada superloja de festas têm encantado os frequentadores. No local, durante muitos anos, funcionou também as Casas Franklin de tecidos, e o prédio é o edifício-símbolo do corredor cultural carioca. Em outras regiões, o grupo Extra também já operou neste tipo de espaços, preservando as características arquitetônicas, como na área da unidade Boulevard, na Avenida Maxwell, e Extra Maracanã, ambos em antigas fábricas. Os shoppings Nova América, em Del Castilho, e Bangu Shopping, na Zona Oeste, são outros dois exemplos de intervenções bem sucedidas, que não alteram drasticamente as formas do passado da cidade. O próprio DIÁRIO DO RIO está em fase final de restauro de sua nova sede, num prédio do século XVIII, e chegou a receber na obra a visita do superintendente do Iphan, que congratulou o jornal.
https://diariodorio.com/superintendente-do-iphan-visita-a-futura-sede-do-diario-do-rio/