Brasil e países amazônicos não chegam a acordo sobre meta de desmatamento em cúpula em Belém
Oito nações amazônicas concordaram com uma lista de políticas e medidas unificadas para reforçar a cooperação regional em uma importante cúpula sobre florestas tropicais no Brasil nesta terça-feira, mas não chegaram a um acordo sobre uma meta comum para acabar com o desmatamento.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que aposta sua reputação internacional na melhoria da situação ambiental do Brasil, vinha pressionando para que a região se unisse em torno de uma política comum para acabar com o desmatamento até 2030 -- meta que seu governo já adotou.
Em vez disso, a declaração conjunta emitida na terça-feira em Belém criou uma aliança para combater a destruição da floresta, com cada país livre para decidir suas próprias metas individuais de desmatamento.
O fracasso dos oito países em chegar a um entendimento comum para proteger suas próprias florestas aponta para as maiores dificuldades globais em forjar um acordo para combater as mudanças climáticas. Muitos cientistas dizem que os formuladores de políticas estão agindo muito lentamente para evitar os impactos catastróficos do aquecimento global.
"O planeta está derretendo, estamos batendo recordes de temperatura todos os dias. Não é possível que, num cenário como esse, oito países amazônicos não consigam colocar numa declaração, em letras garrafais, que o desmatamento precisa ser zero", disse Marcio Astrini, do Observatório do Clima.
Lula e outros líderes nacionais saíram da reunião de terça-feira sem comentar a declaração conjunta. Presidentes de Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru participaram da cúpula, enquanto Equador, Guiana, Suriname e Venezuela enviaram outras autoridades de alto escalão.
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, disse em uma coletiva de imprensa que a questão do desmatamento "de forma alguma, não vai separar a região", e citou que "no acordo final houve um entendimento sobre o desmatamento", sem dar mais detalhes.
A cúpula desta semana reuniu a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) pela primeira vez em 14 anos, com planos de chegar a um amplo acordo em questões que vão desde o combate ao desmatamento até o financiamento do desenvolvimento sustentável.
Mas as tensões surgiram antes da cúpula, em torno de posições divergentes sobre desmatamento e a exploração de petróleo na região.
Outros países amazônicos também rejeitaram a campanha do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, de esquerda, para acabar com a exploração de novos poços de petróleo na Amazônia. Em seu discurso na terça-feira, Petro comparou o desejo da esquerda de continuar perfurando petróleo à negação da ciência climática pela direita.
Petro disse que a ideia de fazer uma "transição energética" gradual, se afastando aos poucos dos combustíveis fósseis, é uma forma de atrasar o trabalho necessário para deter as mudanças climáticas.
O Brasil avalia se deve explorar uma descoberta de petróleo offshore potencialmente enorme perto da foz do rio Amazonas e da costa norte do país, dominada pela floresta tropical.
"O que se discute no Brasil é a pesquisa de uma grande e imensa área, na minha visão, talvez a última fronteira de óleo e gás... antes da consolidação da transição energética", disse o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, a jornalistas após o discurso de Petro.
Silveira disse que é preciso fazer uma pesquisa sobre o petróleo existente ali para tomar uma decisão sobre o assunto.
Além do desmatamento, a cúpula também não fixou um prazo para acabar com o garimpo ilegal de ouro, embora os líderes tenham concordado em cooperar na questão para combater melhor o crime ambiental transfronteiriço.
A declaração conjunta final, denominada Declaração de Belém, afirma fortemente os direitos e proteções indígenas, ao mesmo tempo em que concorda em colaborar na gestão de água, saúde, posições de negociação comuns nas cúpulas do clima, e desenvolvimento sustentável.
Como a Reuters noticiou anteriormente, a declaração também estabeleceu um corpo científico para se reunir anualmente e produzir relatórios oficiais sobre ciência relacionada à floresta amazônica, semelhante ao Painel Internacional das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.