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Brasil vai aderir a programa de investimento dos EUA que tenta frear influência chinesa na América Latina

10 mar 2020 - 21h56
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Na sequência da quarta viagem do presidente Jair Bolsonaro aos Estados Unidos, o Brasil fecha esta semana, em Washington, a adesão ao programa América Cresce, a iniciativa norte-americana de investimentos na América Latina que tenta se contrapor à Iniciativa Cinturão e Rota, da China, que vem ocupando cada vez mais espaço nas obras de infraestrutura na região.

05/08/2017
REUTERS/Paulo Whitaker
05/08/2017 REUTERS/Paulo Whitaker
Foto: Reuters

Lançada em dezembro do ano passado, a iniciativa envolve fundos que poderão financiar obras nas áreas de infraestrutura e energia para que empresas norte-americanas participem de licitações e voltem a entrar no mercado de grandes obras na região.

Não há ainda um orçamento anunciado pelo governo dos EUA para o programa, mas um dos fundos que estarão nesse bojo, o Corporação Internacional de Financiamento para o Desenvolvimento, criado em 2018 pelo governo de Donald Trump, tem um orçamento de 60 bilhões de dólares.

O governo norte-americano ainda colocará à disposição de suas empresas, além dos recursos, assistência técnica para elaboração de projetos e ajuda para que possam navegar as especificações legais e a burocracia dos países da região.

"Existe uma preocupação dos EUA em voltar a atuar nesse setor na região em que a China vem dominando nos últimos anos", disse à Reuters uma fonte que acompanha o processo de assinatura do acordo.

Os chineses têm despejado bilhões de dólares em projetos de infraestrutura em várias partes do mundo, e vem aumentando consistentemente sua participação na América Latina.

Os chineses colocaram 1 trilhão de dólares na iniciativa Cinturão e Rota e, na região, já tem parcerias assinadas com Chile, Jamaica, Panamá e Peru. Até agora, o Brasil não avançou, apesar da pressão chinesa.

Em maio do ano passado, quando o vice-presidente Hamilton Mourão visitou o país asiático, esse foi o assunto central da viagem. Em entrevista à Reuters, Mourão disse que o Brasil tem interesse em participar, mas desde que os projetos sejam feitos dentro das regras brasileiras --uma das questões, por exemplo, é a tendência dos chineses de importar de seu país todos os materiais e todos os trabalhadores para tocar as obras que eles financiam.

Enquanto os chineses crescem, a participação norte-americana nessa área no Brasil é ínfima. Nos últimos anos, o setor de infraestrutura tem cerca de 2% de participação norte-americana, enquanto a de países menores, como a Espanha, fica entre 15% e 20%.

A iniciativa dos EUA visa suprir um dos principais problemas para a entrada de suas empresas na região, que é a falta de um mecanismo de financiamento. "Esse é um setor muito alavancado pelo financiamento de governos", disse a fonte.

Os países que aderirem ao programa poderão também usar a assistência das agências para desenvolvimento de projetos e na área de compras governamentais.

Além de infraestrutura e energia, o acordo poderá servir para ajudar empresas norte-americanas entrarem na briga pela implantação da tecnologia 5G no Brasil, uma área onde hoje os chineses estão ganhando longe.

Os norte-americanos ainda não conseguiram entrar fortemente na disputa pela instalação de tecnologia 5G no mundo, em que os chineses têm hoje a presença mais forte. O governo dos EUA tem pressionado o Brasil para evitar a entrada da chinesa Huawei no leilão de 5G que o Brasil deve fazer no final deste ano --mas que pode ser adiado para 2021.

Até agora o governo brasileiro não admitiu qualquer tipo de veto à Huawei, que tem por trás o governo chinês e, com isso, oferece um pacote mais barato às operadoras brasileiras.

Com o financiamento do acordo América Cresce, as operadoras norte-americanas podem tentar se tornar competitivas na área.

Na região, Argentina, Chile, Jamaica e Panamá estão no América Cresce, com o Peru em processo de adesão.

O Brasil, assina o acordo esta semana, em Washington, possivelmente na quinta-feira, com a presença do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. O ministro da Economia, Paulo Guedes, desistiu da viagem e ficou no Brasil para cuidar de questões das reformas administrativa e tributária.

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