"Brasil vive uma tragédia", diz Felipe Neto em conferência da DW
Em debate sobre desinformação nas mídias sociais em evento internacional, youtuber condena governo Bolsonaro, critica falta de regulamentação na internet e pede que o mundo fique atento ao que ocorre no país.O youtuber e influenciador digital Felipe Neto disse que o Brasil vive uma "tragédia" nas mídias sociais devido às campanhas de desinformação que ele atribui sobretudo à falta de regulamentação e ao governo do presidente Jair Bolsonaro.
"É ultrajante e estamos vivendo uma guerra aqui. Por favor olhem para o Brasil, e falem sobre nós", apelou o brasileiro nesta terça-feira (15/06) em um debate no Global Media Forum, a maior conferência de mídia da Alemanha.
A 14ª edição do evento organizado pela DW é realizada de forma totalmente online, sob o lema "Disruption and Innovation" (ruptura e inovação), com debates e palestras sobre o papel do jornalismo na era de desinformação.
Fascismo e ultradireita
Felipe Neto participou do debate "Inventário de mídia social - conectando pessoas, dividindo sociedades?", sobre como a legislação pode ajudar a combater a desinformação nas redes sociais, e até que ponto essas leis podem acabar limitando a liberdade de expressão.
"Temos agora problemas em dezenas de países, que estão enfrentando fascismo, ultradireita; o conservadorismo está em alta", afirmou ele no evento, se referindo aos efeitos dos discursos de ódio propagados na internet. "Há violência, teorias de conspiração e ameaças no mundo inteiro. E tudo vem da falta de regulamentação", avalia.
"O que está acontecendo aqui no Brasil é algo muito absurdo", afirmou Neto, ao comentar as ondas de fake news nas mídias sociais brasileiras e falando sobre as dificuldades pessoais que enfrentou por causa delas. "O que sofri foi realmente muito duro, algo que não desejo para o meu pior inimigo. Fui associado com pedofilia, fui associado com corrupção de menores, e [isso] foi oficialmente, pela polícia. Fui enquadrado em crimes contra a segurança nacional", lembrou.
O youtuber foi acusado de ferir a Lei de Segurança Nacional ao chamar Bolsonaro de "genocida" em uma postagem em suas redes sociais. O caso partiu de uma queixa-crime apresentada por Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro e filho do presidente. Em março, a Justiça do Rio suspendeu a investigação.
"Governo de mentiras"
"Temos agora o presidente tentando passar um decreto para proibir que companhias apaguem conteúdo. Então, Facebook, Twitter, Instagram e YouTube não poderão apagar qualquer tipo de postagem, porque é isso que o governo brasileiro é agora. Eles vivem de fake news, eles vivem de mentir para as pessoas. O que tenho enfrentado e o que outras pessoas tem enfrentado é uma estratégia de mentiras", disse.
O influenciador digital criticou o decreto que o presidente Bolsonaro prepara para limitar a retirada de postagens e contas por parte das empresas de tecnologia. A medida visa impedir que as companhias de mídia social retirem postagens veiculadas em seus serviços quando julgarem que estas violam as políticas da empresa.
Ele se disse a favor de regras garantindo o direito à exclusão, pelas próprias empresas, não só de mensagens que incitem o ódio ou a violência, mas também aquelas com notícias comprovadamente falsas que causem prejuízo a pessoas ou à sociedade.
"E temos um presidente que está tentando ultrapassar os limites e tentando regular para o outro sentido, não proibindo fake news, mas incentivando-as, dizendo que não é ilegal e não deveria ser apagado", lamentou.
"Se você está num país como Alemanha, Estados Unidos, que são mais desenvolvidos, onde há mais informação, há mais educação, é um pouco mais fácil lidar com isso, embora seja também complicado. Mas aqui no Brasil estamos vivendo uma tragédia", criticou o youtuber.
Global Media Forum
O Global Media Forum ocorreu nestas segunda e terça-feira. Vários palestrantes de alto nível da Alemanha participaram do evento, incluindo a chanceler federal Angela Merkel e seus possíveis sucessores Armin Laschet, dos conservadores, e Annalena Baerbock, do Partido Verde.
Várias outras figuras renomadas, oriundas da sociedade civil, da cultura e do mundo acadêmico, foram convidadas, incluindo a CEO do Rappler, Maria Ressa, o historiador americano Timothy Snyder, o cientista cognitivo Steven Pinker e a Nobel da Paz Leymah Gbowee.