'Brasileiro teve sorte de sair vivo', ironiza Independent lembrando Jean Charles
Um artigo publicado no jornal britânico Independent desta quarta-feira afirma que o brasileiro David Miranda, que ficou detido em Londres no último domingo durante nove horas, teve sorte de voltar vivo para seu país.
O texto, assinado pelo comentarista político Matthew Norman, lembra a morte do eletricista Jean Charles de Menezes, em 2005, e diz que, há oito anos, brasileiros de passagem pela capital britânica eram vítimas de execuções "patrocinadas pelo Estado".
"Ainda não está claro se Miranda percebeu como a Polícia Metropolitana de Londres avançou nestes oito anos, desde que alvejou seu compatriota. O fato é que, até agora, o ingrato não agradeceu à polícia por tê-lo deixado voltar vivo para casa. Honestamente, algumas pessoas não têm ideia de como têm sorte", ironiza Norman.
O comentarista qualifica como "desgraça" o fato de que os agentes de segurança tenham detido e interrogado de maneira "cretina" um estrangeiro que não era suspeito de terrorismo.
Tirar o chapéu
O texto diz que a "aplicação cínica" da Lei Antiterror de 2000 teve o objetivo de amedrontar o companheiro de Miranda, o jornalista do jornal The Guardian Glenn Greenwald, e outros jornalistas que desejam exercer sua profissão e o direito democrático de reportar.
Ainda na avaliação de Norman, a detenção do brasileiro provocará um resultado completamente oposto ao desejado pela polícia. "A partir de agora, Greenwald vai publicar reportagens de forma muito mais agressiva e devemos tirar o chapéu para ele por isso".
"Se há algo que os jornalistas gostam, além de serem martirizados diante dos olhos do mundo, é serem desafiados frontalmente sobre o exercício legal de sua profissão".
Espionagem americana no Brasil
Matéria do jornal O Globo de 6 de julho denunciou que brasileiros, pessoas em trânsito pelo Brasil e também empresas podem ter sido espionados pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (National Security Agency - NSA, na sigla em inglês), que virou alvo de polêmicas após denúncias do ex-técnico da inteligência americana Edward Snowden. A NSA teria utilizado um programa chamado Fairview, em parceria com uma empresa de telefonia americana, que fornece dados de redes de comunicação ao governo do país. Com relações comerciais com empresas de diversos países, a empresa oferece também informações sobre usuários de redes de comunicação de outras nações, ampliando o alcance da espionagem da inteligência do governo dos EUA.
Ainda segundo o jornal, uma das estações de espionagem utilizadas por agentes da NSA, em parceria com a Agência Central de Inteligência (CIA) funcionou em Brasília, pelo menos até 2002. Outros documentos apontam que escritórios da Embaixada do Brasil em Washington e da missão brasileira nas Nações Unidas, em Nova York, teriam sido alvos da agência.
Logo após a denúncia, a diplomacia brasileira cobrou explicações do governo americano. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou que o País reagiu com “preocupação” ao caso.
O embaixador dos Estados Unidos, Thomas Shannon negou que o governo americano colete dados em território brasileiro e afirmou também que não houve a cooperação de empresas brasileiras com o serviço secreto americano.
Por conta do caso, o governo brasileiro determinou que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) verifique se empresas de telecomunicações sediadas no País violaram o sigilo de dados e de comunicação telefônica. A Polícia Federal também instaurou inquérito para apurar as informações sobre o caso.
Após as revelações, a ministra responsável pela articulação política do governo, Ideli Salvatti (Relações Institucionais), afirmou que vai pedir urgência na aprovação do marco civil da internet. O projeto tramita no Congresso Nacional desde 2011 e hoje está em apreciação pela Câmara dos Deputados.