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Brasileiros mortos em incêndio em Londres receberam instruções erradas

Seis pessoas morreram em incêndio ocorrido em julho de 2009

29 mar 2013 - 08h43
(atualizado às 09h07)
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A família do brasileiro Rafael Cervi, o marido de Dayana e pai de Thais e Felipe, todos mortos no incêndio. Foto de arquivo pessoal
Foto: BBC News Brasil

O inquérito que investiga um incêndio que matou seis pessoas - entre elas uma família de brasileiros - em um conjunto habitacional no sudeste de Londres, apurou que a tragédia poderia ter sido evitada se a subprefeitura tivesse realizado inspeções no local e se os serviços de emergência tivessem instruído as vítimas a deixar os seus apartamentos.

Dayana Francisquini, 26 anos, e seus filhos, Thais, e Felipe, ambos de três anos, morreram no incêndio, ocorrido em julho de 2009 no bairro de Camberwell. Entre as vítimas também estiveram Helen Udoaka, 34 anos, sua filha de 3 anos, Michelle, e Catherine Hickman, 30 anos. Todos viviam no 11º andar do edifício.

O incêndio teve início no apartamento 65, no 9º andar do edifício Lakanal House, às 16h15 do dia 3 de julho de 2009. Em questão de cinco minutos, as chamas começaram a se propagar para o apartamento diretamente acima, o 79. Catherine Hickman, a moradora do apartamento, ligou para o serviço de emergência. A instrução que ela recebeu foi a de permanecer dentro de sua moradia.

Mas após alguns minutos, durante a conversa telefônica com a atendente do serviço de emergência ela comentou: ''Oh, meu Deus! Não, escute, eu estou vendo chamas na porta''. Pouco depois, ela gritou: ''Alguma coisa quente caiu sobre mim.'' Ela permaneceu no telefone com a operadora por mais 28 minutos, até que parou subitamente de se comunicar.

O júri que conduziu o inquérito disse que os serviços de atendimento da London Fire Brigade (LFB, sigla em inglês do serviço de bombeiros de Londres) deveriam ter instruído Dayana e suas crianças a deixar seu apartamento assim que ficou claro que ele estava cheio de fumaça.

Serviços de emergência

O inquérito apurou que o incêndio se propagou com rapidez e de forma rápida. Cerca de meia hora após a primeira chamada para o serviço de emergência, ele havia se espalhado para outros andares, para baixo e para cima, algo tão pouco comum que as operadoras dos serviços de emergência se recusavam a acreditar no que estava sendo descrito - segundo as transcrições das conversas.

Mbet Udoaka, marido de Helen Udoaka e pai de Michelle, mortas na tragédia, afirma que as recomendações dos serviços de emergência para que os moradores não saíssem do prédio contribuíram para suas mortes. ''Todo mundo que tentou sair do prédio, saiu vivo. Mas se você diz para alguém ficar onde está, isso significa que você está dizendo para a pessoa esperar até a hora que ela irá morrer'', disse ele à BBC.

A mulher e a filha de Mbet Udoaka chegaram a se refugiar no apartamento vizinho, de número 80, quando a fumaça e as chamas começaram a se espalhar também para seu apartamento. Mas o mesmo ocorreu no apartamento do lado. Foi então que as duas famílias buscaram refúgio em outra residência, o 81, onde morava a brasileira Dayana Francisquini e seus dois filhos.

Uma vez tendo chegado ao edifício, os bombeiros, sem possuir um mapa do edifício e contando com escasso equipamento de comunicação, tiveram dificuldades para chegar até o apartamento 81.

Contrariando as recomendações dos serviços de emergência, uma das famílias decidiu abandonar o apartamento e acabou sendo resgatada após ter chegado ao corredor externo do prédio. Mas a mulher e a filha de Mbet Udoaka e a brasileira Dayana Francisquini atenderam as recomendações dos serviços de emergência e permaneceram no apartamento 81.

Às 18h, 1h40 minutos após terem chegado ao local, os bombeiros finalmente conseguiram alcançar o apartamento 81, mas todas as cinco pessoas que ainda se encontravam lá estavam mortas.

Segundo o repórter da BBC Kurt Barling, uma das verdadeiras tragédias do incêndio, que veio à tona durante o inquérito, foi que os bombeiros não perceberam que a corredor externo compartilhado pelos diferentes apartamentos representava, na verdade, uma rota de emergência, já que havia uma saída de incêndio ao final do corredor, que conduzia à escadaria central do prédio. Mas, afirma Barling, nem eles nem as cinco pessoas que permaneceram no apartamento 81 sabiam disso.

"Fazer a diferença"

Rafael Cervi, o marido da brasileira Dayana e pai de Thais e Felipe, que morreram no incêndio, espera que as conclusões do inquérito possam ajudar outras pessoas. ''Perdi minha família, eles não irão voltar, mas quero que pelo menos o caso deles possa fazer a diferença e ajudar outras pessoas que passam por esse tipo de situação'', disse ele à BBC.

O júri apurou que a subprefeitura de Southwark, responsável pelo prédio, deixou de realizar uma inspeção anti-incêndio adequada que poderia ter detectado a necessidade de extintores entre os apartamentos e atualizado as plantas com rotas de emergência dos conjuntos habitacionais. O inquérito também levantou que os painéis de janela de PVC dos diferentes apartamentos queimavam em menos de cinco minutos, o que acelerou a propagação do incêndio.

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