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Brumadinho: 'Após 72h, será um milagre' achar alguém vivo, diz especialista sobre resgate de vítimas

O engenheiro e geógrafo Moacyr Duarte explica que a enxurrada de lama reduz drasticamente as chances de alguém sobreviver

28 jan 2019 - 16h04
(atualizado às 16h18)
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Três dias após o rompimento da barragem da Vale na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, ao menos 292 pessoas ainda estão desaparecidas - e 60 corpos foram resgatados até agora. O engenheiro e geógrafo Moacyr Duarte, consultor de análise de riscos e planejamento de emergências, avalia que as chances de ainda se achar alguém com vida sob a lama espessa é "quase zero".

"Depois de 72h, estamos no terreno do milagre. Se encontrarem alguma coisa, serão apenas mais corpos", afirma Duarte à BBC News Brasil.

Lama reduz drasticamente as chances de alguém sobreviver e dificulta bastante o trabalho de equipes de emergência
Lama reduz drasticamente as chances de alguém sobreviver e dificulta bastante o trabalho de equipes de emergência
Foto: AFP / BBC News Brasil

Doutor pela Coppe/UFRJ, ele explica que o fato de a tragédia ter sido causada por uma enxurrada de lama reduz drasticamente a probabilidade de sobrevivência.

"Em uma situação como essa, o corpo humano é arrastado e colide com tudo que passa por ele. Não há condição de reação", diz.

'Sepultamento natural'

Em terremotos ou deslizamentos de terra e rochas, como o ocorrido em 2010 no Morro do Bumba, em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, o solo pode ser barrado por obstáculos, como paredes e vigas, criando bolsões em meios aos escombros onde uma pessoa pode sobreviver.

Em Brumadinho - e também em Mariana, há três anos -, a enxurrada de lama torna este cenário improvável, diz Duarte, porque a lama mole "se comporta como água" e preenche completamente todos os cômodos de casas e outras construções em seu caminho.

Há locais em que a camada de lama chega a 15 metros de profundidade
Há locais em que a camada de lama chega a 15 metros de profundidade
Foto: EPA / BBC News Brasil

Um relevo como a região da barragem mineira torna a situação ainda mais crítica, diz o engenheiro, porque a lama preenche os vales e calhas dos rios.

"Onde não há obstáculos, a lama se espalha por todos os lados, mas ali a camada de sedimentos fica bem alta. Quem foi resgatado estava na franja da enxurrada ou ficou perto da superfície. No nível do chão, não tem chance de sobrevida."

Militares israelenses ajudam nas buscas

A lama mole ainda cria outro problema para as equipes de resgate. Esse material não tem "capacidade de carga", ou seja, não suporta o peso de uma pessoa para que ela possa caminhar sobre a área atingida. Quem busca por sobreviventes ou corpos pode afundar.

Os bombeiros precisam, então, distribuir seu peso sobre a superfície, ao se deitar como se estivessem nadando. Ao mesmo tempo, para retirar alguém da lama, são necessárias duas ou três pessoas, de acordo com o peso da vítima. Caso contrário, tanto o profissional quanto a vítima podem submergir.

'Se encontrarem alguma coisa, serão apenas mais corpos', avalia Moacyr Duarte
'Se encontrarem alguma coisa, serão apenas mais corpos', avalia Moacyr Duarte
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Outro obstáculo para encontrar vítimas é que a lama cria uma superfície homogênea. "Não dá para saber onde estava uma praça, uma casa. Às vezes, o que restou de uma construção serve de referência, mas, em grandes espaços públicos, fica tudo igual", diz o engenheiro.

Mais de 130 militares de Israel chegaram nesta segunda-feira à Brumadinho para auxiliar nas buscas. De acordo com autoridades, em um primeiro momento, o esforço será para encontrar sobreviventes, principalmente na área administrativa da Vale no local da barragem.

Serão usados equipamentos para identificar sinais de celulares a até quatro metros de profundidade e ativar o GPS dos aparelhos. A camada de lama em Brumadinho chega a ter 15 metros de profundidade.

Também serão empregados sonares para identificar sob a lama materiais de composição e densidade diferentes a até três metros sob o solo, de acordo com o jornal Folha de S. Paulo. Questionado pela BBC News Brasil sobre a profundidade que os aparelhos alcançam, o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais disse ainda não ter esta informação.

Com o passar do tempo, a água escoa, e a lama endurece. "Precisa usar uma escavadeira" para achar as vítimas, afirma Duarte.

"A escavadeira remove lentamente a terra, mas deve ser usada com cuidado, porque corta o que está embaixo [da lama]. Quando chegar perto, é possível usar outras técnicas, como escavação manual ou com pás."

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