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Casos de coronavírus aceleram e Brasil chega a 2º milhão em menos de um mês

16 jul 2020 - 13h09
(atualizado às 13h18)
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Uma explosão de infecções nos Estados do Sul e do Centro-Oeste colocou o Brasil a caminho de acumular o segundo milhão de casos de Covid-19 em menos de um mês, em um rápido avanço da doença marcado por um alarmante patamar de mortes equivalente a seis acidentes de avião em média a cada dia.

Operários preparam covas em cemitério de Taguatinga, em Brasília, durante a pandemia de Covid-19
16/07/2020
REUTERS/Ueslei Marcelino
Operários preparam covas em cemitério de Taguatinga, em Brasília, durante a pandemia de Covid-19 16/07/2020 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

Depois de levar quase quatro meses para atingir o primeiro milhão de casos de coronavírus --da primeira infecção, confirmada em 26 de fevereiro, até 19 de junho--, o Brasil deve passar dos 2 milhões em apenas mais 27 dias, caso registre ao menos 33.252 casos nesta quinta-feira, conforme esperado.

Junto com o avanço dos casos pelo país, veio um novo platô superior a 1 mil mortes registradas por dia em média, que ocorre desde o princípio de junho. Com isso, o Brasil passou dos 75 mil óbitos em decorrência da Covid-19, com a taxa de mortalidade indo de 103 por 1 milhão de habitantes em meados de maio para 359 por 1 milhão atualmente.

"Como a epidemia se distribui desigualmente no espaço geográfico, o número de casos no Brasil está alto e estamos em um platô no número de mortos elevadíssimo, de mais de 1 mil mortes por dia, e isso nos preocupa muito", disse Roberto Medronho, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio e Janeiro (UFRJ) e líder do Grupo de Trabalho Multidisciplinar para Enfrentamento da Covid-19 da UFRJ.

"Na verdade, nós temos em torno de 5 a 6 aviões caindo por dia, e o que eu vejo é uma fila enorme de pessoas querendo viajar nesses aviões", acrescentou, lembrando as cenas de aglomerações de pessoas em bares no Rio de Janeiro após a reabertura.

Ao mesmo tempo que atinge a triste marca de 2 milhões de casos, o Brasil segue há mais de dois meses com um ministro interino da Saúde, o general Eduardo Pazuello, depois de dois titulares da pasta deixarem o governo por discordâncias com a política do presidente Jair Bolsonaro para lidar com a doença.

"O governo manteve a postura dele apesar da crise sanitária, pensou mais no dinheiro das pessoas que o financiam do que na saúde do próprio povo... Também zomba da doença, não acredita, acha que o isolamento social --que é a medida mais eficaz de conter o avanço da doença-- zomba dessa questão também, acha que tem que estar todo mundo na rua", afirmou o gerente de loja Rafael Reis, que perdeu a mãe, de 71 anos, vítima da doença no Rio de Janeiro.

"Não que a gente esteja pronto para isso em algum momento da vida, mas ser dessa forma, com a Covid levando a minha mãe, foi muito, muito dolorido", acrescentou Rafael Reis, de 34 anos.

Bolsonaro, que na semana passada anunciou ter testado positivo para a Covid-19, desde o princípio minimizou a pandemia, chegando a chamar a doença de "gripezinha", e sempre foi crítico às medidas de isolamento defendidas por especialistas para conter a circulação do vírus, alegando que o impacto econômico seria pior do que a própria doença.

Questionado no final de abril sobre as mortes em decorrência da Covid-19, após o Brasil ultrapassar o total de óbitos da China, o presidente respondeu: "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?" -- apesar do desespero das famílias que perdem seus entes queridos.

"AINDA NÃO ATINGIMOS O PICO"

A aceleração da pandemia no Brasil se deu em meio ao avanço da doença respiratória provocada pelo novo coronavírus para localidades que não sofreram os piores impactos da epidemia nos primeiros meses, uma vez que a Covid-19 chegou ao Brasil pelos principais aeroportos internacionais.

Estados como Goiás, Rio Grande do Sul e Paraná pouco contribuíram para o 1 milhão de casos no país, mas se tornaram locais de grande aceleração da doença recentemente, levando o Brasil nas últimas duas semanas epidemiológicas a registrar seus números mais altos de casos.

Na semana epidemiológica encerrada em 20 de junho, quando o Brasil atingiu seu primeiro milhão, a Região Sul havia registrado 12.752 casos, e a Centro-Oeste, 22.412. Em comparação, na semana encerrada no último sábado, o Sul teve 27.426 novos casos, e o Centro-Oeste, 30.541.

Uma vez que as quedas vistas em Estados mais afetados

inicialmente, como Rio de Janeiro e Ceará, não foram o bastante para compensar as altas no demais lugares, o Brasil como um todo passou de 217.065 casos na semana epidemiológica 25 para mais de 260 mil nas duas últimas semanas.

No total, o Brasil registrou na última semana epidemiológica aumento de casos em 9 unidades da federação, com estabilização em 8 e redução em 10, na comparação com a semana anterior.

"A doença evolui não apenas no tempo, mas também no espaço geográfico", disse Medronho. "Nós ainda não atingimos o pico no Brasil por conta desses sucessivos processos epidêmicos que estão ocorrendo nas diversas regiões geográficas do nosso país."

O Brasil é o segundo país mais afetado pela pandemia de Covid-19 em números de casos e de óbitos, atrás apenas dos Estados Unidos, que atualmente vivem um forte ressurgimento dos casos --provocado pela reabertura dos negócios em diversos Estados-- depois de algumas semanas de declínio.

Nos EUA, a passagem de 1 milhão para 2 milhões levou 43 dias, sendo portanto mais longa que os 27 dias no Brasil, caso a cifra se confirme nesta quinta-feira. Os Estados Unidos atualmente já superaram os 3 milhões, levando exatamente 27 dias para acumular o terceiro milhão.

Assim como nos EUA, a reabertura precipitada das atividades econômicas, ou seja, antes de se conseguir controlar a disseminação do coronavírus, também teve impacto na alta de casos no Brasil. Na capital Brasília, por exemplo, especialistas apontaram que uma recente explosão de casos foi claramente motivada por uma reabertura prematura.

Segundo Medronho, o próximo milhão de casos no Brasil não deve ser tão rápido quanto o último, uma vez que a epidemia já chegou com força aos locais mais populosos do país e a tendência é que perca força conforme mais pessoas entram em contato com a doença.

"A previsão é que no final de julho ou entre a primeira e segunda semana de agosto os números comecem a se reduzir", afirmou.

"Nós já estamos atingindo grande parte da população, então nós tivemos essa alta elevada e agora a tendência da curva é crescer mais lentamente, e logo em seguida, em agosto, cair. O número de pessoas ainda suscetíveis tem diminuído muito na população."

Para Wanderson Oliveira, ex-secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, a mudança do foco da pandemia para os Estados do Sul pode ter desfecho preocupante devido à faixa etária elevada dos moradores da região, principalmente nas cidades do interior.

"Eu vejo que o vírus está se espalhando com maior velocidade entre os jovens e para o interior, e o reflexo disso para mortalidade em uma região em que a longevidade é maior que a média nacional a gente só vai perceber lá para agosto. Isso precisa ser monitorado, é o que me preocupa no Sul, essa relação do interior com uma população de mais idade. Com o frio, a umidade, tem tudo para explodir."

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