5 Estados registraram um caso de violência a cada meia hora
Trabalho da Rede de Observatórios da Violência também aponta nº grande de operações policiais no Rio
Um evento violento aconteceu a cada 33 minutos em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Ceará, de junho de 2019 a maio de 2021. A constatação é do relatório A Vida Resiste: Além dos Dados da Violência, da Rede de Observatórios de Segurança, lançado nesta quinta-feira, 22. Foram roubos, feminicídios, ataques contra lojas, uso excessivo da força pela Polícia, linchamentos, episódios de racismo e outros.
O trabalho mostrou também, nos cinco Estados, a liderança paulista em números absolutos de casos de violência contra a mulher (1375) e de saques contra o comércio (267). No Rio, só em 2021, houve em média oito operações policiais por dia, apesar das restrições impostas pelo Supremo Tribunal Federal para ações em favelas. O estudo, porém, não separa as incursões em comunidades, que são maioria, das demais.
O relatório usa dados compilados nos últimos dois anos nos cinco Estados. Segundo os responsáveis pelo estudo, entre junho de 2019 e maio deste ano foram identificados 31.535 eventos violentos no universo pesquisado. Mais da metade - 18.037 registros - ocorreram em ações policiais.
Apenas no Rio, foram 5.617 ações da polícia, com 856 mortes e 727 feridos. Os dados são compilados com base em informações publicadas diariamente em dezenas de veículos de imprensa e nas redes sociais. Segundo a Rede, houve dificuldades para conseguir informações oficiais e transparentes sobre criminalidade e violência.
"A Rede é exatamente a experiência de não depender dos números públicos", disse a cientista social Silvia Ramos, coordenadora da Rede de Observatórios da Segurança. "Buscamos os números e nosso monitoramento acompanhando diariamente o que é publicado nos meios de comunicação, nas redes sociais, sites e em grupos de WhatsApp e Telegram. A gente não depende dos números oficiais. Produzimos números independentes que, junto com os oficiais, podem nos ajudar a entender o que está acontecendo. Em outras pesquisas que fizemos estamos percebendo que acesso a dados públicos pioraram muito", afirma.
O grupo monitora 16 indicadores. Apesar de ações policiais e eventos com armas de fogo ocuparem a maior parte do noticiário policial, outros tipos de violência também são considerados.
Período registrou 130 assassinatos de policiais, menos da metade em serviço
A Rede apontou ainda que em dois anos 388 policiais no Estado do Rio foram mortos ou feridos - 130 morreram. Mais da metade deles não estava em serviço no momento do crime. No Nordeste, os registros de ações policiais em Pernambuco dobraram do primeiro para o segundo ano.
Ainda assim, a Bahia foi o Estado que teve o maior número de mortes em operações (461). O Estado também lidera em número de chacinas na região, com 74 casos. Considerando todos os Estados analisados pela Rede, a Bahia fica atrás apenas do Rio, que registrou 92 chacinas.
"Saques são um tipo de dinâmica criminal muito raro no Brasil", disse Silvia Ramos. "Criamos esse indicador por causa da pandemia, mas o número que observamos foi muito pequeno e basicamente concentrado em São Paulo. São números irrelevantes perto dos nossos números de cerca de 30 mil eventos de violência em dois anos. Essa diferença em relação à expectativa que se teve dentro do pior período da pandemia se deveu às milhares e milhares de ações locais, de grupos comunitários, de doação de cestas básicas e de materiais de higiene, com a participação de grandes empresas ou mesmo de ações de comerciantes locais."
SP liderou em números de saques contra o comércio; pandemia é possível causa
Segundo o monitoramento, o período analisado registrou 280 casos de saque contra o comércio - 267 em São Paulo. No Estado, foram 29 casos na capital, 16 no restante da região metropolitana e 222 no interior.Considerando apenas as capitais, São Paulo também lidera. Os pesquisadores incluíram esse indicador no estudo por causa da ´pandemia de covid-19. A crise econômica causada pela doença, que fechou empresas e aumentou a pobreza, é possível causa desses ataques.
Os pesquisadores consideram que os números levantados podem ser comparados entre os diferentes estados. A metodologia usada é a mesma, com dezenas de fontes de consulta sendo analisadas todos os dias. A partir de agosto, a Rede vai incorporar mais duas unidades da Federação: Maranhão e Piauí.