‘A gente está muito transtornado’, diz mãe de bebê sequestrada por médica em MG
Bebê foi sequestrada pela neurologista Claudia Soares Alves, que está presa; caso segue em investigação
A família da pequena Isabela tenta se recuperar do trauma vivido no último dia 23, quando a bebê foi sequestrada pela médica Claudia Soares Alves, na maternidade do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), em Minas Gerais. A suspeita foi presa e ficou cerca de 12 horas com a menina.
Ao Fantástico, da TV Globo, a mãe da recém-nascida, Natália, contou sobre os momentos de tensão vividos no dia do crime. "Meu esposo ficava assim 'e agora, como eu vou falar para minha filha que não tem mais Isabela?' Ela escolheu o nome dela, inclusive", relata ao lembrar da ansiedade da irmã da pequena.
Cláudia chegou a UFU de carro e utilizando sua posição como professora concursada da unidade, ela se passou por pediatra, às 23h30 de terça-feira, 23, retirando a criança dos pais sob o pretexto de providenciar alimentação (leite materno do hospital).
"A médica entra no primeiro quarto, onde tem dois meninos recém-nascidos. Entra no segundo quarto, que tem um menino e a Isabela. Ela estava à procura de uma menina, e essa menina não necessariamente seria a Isabela", explicou o delegado-chefe de Uberlândia, Marcos Tadeu de Brito Brandão.
No local, ela pergunta se os pais precisam de alguma coisa. “Como a minha menininha já estava com fome e, ela não estava pegando o peito ainda, aproveitei e falei se ela pudesse trazer a fórmula no copinho. Foi a brecha que ela precisava", disse Edison Ferreira Leandro Júnior, pai da Isabela.
"Ele entregou ela nas mãos dela. Ele está bastante abalado, eu também", confirma a mãe.
Segundo a reportagem, após tirar a bebê do quarto, a médica a levou para a sala de prescrição obstétrica, onde não há câmeras, e provavelmente, Cláudia sabia disso. A suspeita é de que a médica colocou a recém-nascida dentro da mochila e depois saiu. Mas antes de deixar a unidade, ela ainda passou no quarto dos pais de Isabela.
"Ela voltou sem a menina só falou para mim: 'espera só um minutinho que a enfermeira já está trazendo ela para você, ela tá dando leite lá e já está trazendo'", relembra o pai. A menina não voltou e a família passou a ficar desesperada, momento em que comunicou a equipe do hospital, que passou a procurar pela menina.
"Eu encontrei um pai totalmente desolado, assustado, diante de uma crueldade imensa, de terem retirado o bebê dos braços deles e passado na frente dele com a bebê escondida. A mãe ficou muito abalada, mas ela é uma mulher de muita força e muita fé. Na mesma hora, passado o desespero inicial, ela falou para mim: Doutora, vão achar meu nenê", diz Daniela Mota Ferreira, chefe da UTI Neonatal do Hospital das Clínicas (UFU).
O sequestro
A reportagem revelou que Cláudia ficou na unidade por 38 minutos e quando saiu, voltou ao seu carro e fugiu com a bebê na mochila. As câmeras de segurança flagraram toda a cena.
A médica, que tem 42 anos, é divorciada e tem um filho adolescente. Ela faz doutorado na Universidade Federal de Uberlândia e passou em primeiro lugar em concurso público para ser professora de medicina do local. Desde maio, ela dava aula e tinha livre acesso ao hospital, já que era docente.
"Ela estava há pouco tempo na nossa universidade, mas nesse tempo, não há registro prévio de nenhuma situação anormal", esclarece Carlos Henrique Martins, vice-reitor da UFU.
A suspeita mora em Itumbiara, a cerca de 135 km do local do sequestro, para onde levou a vítima. A polícia conseguiu chegar até lá com a ajuda de imagens de câmeras de segurança das praças de pedágio, após 12 horas do crime. Com a bebê no banco de trás do carro, a médica teria passado por duas rodovias federais durante a fuga, em uma viagem noturna que durou cerca de 1h30.
"A testemunha que nós ouvimos, que é empregada doméstica e trabalhava para ela, disse que recebeu mensagens da Claudia dizendo que estava grávida. Aqui na delegacia ela insistiu em dizer que estava grávida. Levamos até um hospital daqui da nossa cidade, lá ela foi examinada por um médico ginecologista que, inicialmente, por meio de ultrassom, descartou a gravidez", afirmou o delegado de Itumbiara, Anderson Pelágio.
Para a polícia, ela agiu sozinha e o crime foi premeditado. "Já havia um enxoval pronto para menina e isso demonstra que ela estava à procura de recém-nascida do sexo feminino", diz Brandão.
Viagens antes do crime e defesa
Segundo a investigação, no dia 13 de julho ela saiu de Itumbiara para viajar de carro. Passou pelo Distrito Federal, e foi em direção a Salvador (BA), onde ficou de 15 a 21 de julho. Depois foi para Uberlândia, e no dia 23 de julho sequestrou a bebê.
"Essa trajetória por vários estados pode trazer outras linhas de investigação e isso é muito importante para a gente saber a motivação do crime", reforça Tiago Queiroz, superintendente da PRF/GO.
Ao Fantástico, o advogado de Cláudia disse que irá demonstrar na Justiça que a acusada é portadora de transtorno afetivo bipolar e que no momento dos fatos, se encontrava em crise psicótica, “não tendo capacidade de discernir a natureza ilícita de suas atitudes”.
O advogado também enviou um relatório médico, que não possui assinatura e não tem o nome de nenhum médico. O documento diz que Claudia Soares Alves está em tratamento psiquiátrico desde o dia 22 de março de 2022, e que a última consulta foi realizada em 6 de dezembro de 2023. Além disso, o relatório diz que por causa do transtorno afetivo bipolar ela apresenta crises recorrentes.
"Se fosse um surto, ela não teria adquirido todo esse enxoval, depois viajado para a Bahia. Nós temos demonstrado já que ela esteve em um shopping em Salvador, dias antes do evento, e ela veio para cá. Não tem como uma pessoa estar em surto esse tempo todo", declarou o delegado Brandão.
Após o episódio, o hospital reforçou a segurança do local, que agora inclui revista dos funcionários. Natália teve alta hospitalar no ultimo dia 26, e agora, a família pode enfim curtir Isabela.
"Sentimento de gratidão, de que Deus não abandona os seus filhos. A gente está muito transtornado. A gente não dorme, meu esposo passou a noite inteira com ela no colo. [Vamos] Viver esse momento, porque tem a recuperação da cesária e recuperar o psicológico, e a gente vai seguir em frente", finalizou a mãe.