Após perder 3ª casa em incêndio, homem busca recomeço
Nove horas depois dos bombeiros conseguirem controlar o incêndio que destruiu 80% da Favela do Buraco Quente, na zona sul de São Paulo, o pedreiro Josimar Alencar ainda tentava “salvar” algum utensílio de seu barraco na manhã desta segunda-feira. Pela terceira vez em seus 33 anos de vida, o baiano revirava pedaços de madeira queimada em busca de roupas e documentos, já que seu barraco foi atingido em outros dois incêndios, em 2006 e 2012.
Localizada na avenida Jornalista Roberto Marinho, no Campo Belo, à beira das obras do monotrilho, a comunidade sofreu com um incêndio de grandes proporções que foi controlado por volta de meia-noite. Pelo menos 37 viaturas do Corpo de Bombeiros participaram do combate às chamas. Cinco pessoas sofreram ferimentos leves e pelo menos 600 famílias foram afetadas. As causas do incêndio ainda serão investigadas, mas segundo algumas testemunhas tudo pode ter começado após um curto-circuito.
“Em 2006 e 2012 foi a mesma situação. Só queremos do governo uma coisa: uma oportunidade de ter uma moradia e poder pagar isso. Não queremos de graça. Eles urbanizam vários lugares, ajudam as pessoas e aqui nada. Passamos por isso em 2006, quando fiquei 30 dias na rua até refazer tudo. Foi passando o tempo e vieram aqui, fizeram um cadastro em 2010 e não deu em nada. Em 2012 infelizmente aconteceu de novo, passamos outros 20 dias aqui na calçada, com crianças. O tempo passou e o cadastro foi feito de novo e nós refizemos nossa casa, porque não posso ficar com criança na rua”, afirmou Josimar.
Indignado com a situação, Josimar agora conta com a ajuda de amigos que parentes. O pedreiro, sua mulher e três filhos (15 anos, 9 anos e 1 ano) perderam tudo no incêndio de domingo. “Eu estava trabalhando e ia a caminho de casa, quando me ligaram. Mas quando cheguei o meu barraco já estava acabado. Graças a deus que ninguém se feriu. Perdi tudo. O que o pessoal conseguiu salvar foram algumas peças de roupa, mas nem documento conseguimos salvar”.
Josimar calcula um prejuízo de R$ 20 mil, entre móveis, eletrodomésticos e a estrutura do barraco. O baiano confessou que apesar de já ter sofrido a mesma situação outras duas vezes, desta vez está com medo.
“O pior incêndio foi esse. Por volta das 20h30 o incêndio começou bem no eixo da favela, num ponto bem difícil. Não teve como o pessoal conseguir apagar e foi bem no dia que faltou água por causa do racionamento. Se alastrou pelos quatro cantos da favela e quando o bombeiro chegou já era tarde demais. Agora estou na casa de uns parentes meus. Mas vai acontecer a mesma coisa que 2012. Vão vir com o cadastro e a gente vai e refaz de novo. Mas tenho muito medo porque e se eu perder de novo? Minha esposa só chora”, lamentou.
De acordo com alguns bombeiros, o incêndio se alastrou porque alguns moradores impediram que os oficias trabalhassem, inclusive apedrejando viaturas. Porém, segundo Josimar os membros da comunidade pediam justamente o contrário. “Os moradores alegaram que os bombeiros chegaram tarde e não quiseram apagar. Eles não quiseram entrar na favela porque o incêndio era do centro dela. Ficaram olhando, jogavam uma mangueira de água e tiravam uma foto. O pessoal queria força-los a apagar. Queriam que entrassem e combatessem as chamas”, reclamou.
Ainda sem saber o que fazer e esperando os assistentes sociais perto de seu barraco, Josimar não vê perspectiva de melhora e de resolução. “Infelizmente só pedimos isso, uma oportunidade de a gente poder colocar a mão numa moradia, ter o prazer de pagar uma conta de água, uma conta de luz e pagar pela moradia. Hoje em dia você vai comprar um terreno que é um absurdo de caro. Se eles não tomarem nenhuma providência séria, vai acontecer a mesma coisa, vamos construir aqui de novo”.