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Prefeito do RJ: arrastão não é problema social; é de polícia

22 set 2015 - 19h46
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Foto: Beth Santos/ PCRJ

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, declarou hoje (22) que não considera os incidentes de violência ocorridos neste fim de semana na orla de Ipanema, zona sul, como os arrastões contra banhistas, um problema social e, sim, caso de polícia: "Não vamos tratar marginais e delinquentes como problema social. Precisamos de forças de segurança impondo a ordem".

O prefeito falou sobre o problema em entrevista coletiva, um dia depois das declarações do Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Mariano Beltrame, ontem (21), quando argumentou que outross etoress devem atuar mais efetivamente na prevenção de crimes cometidos por adolescentes, como a secretaria de Segurança Municipal de Segurança Social.

Segundo o prefeito, dizer que arrastões e assaltos nas praias, praticados por adolescentes das periferias, são reflexo da injustiça social, é uma postura desrespeitosa para com as pessoas mais pobres. “Essas mesmas pessoas, em situação de injustiça social, existem em outras cidades do Brasil, mas não vemos essas cenas de violência e vandalismo na praia da Boa Viagem, em Recife, por exemplo, ou na Avenida Paulista, nos dias de lazer",afirmou Paes, ao atribuir os atos de violência durente o fim de semanaà falta de autoridade.

“Uma coisa é a gente ver isso acontecer em certas áreas da cidade, dos “chapadões” da vida. Agora, a falta de autoridade está se tornando tanta que o sujeito vai para a praia de Ipanema. É preciso autoridade”, declarou o prefeito.

Segundo Paes, a Secretaria de Segurança Social continuará atuando, como já atua, no acolhimento de menores de idade e posterior acompanhamento, nos casos específicos em que fique configurada a situação de vulnerabilidade social. Já o efetivo de guardas municipais vai aumentar na orla a partir do próximo fim de semana para complementar o trabalho da Polícia Militar.

No verão passado, 730 crianças e adolescentes recolhidos pela Polícia Militar foram acolhidos pela a Assistência Social do município. Nenhum deles havia praticado ato delituoso e 90% estavam matriculados na escola, segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Social, Adilson Pires.

Foto: Beth Santos/ PCRJ

Para o prefeito, os meninos que fizeram arrastões e assaltaram as pessoas na praia são tão delinquentes quanto os grupos de justiceiros da Zona Sul que atacaram ônibus com passageiros de áreas distantes, e devem ser combatidos.

No dia 10 de setembro, o juiz Pedro Henrique Alves, titular da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso, decidiu que a Polícia Militar não pode apreender crianças e adolescentes sem a comprovação de flagrante delito. A decisão foi tomada após a PM deter menores que seguiam de ônibus da zona norte para as praias da zona sul, e atendeu parcialmente ao pedido de habeas corpus preventivo impetrado pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. Para Eduardo Paes, a decisão judicial não dizia nada além do que manda a Constituição e não deveria intimidar as ações das forças de segurança.

O governador Luiz Fernando Pezão disse hoje, em evento público, que a Polícia Militar continuará a recolher nos ônibus adolescentes  sem documentos e que não tenham pago a passagem. “A polícia não vai parar de fazer o seu trabalho”, garantiu Pezão. Ele informou que, dos 112 adolescentes apreendidos na última ação da PM nas praias do Rio, os pais de  apenas foram buscar os filhos.

Para o sociólogo e professor do laboratório da Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro José Augusto Rodrigues, negar o fator social nos atos de violência nas praias do Rio é protelar o combate efetivo ao problem:. “Estamos falando de uma geração de jovens que não estuda nem trabalha e que tem uma inserção extremamente precária, tênue e problemática na vida social, econômica e cultural da cidade”. “Esse é o drama de um país que, estupidamente, desperdiça sua juventude por ser incapaz de inventar políticas públicas mais sofisticadas de inserção social. Desde o primeiro arrastão, televisionado em 1993, só se fala das ondas bárbaras invadindo as nossas praias]".

Rodrigues concorda que o papel da segurança pública é fundamental na prevenção de atos de vandalismo, mas não acredita que somente mais efetivo policial solucionará a questão da violência da cidade. “Já tem bastante polícia alocada lá. Vai colocar mais guarda municipal, ótimo. Quero levar minha filha pré-adolescente à praia, não quero ver o circo pegar fogo, mas vamos pensar em uma maneira mais inteligente de enfrentar o problema, aqui e agora , mas também no longo prazo. Esse é um problema de ordem pública, bem mais complexo que colocar meia dúzia de vagabundo na cadeia, e como tal deve ser tratado de uma maneira multidimensional”, completou o sociólogo.

Agência Brasil Agência Brasil
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