Artista plástico morto durante temporal pintou enchente e tinha portão de aço em casa para impedir entrada da água
Rodolpho Tamanini Netto, de 73 anos, foi encontrado nos fundos da casa onde morava em Pinheiros, zona oeste de São Paulo
O artista plástico Rodolpho Tamanini Netto, de 73 anos, morreu após ser arrastado pela enxurrada durante o forte temporal que atingiu a cidade de São Paulo na tarde da última sexta-feira, 24. Ao Terra, seu colega de longa data Jacques Ardies, curador de uma galeria onde Tamanini expunha seus trabalhos, contou que ele já fez um quadro retratando uma enchente e que, por precaução, tinha um portão de aço instalado em sua casa para impedir que a água entrasse.
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"Este quadro foi pintado por Tamanini em 2008. 'A enchente' é um óleo sobre tela, medindo 40x60. Naquela época, o artista já estava em alerta quando a chuva caía forte no bairro onde ele morava. Um portão de aço que ele mandou instalar era justamente para impedir que a água invadisse o quintal da casa dele. Um carro levado pela enchente bateu e quebrou o portão, provocando uma tromba enorme d´água que levou ele com violência até o fundo. Morreu afogado", contou Jacques.
O curador disse ainda que sempre haverá obras de Tamanini na parede da galeria, como acontece há 46 anos. A galeria Jacques Ardies fica na Rua Morgado de Mateus, 579, na Vila Mariana, e é aberta à visitação.
Jacques adiantou, ainda, ter um projeto em andamento: de publicação de um livro sobre a vida e a obra de Tamanini.
O que aconteceu?
A vítima residia na Rua Belmiro Braga, próximo ao Beco do Batman, tradicional ponto turístico paulistano que foi bastante atingido pela tempestade - a terceira maior já registrada na cidade em 64 anos. O corpo do idoso foi encontrado na manhã do sábado, 25, nos fundos da casa onde ele morava, em Pinheiros.
Ao Terra, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo informou que a Polícia Militar foi acionada por um amigo da vítima, que foi ao endereço para checar os estragos provocados pela chuva de sexta.
Ao chegar no local, a testemunha constatou que um veículo, arrastado pela correnteza, danificou o portão da garagem da casa de Tamanini, o que teria facilitado a entrada da água na casa.
O amigo, então, entrou na residência, encontrou o artista plástico, já sem vida, e acionou a PM. O caso foi registrado como morte suspeita no 14º Distrito Policial de São Paulo. O local também foi periciado.
Nas redes sociais, a galeria Jacques Ardies prestou uma homenagem ao artista. "Uma honra ter sido colega de galeria desse artista incrível, minha visita ao seu ateliê, quando eu ainda estava começando, foi inesquecível, generosidade e simpatia. Meus sentimentos", disse um dos comentários.
Legado como artista urbano
Tamanini era visto como um artista observador e extremamente criativo, com uma estética de pintura inconfundível.
Em site dedicado a Rodolpho Tamanini, o artista é destacado por produções que privilegiam os céus gigantes, proporcionando um contraste com os humanos pintados, representados muitas vezes em tamanhos pequenos e imperceptíveis. Uma estética escolhida para dar maior "serenidade das suas paisagens", descreve o texto do site.
Ele também tinha uma predileção por temas associados ao mar, vida litorânea, elementos da natureza e até mesmo a periferia das cidades.
Rodolpho Manini começou no ofício de artista no final dos anos 1960, antes mesmo de completar 18 anos, e realizou suas primeiras exposições entre 1970 e 1971.
*Com informações de Estadão Conteúdo.