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Asfalto com buracos em SP: pedidos de reparo de ruas aumentam 12,8%

Balanço é do período entre janeiro e setembro; administração diz que o asfalto usado na Operação Tapa Buraco é o mesmo das rodovias de São Paulo, "eleitas as melhores do País"

20 dez 2022 - 05h10
(atualizado às 07h34)
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Donato Aparecido Fernandes, 59 anos, diz que de tanto passar em um buraco na Barra Funda terá de trocar o amortecedor do carro; para ele, mesmo bairros da região central, como Higienópolis e Pacaembu, têm problemas FOTO ALEX SILVA/ESTADÃO
Donato Aparecido Fernandes, 59 anos, diz que de tanto passar em um buraco na Barra Funda terá de trocar o amortecedor do carro; para ele, mesmo bairros da região central, como Higienópolis e Pacaembu, têm problemas FOTO ALEX SILVA/ESTADÃO
Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO / Estadão

Bancos de couro, ar-condicionado digital, central multimídia, faróis com acendimento automático, motor 1.8 e um irritante barulho seco contra a lataria, na altura do pneu dianteiro esquerdo, que tira Donato Aparecido Fernandes, de 59 anos, do sério. Os primeiros itens vieram de fábrica. O último é cortesia de um dos milhares de buracos que se espalham por São Paulo. Taxista há 15 anos, ele sabe bem onde foi. "Na esquina das ruas Barra Funda e Lopes Oliveira. Caí ali tantas vezes, mas na última ouvi o barulho do amortecedor", diz.

"Arrumar isso não vai sair por menos de R$500?, afirma. O que Donato sente nos ouvidos e no bolso também pode ser visto nos dados da Prefeitura. De janeiro a setembro, o serviço 156 - a central de atendimento da administração municipal- recebeu 115.452 reclamações e pedidos de recapeamento, alta de 12,8% em relação ao mesmo período de 2019, último ano antes da pandemia. Em relação a 2020, quando a circulação de carros diminui drasticamente, o crescimento foi de 44,6%.

São Paulo tem 17 mil km de vias, o que equivale a 196 milhões de metros quadrados, conforme mapeamento da Prefeitura. É o dobro de Nova York, ou sete vezes o tamanho de Buenos Aires. Com a chegada das chuvas, os problemas também se avizinham. Ruas esburacadas e pavimentação asfáltica precária tendem a causar dores de cabeça ainda maiores.

Andar pelas ruas da cidade, em diferentes regiões, mostra que o problema não está limitado à região por onde circula Donato. É o que revelam também as queixas que chegam ao blog "SP Reclama - Seus direitos", do Estadão.

Em junho, a gestão Ricardo Nunes (MDB) anunciou que estava iniciando "o maior programa de recapeamento da história". Ao todo, 5,8 milhões de metros quadrados de ruas e avenidas devem ser recuperadas, o equivalente a 703 campos de futebol.

Mas os problemas continuam. Em Higienópolis, Pacaembu, Vila Buarque e na rua da Consolação, Donato lista os buracos que atrapalham sua rotina. Em algumas dessas ruas, é possível até mesmo acompanhar o nascimento e o crescimento dos buracos por fotos das vias ao longo dos anos no sistema de mapas do Google.

No Pacaembu, ruas como a Engenheiro Edgar Egídeo de Souza são marcadas por buracos e remendos. Na Consolação, na direção da Avenida Paulista, ao entrar na Rua Maria Antônia, um enorme cone de plástico laranja da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) alertava os motoristas sobre uma fenda no asfalto no fim da semana passada.

Há poucos metros dali, no cruzamento da Rua Augusta com a Marquês de Paranaguá, pedras foram colocadas em uma vala para tentar nivelar a passagem entre as vias. Pela cidade, especialmente após as chuvas, não é incomum encontrar arranjos improvisados pelos próprios moradores, como galhos colocados em buracos para alertar os motoristas.

Na rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros, um caixote de madeira foi colocado em um buraco na faixa de ônibus ALEX SILVA /ESTADAO
Na rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros, um caixote de madeira foi colocado em um buraco na faixa de ônibus ALEX SILVA /ESTADAO
Foto: ALEX SILVA/ESTADAO / Estadão

Há três meses, o encanador Antônio Candido Leite Júnior, de 44 anos, teve de procurar um borracheiro, à noite, após rasgar um pneu na avenida Miguel Ignácio Curi, em Itaquera, na zona leste. "Deixei R$ 200 na borracharia, o pneu rasgou de fora a fora. Não teve o que fazer a não ser comprar outro", diz. "Passo lá quase todo dia. Arrumaram, mas e dai? O prejuízo é meu."

Desde 2019, a cidade tem um Manual de Especificação Técnica para a Operação Tapa-Buracos, que realiza os reparos. O documento tem especificações técnicas, como o "requadramento", um recorte quadrado maior do que o buraco que corrige não apenas a a erosão, mas toda a parte comprometida em volta. Essa técnica tende a garantir maior durabilidade do serviço e não era adotada antes na cidade.

Segundo a coordenadora de Engenharia Civil da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Patrícia Barboza, o que garante a qualidade da pavimentação nas vias são dois fatores: planejamento e gestão. "Nenhum buraco aparece de um dia para o outro", diz ela. "Começa como trinca, a água vai se infiltrando e faz com que essa estrutura formada por diversas camadas perca sua qualidade, até se transformar em buraco."

O tempo é o fator crucial para esse processo. E o tempo em vias, urbanas ou rodoviárias, é medido não só em meses e anos, mas também pelo tráfego e pela carga que passa por elas. "A pavimentação não é feita para durar a vida inteira. Na cidade, a duração média para que seja preciso fazer recapeamento é de 12 anos. Esse tempo a gente mede em tráfego. Esses 12 anos podem ser 15 anos ou 10, de acordo com o trânsito", afirma.

Entre as medidas tecnológicas, o uso do georreferenciamento é uma das formas mais efetivas, diz a docente. E São Paulo tem um programa do tipo. Implementado em 2019, o sistema Gaia identificou, na época, a qualidade e o conforto do pavimento avaliando a ondulação do asfalto. A medida nasceu de uma parceria com a sociedade civil: 108 veículos, entre táxis e carros de aplicativos, mapearam a situação das vias rodando pela cidade. O sistema foi desenvolvido pela Prefeitura em conjunto com a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e resultou em levantamento que classificou o estado das ruas. Isso facilitou o direcionamento das equipes de recapeamento para os lugares com as piores avaliações.

Tempo de resposta caiu, diz Prefeitura

Procurada pela reportagem, a Prefeitura afirma que o asfalto usado na Operação Tapa Buraco é o mesmo das rodovias paulistas, "eleitas as melhores do País". Por meio da Secretaria Municipal das Subprefeituras, diz em nota, realiza o serviço de tapa-buraco em todas as vias das 32 subprefeituras da capital.

A administração municipal afirma que neste ano foram tapados 117.879 buracos nas ruas de São Paulo, 2427 a mais do que o número de reclamações recebidas pelo serviço 156. "O aumento no número de solicitações é resultado da maior divulgação do Portal 156, que visa a atender as solicitações dos munícipes para tornar São Paulo uma cidade melhor e mais funcional, com a participação de todos", afirma, em nota.

Conforme a Prefeitura, algumas solicitações recebidas via 156 são indeferidas por não se tratarem de serviços de tapa-buracos, mas de problemas em sarjetas, reparos em calçadas, entre outros. Ainda assim, diz a administração, apesar de registradas inadequadamente, as equipes das subprefeituras incluem os reparos na programação.

Desnível em remendo no asfalto na Rua Artur Azevedo, em Pinheiros ALEX SILVA /ESTADAO
Desnível em remendo no asfalto na Rua Artur Azevedo, em Pinheiros ALEX SILVA /ESTADAO
Foto: ALEX SILVA /ESTADAO / Estadão

"O tempo médio de atendimento para solicitações de tapa-buraco caiu de 121 dias, em 2017, para cerca de 10 dias, representando uma diminuição de 91%. Nas principais vias da capital, a operação tapa-buraco é executada em até 48 horas. Estes são os menores números registrados para o serviço na série histórica", afirma.

Empresas concessionárias, como a Sabesp, a Comgás e de telefonia também são autorizadas a fazer a recomposição do asfalto em vias em que executam serviços e devem seguir o manual da Prefeitura. Em casos de descumprimento das normas, as empresas são notificadas e podem ser multadas.

Segundo o poder público, "neste ano, foram aplicadas, até o momento, 1.767 multas nas concessionárias por irregularidades em obras e intervenções realizadas nas vias da cidade", totalizando cerca de R$ 94,584 milhões.

"A multa é pela desconformidade e não transfere a responsabilidade pelo conserto, que permanece sendo da concessionária. Desde janeiro deste ano, elas passaram a ser aplicadas como mais uma medida de cobrança por eficiência na execução de consertos", afirma a Prefeitura.

A Secretaria Municipal das Subprefeituras disse ainda que vai realizar vistorias nos locais citados pela reportagem e os serviços necessários serão realizados. Caso sejam de concessionárias, estas serão acionadas.

Estadão
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