Atirador de Novo Hamburgo (RS) era esquizofrênico e foi morto pela polícia para 'reduzir danos'
Tentativas de negociação foram frustradas e polícia abriu fogo contra homem para evitar novas vítimas
O atirador que fez três vítimas e feriu outras nove pessoas, inclusive familiares, em Novo Hamburgo (RS) era esquizofrênico e tinha registro de Colecionador, Atirador e Caçador, para porte de armas (CAC), segundo informações da Polícia Civil e Brigada Militar do Rio Grande do Sul. Ele foi encontrado morto dentro de casa após um tiroteio contra policiais, que tentaram uma negociação, sem sucesso. O homem era caminhoneiro e morava na casa dos pais.
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Em coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira, 23, a polícia informou que a ação teve início na terça-feira, 22, à noite, quando o pai do atirador ligou para o disque-denúncia pelo telefone 190, dizendo que ele e a esposa estavam sendo agredidos pelo filho. Na residência estavam o atirador, o pai, a mãe, o irmão e a cunhada dele. Segundo a polícia, o pai e o atirador sofriam de esquizofrenia, e as brigas familiares eram frequentes.
Com a chegada dos policiais, o homem abriu fogo e atirou em todas as pessoas que estavam no local, deixando o pai e um policial mortos. Guardas Municipais também estiveram no local e foram baleados. Outros três policiais militares que chegaram como reforços também foram atingidos pelos disparos.
Mais policiais foram até o endereço para prestar socorro. Com a chegada do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e do Choque, foram usados escudos balísticos para entrar na residência e resgatar as vítimas. Os agentes entraram três vezes na casa para fazer o resgate de feridos e retirar os corpos das vítimas.
Para ter certeza que o atirador estava sozinho em casa, foram usados drones, que sobrevoaram a residência. Esses drones também foram baleados pelo homem, o que demonstra que ele tinha conhecimento avançado sobre armas, segundo o delegado Fernando Sodré, da Polícia Civil.
Foi através de uma imagem de drone que os policiais viram, na manhã desta quarta-feira, 23, que o homem estava morto dentro da casa, após ser atingido por um tiro. O Bope entrou no imóvel e constatou a morte dele.
"Podemos dizer que, o que houve por parte da Brigada Militar e da Polícia Civil foi uma redução de danos. Ele acabou sendo atingido dentro da residência em uma troca de tiros, e ele ainda tinha farta munição", disse o delegado Fernando Sodré. Para a polícia, era possível que o homem fizesse ainda mais vítimas caso continuasse atirando, já que as negociações não tiveram efeito.
Dentro da casa foram encontradas duas pistolas calibre 9mm e 380mm, duas espingardas e centenas de munições não deflagradas, além de carregadores. Mais centenas de cápsulas de balas de arma de fogo disparadas foram encontradas pelo chão da casa. O material foi apreendido.
A polícia ressalta que, graças à agilidade, foi capaz de impedir que o atirador fizesse novas vítimas, já que durante as tentativas de negociação, o autor apenas respondia com uma quantidade significativa de tiros, não permitindo nenhuma forma de diálogo.
Vítimas
O atirador matou o pai a tiros logo após a chegada da Brigada Militar (BM), no início dos disparos. O pai foi identificado como Eugênio Crippa, de 74 anos. Foi ele quem acionou a polícia para denunciar o filho por agressão contra ele e a esposa. A mulher foi baleada e está hospitalizada em estado grave.
Outra vítima foi o soldado da Brigada Militar, Everton Kirsch Júnior, de 31 anos. Ele atuava no cargo desde 2018, e há 45 dias se tornou pai. Ele deixa um filho e a esposa. Ele levou um tiro na cabeça e morreu no local do crime.
O irmão do atirador também morreu após ser baleado, no entanto, só veio a óbito depois de ser hospitalizado. A esposa dele, que também estava na casa, continua hospitalizada.
Nove pessoas feridas foram encaminhadas para o Hospital Municipal de Novo Hamburgo. São eles:
- Cleris Crippa, 70 anos, mãe do atirador – estado grave após ser baleada três vezes
- Priscilla Martins, 41 anos, cunhada – estado grave após ser baleada uma vez
- Rodrigo Weber Voltz, 31 anos, PM – em cirurgia após ser baleado três vezes
- João Paulo Farias Oliveira, 26 anos, PM – em cirurgia após ser baleado uma vez
- Joseane Muller, 38 anos, PM – estado estável após ser baleado uma vez
- Eduardo de Brida Geiger, 32 anos, PM – liberado do hospital após ser baleado de raspão
- Leonardo Valadão Alves, 26 anos, PM – liberado do hospital após ser baleado de raspão
- Felipe Costa Santos Rocha, PM – liberado após ser baleado de raspão
- Volmir de Souza – aguarda cirurgia após ser baleado uma vez
Sem histórico
De acordo com a polícia, o atirador não tinha outras ocorrências registradas junto às autoridades por violência contra os pais. Ele já havia sido denunciado em 2021 por ameaça, por uma pessoa não relacionada à família, mas o caso não chegou a ser investigado.
De acordo com vizinhos, as brigas familiares eram frequentes, mas nunca haviam chegado ao ponto de envolver a polícia.
Porte de arma
O autor do crime tinha as licenças necessárias para portar armas, obtidas junto à Polícia Federal e ao Exército Brasileiro, segundo informado pela polícia. O delegado Fernando Sodré afirma que, devido à precisão dos tiros, tratava-se de alguém com conhecimento avançado em armas.
"Tudo indica que ele entendia de armas e que ele sabia atirar, inclusive porque ele abateu dois drones da Brigada, que foram utilizados durante a ocorrência para acompanhamento. Então, para quem acerta um drone com uma pistola, não é uma pessoa que não tenha noção de tiro. E a munição, algumas eram munições normais e outras apresentavam a possibilidade de recarga", revelou o delegado.
A polícia irá investigar as circunstâncias em que o homem conseguiu obter o registro para porte de arma, uma vez que sofria de esquizofrenia. Para obter o registro, é necessário passar por um teste psicotécnico, com o objetivo de atestar que a pessoa tenha condições mentais de possuir uma arma.
"Para obter [o CAC], ele teve que apresentar para a Polícia Federal um laudo atestando que ele tinha condições de portar arma. Então, se constatou agora, que ele tinha um histórico de, pelo menos, quatro internações por esquizofrenia. No momento em que se dá acesso a uma arma de fogo e farta munição a uma pessoa com esquizofrenia, uma tragédia vai ocorrer. A pergunta não é se vai ocorrer, a pergunta é só quando vai ocorrer", falou o delegado.