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Barulho na região do Aeroporto de Congonhas diminuiu? Entenda mudanças nas rotas dos aviões

Força Aérea Brasileira aponta redução de 20% no ruído mais elevado; associações de moradores dizem que não foi sentida qualquer melhora

17 jul 2024 - 03h10
(atualizado às 07h45)
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Associações de moradores do entorno de Congonhas estão mobilizadas pela redução do barulho causado pelos aviões.
Associações de moradores do entorno de Congonhas estão mobilizadas pela redução do barulho causado pelos aviões.
Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 19/07/2022 / Estadão

O barulho dos aviões que incomoda os moradores da vizinhança diminuiu no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Pequenas mudanças nas rotas de aproximação das aeronaves e técnicas de voo já resultaram em redução de 15,18% na área coberta pelas curvas de ruído, segundo avaliação da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeronáutica (Infraero). No caso da faixa de ruído de 65 a 70 decibéis - o ruído mais elevado -, a redução chegou a 20%, segundo a Força Aérea Brasileira (FAB).

Os dados são dos anos de 2022 e 2023 até outubro. As curvas representam geograficamente a área impactada pelo ruído emitido pelas aeronaves. Associações de moradores do entorno de Congonhas, no entanto, dizem que não foi sentida qualquer melhora no nível de ruído dos aviões.

Conforme a FAB, ao longo dos últimos anos, o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) vem adotando iniciativas que minimizam os impactos do ruído aeronáutico nos arredores de aeródromos, bem como a emissão de poluentes. Entre elas, está a nova reorganização da estrutura de rotas do espaço aéreo em São Paulo, incluindo os aeroportos de Congonhas, Guarulhos e Campinas.

Conhecida pela sigla TMA-SP -Neo (Nova Terminal de São Paulo), a medida melhorou a confluência das rotas nas imediações desses aeroportos. As aeronaves, agora, seguem rotas mais curtas e diretas para seus destinos, sobretudo em relação às aproximações, diminuindo o tempo de voo.

Segundo a FAB, os percursos menos longos implicam em redução no consumo de combustível e na emissão de gases poluentes. "A técnica de subida contínua, sem qualquer tipo de voo nivelado durante o percurso, possibilita menor uso da potência dos motores, o que se traduz em eficiência e redução de impacto ambiental", disse a força.

O replanejamento das rotas de decolagem, especialmente da pista 17 do aeroporto de Congonhas, possibilitou a aplicação do conceito de subida contínua, com menor impacto sonoro. O terminal possui duas pistas paralelas, a 17 R, com 1.940 metros de extensão, e a 17 L, com 1.345, ambas com 45 metros de largura.

Desde o ano passado, a Infraero vem discutindo possíveis ações por meio de um grupo de trabalho, em conjunto com as empresas aéreas e órgãos do setor, para reduzir e mitigar o ruído das operações no aeroporto de Congonhas. Uma das ações foi a realização de testes com procedimento de navegação aérea do menos ruído em decolagens. Os testes consistiram na realização de decolagens com procedimento de baixo ruído e saídas padrão por instrumento, com as aeronaves partindo da cabeceira 35.

Foram instaladas estações de monitoramento de ruído em pontos estratégicos dos bairros Indianópolis, Itaim e Vila Nova Conceição para captar os níveis de barulho durante o sobrevoo de aeronaves.

Associações de moradores do entorno questionam

Em 2023, o Aeroporto de Congonhas recebeu 22 milhões de passageiros, tendo realizado 231,8 mil movimentos de aeronaves. Desde outubro do ano passado, o aeroporto é administrado pela concessionária Aena Brasil, do grupo espanhol Aena, que já anunciou investimento de R$ 2 bilhões para melhorar a infraestrutura. Entre as melhorias, está prevista a construção de um novo terminal de passageiros, mais pontes de embarque e ampliação dos espaços comerciais.

O possível aumento no número de operações preocupa as associações de moradores do entorno. Entidades como a Associação Viva Paraíso, Associação de Moradores da Vila Nova Conceição, Associação do Jardim Novo Mundo e Associação dos Moradores do Entorno do Aeroporto de Congonhas estão mobilizadas pela redução do barulho causado pelos aviões.

De acordo com o presidente da Viva Paraíso, Marcelo Torres, ainda não foi sentida qualquer melhora no nível de ruídos emitidos pelos aviões. "Falamos com outras associações e não houve melhora. São 12 associações de moradores no entorno de Congonhas impactadas", disse.

Segundo ele, foram realizadas audiências públicas na Assembleia Legislativa e na Câmara de Vereadores, mas a situação se mantém. "Além do barulho, como os aviões passam em voo baixo, há também o impacto dos resíduos do querosene, o que afeta inclusive o Parque do Ibirapuera. Já pedimos que fosse feita uma medição, porque achamos que o ruído está acima do permitido. A principal reivindicação é de que os aviões voltem a fazer as rotas originais, em curva, evitando os bairros mais adensados", disse.

Conforme a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o ruído aeronáutico é oriundo das operações de circulação, aproximação, pouso, decolagem, subida, taxiamento e teste de motores de aeronaves. É um ruído intermitente ou não estacionário, com elevados níveis sonoros em sua fonte, podendo causar efeitos adversos sobre a população exposta a níveis excessivos desse tipo de ruído.

Em nota à reportagem, a agência informou que o Aeroporto de Congonhas possui Plano Específico de Zoneamento de Ruído (PEZR) regularmente registrado junto à Anac. "Cabe destacar que o plano é um planejamento elaborado pelo operador do aeroporto em cumprimento às orientações do RBAC (Regulamento Brasileiro de Aviação Civil) nº 161, sendo posteriormente submetido a registro junto à Anac, sendo que o monitoramento contínuo do zoneamento de ruído em uma área urbana é uma atribuição dos órgãos competentes da administração municipal", disse.

A Anac estabelece ainda que aeródromos com grande movimentação, como é o caso de Congonhas, devem instituir uma Comissão de Gerenciamento de Ruído Aeronáutico (CGRA) para discutir a elaboração, atualização e implementação do PZR, bem como ser um fórum colaborativo com vistas a estudar, propor e implementar, no seu âmbito de atuação, medidas para mitigar o impacto do ruído aeronáutico no entorno do seu aeródromo.

Ainda segundo a agência, a reorganização do espaço aéreo e outras medidas operacionais relacionadas à aproximação e decolagem são questões frequentemente debatidas e monitoradas pela CGRA do aeroporto de Congonhas. "Isso é resultado de um esforço conjunto de todos os representantes envolvidos", afirmou.

A Aena Brasil informou que as informações sobre a redução nas curvas de ruído foram fornecidas pela FAB, responsável pela organização do tráfego aéreo em todo o País.

Estadão
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