Bauru: festa continuou mesmo com notícia de morte de aluno
Segundo testemunha, boato sobre a morte chegou ao local, mas poucos acreditaram na informação
Uma festa universitária realizada neste sábado em Bauru, no interior de São Paulo, ficou marcada pela morte de um estudante por excesso de consumo de bebida alcoólica e pela internação de outros seis universitários, sendo três em estado grave. Ouvido pelo Terra, um participante da “Inter Reps Bauru”, que reúne repúblicas estudantis da cidade, relatou que a festa continuou mesmo após chegar a notícia de que um dos alunos havia morrido.
“A festa começou por volta das 15h. Eu cheguei às 16h30 e já circulava esse boato que uma pessoa tinha morrido. Mas a gente achou que fosse uma brincadeira porque não vimos ninguém passando mal e continuamos na chácara. Alguns estavam fazendo o ‘bier-pong’. É como se fosse um ping-pong. Ficava um de cada lado da mesa e quem acertasse a bolinha dentro do copo do outro tomava cerveja”, contou o aluno de Publicidade e Propaganda de uma faculdade particular da cidade que preferiu não se identificar.
A morte citada pelo universitário foi a de Humberto Moura Fonseca, de 23 anos, que participou da competição que incentivava o consumo de álcool. Segundo a Polícia Militar, ele passou mal e foi socorrido, mas já chegou ao Pronto Socorro Central sem vida. Outros seis jovens também passaram mal e foram socorridos por uma ambulância contratada pelos organizadores, que já dava respaldo à festa, e levados para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Vila Ipiranga.
No evento “open bar” eram servidos cerveja, vodka, energético, catuaba, pingas e sucos à vontade. Os convites foram vendidos antecipadamente entre R$ 28 e R$ 45. A festa, que reuniu jovens de 20 repúblicas e de várias faculdades e universidades, foi realizada em uma chácara no Jardim Ouro Verde e organizada pela internet. Havia uma competição para saber quem eram os “maiores bebedores”.
“Enquanto a equipe acompanhava a ocorrência na UPA, recebemos uma nova chamada que informava que um jovem havia dado entrada no Pronto Socorro, mas já em óbito. Fomos até lá e assim que foi confirmado o óbito informamos à Polícia Civil”, disse o capitão Renato Ramos. Humberto era de Passos, Minas Gerais, e cursava o quarto ano de engenharia elétrica na Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Às 19h30, de acordo com o jovem ouvido pelo Terra, os organizadores encerraram o evento. “Um pegou o microfone e pediu educadamente para todo mundo ir embora porque tinha acabado a festa. Foi aí que a gente acreditou que isso [a morte do estudante] realmente tivesse acontecido. Quando saí tinha 7 viaturas da PM lá”, contou o rapaz.
Vítimas internadas
Ente os jovens que seguem internados estão Gabriela Alves Correia, 23 anos, que está na UTI do Hospital Estadual e Juliana Tibúrcio Gomes, 19 anos, também na UTI, mas do Hospital de Base. A família de Juliana já entrou com pedido de transferência para um hospital particular.
A assessoria de imprensa da Fundação Para o Desenvolvimento Médico e Hospitalar (Famesp) que administra os dois hospitais, informou que a família de Gabriela não autorizou a divulgação de qualquer informação sobre o estado de saúde dela. A assessoria ainda aguarda a autorização da família de Juliana para poder enviar boletins médicos à imprensa.
Até o início da noite outros quatro estudantes, que não tiveram as identidades reveladas, permaneciam internados em estado grave na UPA e seriam transferidos ao Hospital de Base.
Cerca de 10 testemunhas, familiares dos estudantes, seguranças do evento e organizadores estiveram na Central de Polícia Judiciária (CPJ) durante a madrugada deste domingo onde a ocorrência foi apresentada. Os delegados Kleber Granja e Mário Henrique Ramos conduzem as investigações. Até as 3h da manhã os dois organizadores que estiveram na CPJ ainda aguardavam para serem ouvidos. A reportagem do Terra não teve acesso a eles, que estavam acompanhados de três advogados.
Um dos colegas de classe da vítima, que participou da festa e estava na delegacia acompanhado do pai, afirmou que o consumo de diversos tipos de drogas era feito de forma irrestrita no local.
Universidade
Em nota a Unesp informou que lamenta a morte do estudante e que a Faculdade de Engenharia vem prestando apoio à família dele. A universidade ressaltou que a festa foi realizada fora das dependências da instituição e afirmou ainda que o consumo de bebidas alcoólicas é proibido nos campus. Em todas as unidades é realizada uma intensa campanha alertando para os perigos do consumo excessivo desse tipo de bebida.