O que é 'dar certo' e 'dar errado' na vida?
Dinheiro e poder como únicos caminhos para o sucesso tem pressionado gerações e coloca o Brasil topo de uso de remédios contra depressão
Mais uma polêmica tomou conta das redes sociais essa semana. Um grupo de estudantes do 3º ano do ensino médio, de uma escola particular no Rio Grande do Sul, realizou uma festa no intervalo da aula com o mote "se nada der certo". A comemoração era à fantasia e os jovens usaram roupas identificadas com empregadas domésticas, atendente de rede de fast food, vendedor ambulante, atendente de supermercado, vendedora de cosmético, gari, garçom e por aí vai.
Primeiro de tudo, vamos estabelecer que a ideia de certo e errado já deveria ter sido abandonada na época dos filósofos gregos. É um sofisma, afinal. É certo a partir do que? Das nossas expectativas? A partir de qual ponto de vista? De que lugar de fala? É errado por qual razão? Porque aceitamos um conceito pré-concebido de sucesso que mal sabemos se cabe em nós? Por outro lado, o "deu errado" é o que exatamente?
Para mim, por exemplo, trabalhar 12 horas por dia, não ter final de semana, ter um chefe que te desrespeita e comete assédio em troca de ter um salário alto para gastar metade em terapia e a outra em rivotril, já que você não consegue mais dormir careta, não é sucesso. Pra algumas pessoas pode ser. Mas para mim, não. Por isso, a história do "se nada der certo" é uma bobagem sem tamanho.
São essas reflexões que proponho no vídeo dessa semana no Cenas da Cidade que pode ser acessado abaixo:
Por isso, para além das críticas às atitudes dos jovens, precisamos entender o episódio como sintomático de uma sociedade que está adoecendo. Uma sociedade que valoriza resultados em detrimento do ser e viver com mais humanidade, que define o sucesso pelo posto que você chegou a ocupar na carreira e não pela capacidade de ser realizado fazendo algo que realmente lhe complete ou signifique para você, que garante mimos a quem tem dinheiro, que valoriza o ter em detrimento do ser, que divide bem sucedidos e fracassados, cabendo ao segundo grupo, o limbo eterno da frustração.