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Boate Kiss: 'Não sou assassino', diz réu no primeiro dia de julgamento

O julgamento do caso que deixou 242 mortos em 2013 teve início nesta quarta-feira em Porto Alegre. Sete jurados foram escolhidos; testemunhas serão ouvidas a partir desta tarde

1 dez 2021 - 14h02
(atualizado às 15h01)
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O julgamento do caso Boate Kiss teve início na manhã desta quarta-feira, 1º, em Porto Alegre, onde quatro réus respondem pela morte de 242 pessoas no incêndio que deixou outros 636 feridos em Santa Maria, em janeiro de 2013. Os trabalhos tiveram início com a escolha dos sete jurados que ao final do julgamento deverão proferir o veredito sobre o caso. Na chegada ao local, um dos réus disse não ser "assassino".

No primeiro dia, é esperado o início dos depoimentos de sobreviventes do incêndio, que devem relatar as circunstâncias em que as chamas começaram e como se propagaram na casa noturna após o uso de materiais pirotécnicos. Ao todo, 14 sobreviventes devem falar no Foro Central de Porto Alegre, onde também serão ouvidas outras 19 testemunhas listadas pela acusação feita pelo Ministério Público e pela defesa dos réus.

Estão no banco dos réus os dois sócios da Kiss, Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann, além do músico Marcelo de Jesus dos Santos e o produtor Luciano Bonilha. Todos eles são acusados pelas mortes na boate. O júri será presidido pelo juiz Orlando Faccini Neto.

Dos quatro réus, o produtor da banda, Luciano Bonilha, foi o único a acessar o prédio do Foro Central pela entrada principal. Ele não chegou a responder perguntas dos repórteres, mas já perto da porta gritou: "Eu não sou um assassino". Já dentro do prédio, ele chegou a passar mal. Os outros três utilizaram uma entrada pelos fundos.

O fogo na madrugada de 27 de janeiro iniciou no palco, quando a banda Gurizada Fandangueira utilizou um sinalizador no palco. As chamas do sinalizador então tocaram a espuma de isolamento acústico e rapidamente se espalharam. Na ocasião, a Kiss recebia uma festa organizada por estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Uma das estudantes era Fernanda Brandão Malheiros, na época com 18 anos. Fernanda estava no final do primeiro semestre de Agronomia, natural de Ijuí, cidade da região das Missões, tinha saído há pouco tempo de casa. Nesta quarta-feira, o pai dela, Jorge Luis Brandão Malheiros, chegou sozinho ao Fórum, com semblante abatido e uma camiseta na qual se podia ler a cobrança por mais indiciamentos no processo. "Está faltando gente e hoje nós teremos um júri parcial", afirmou.

A cobrança de Jorge é pela falta de autoridades indiciadas. Na avaliação do pai de Fernanda, o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP/RS) acabou protegendo as autoridades que deveriam ser responsabilizadas pela tragédia. "A Polícia Civil fez um trabalho sério, apontou todos que devia apontar. Mas o Ministério Público não entendeu dessa forma. Na minha opinião, a partir do momento em que ele retirou do processo as autoridades apontadas no inquérito ele absolveu essas autoridades."

O MP será representado no julgamento pelos promotores Lúcia Helena Callegari e Davi Medina. O julgamento está sendo transmitido pelo canal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ/RS) no YouTube.

Pela manhã, o clima no Foro de Porto Alegre ainda era de pouca movimentação, com familiares chegando aos poucos e ainda dispersos. Um grupo maior, vindo de Santa Maria, chegaria no início da tarde. Eles estão hospedados em Porto Alegre e vão acompanhar todos os dias de julgamento na capital.

Estadão
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