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Brasil se 'acostumou' a repreender com violência os protestos, diz MPL

Ativistas do movimento que deu origem à onda de manifestações disseram não se contentar em tomar "chá com a presidenta"

27 jun 2013 - 17h26
(atualizado às 17h50)
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<p>"Quem introduziu a violência nos nossos atos foi a Polícia Militar", afirmou representante do MPL</p>
"Quem introduziu a violência nos nossos atos foi a Polícia Militar", afirmou representante do MPL
Foto: Fernando Borges / Terra

Militantes do Movimento Passe Livre (MPL), que deu origem à onda de manifestações que ocorre no País desde o início de junho, atribuem à Polícia Militar e aos governos estaduais a responsabilidade pelos episódios de violência registrados em alguns dos últimos protestos realizados pelo Brasil. Para o estudante Caio Martins, 19 anos, e a socióloga Mariana Toledo, 27 anos, boa parte dos episódios de depredação e confronto testemunhados ocorreram após a PM tratar com truculência os manifestantes.

"No Brasil, a gente não está acostumado com protestos pacíficos. (...) É muito difícil ser pacífico na rua porque o Estado é violento. Quem introduziu a violência nos nossos atos foi a Polícia Militar. (...) A diferença é que neste ano as pessoas resistiram", disse Caio Martins, durante sabatina promovido pelo jornal Folha de S.Paulo e pelo portal UOL nesta quinta-feira, em São Paulo.

Ao serem questionados sobre os atos de vandalismo testemunhados em algumas das manifestações, tanto Caio quanto Mariana lembraram que o MPL é contra a depredação. Eles, porém, também criticaram a Polícia Militar por ter sido "omissa" ao coibir os ataques realizados por um grupo contra a prefeitura de São Paulo durante um dos protestos, no último dia 17, quando várias lojas foram saqueadas. "Você teve uma mudança total de postura da PM. De uma repressão total aos manifestantes (...) a uma postura até omissa", disse Caio.

Renan defende passe livre em transporte para estudantes:

Entretanto, os representantes do MPL observaram que, neste ano, as pessoas têm demonstrado uma tolerância menor à repressão policial, o que teria motivado o aumento da pressão popular nas ruas e, por consequência, trazido resultados positivos. Uma das conquistas das manifestações recentes nas ruas foi a redução das tarifas do ônibus, metrô e trens em São Paulo, que caíram de R$ 3,20 para R$ 3. Para os ativistas do MPL, foi a intensa pressão popular - com ida de milhares de pessoas às ruas - e não os episódios de depredação o que motivaram o prefeito Fernando Haddad (PT) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) a recuarem do aumento dos preços do transporte público em São Paulo.

"(O fato de as pessoas resistirem à repressão policial) Deve assustar muito ao Poder Público acostumado em jogar cinco bombas e acabar com o protesto", completou Mariana. "As pessoas agora sabem que lutar vale a pena", disse Caio, comentando a proliferação de manifestações com outras pautas, que não as relacionadas ao transporte público.

"Não foi o Movimento Passe Livre que barrou o aumento. Foram as 100 mil pessoas que foram às ruas no final. Então sim, o Passe Livre foi protagonista, mas não único responsável", destacou Caio.

"Chá com a presidenta"

Além do recuo do aumento da tarifa, o grupo foi surpreendido por um convite, feito na última segunda-feira, para se encontrar com a presidente Dilma Rousseff (PT) em Brasília. Embora os ativistas do Movimento Passe Livre considerem o encontro um passo importante, eles destacaram, durante a entrevista, que não se deram por satisfeitos.

"Não basta chamar para uma reunião. O que as pessoas querem é ter suas demandas atendidas. O que a gente quer é que ela (a presidente Dilma) ouça os clamores das ruas. (...) Não basta tomar chá com a presidenta, o que a gente quer é que ela ouça as nossas demandas e faça alguma coisa", disse Mariana.

Escolhidos para falar em nome do grupo hoje - o movimento é contra ter um líder - os ativistas aproveitaram para rebater a declaração da presidente, que em entrevista publicada nesta quinta-feira disse "não existir" tarifa zero, pois ou a passagem sai do bolso do usuário ou do contribuinte, por meio dos impostos.

"Não cabe ao movimento social por A mais B definir de onde sairá o dinheiro. A ideia seria o governo, com seu exército de pessoas qualificadas, fazer esse estudo. (...) A presidenta falou mais de uma vez sobre como não existe tarifa zero, como é impossível. Mas a gente não concorda que não existe transporte gratuito, (...) mas defende que é um direito universal (que deve ser custeado pelos governos)", afirmou Mariana.

Por fim, os ativistas do MPL também criticaram o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que nos últimos dias disse ser favorável ao projeto de tarifa zero para estudantes - o que o MPL não concorda. "O transporte não deve beneficiar um grupo ou outro. Transporte é um direito e deve ser universal. (...) A gente vê o projeto do Renan Calheiros como uma tentativa ligeiramente oportunista e mais uma tentativa de desmobilizar o movimento", disse Caio.

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Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País

Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

O grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

Fonte: Terra
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