Brasileiras presas após troca de malas: 'Sem imagens, pagaríamos por um crime que não cometemos'
De volta ao Brasil, Kátyna Baía e Jeanne Paolini disseram ter sido maltratadas na Alemanha e agradecem esforços pela libertação
As duas brasileiras que ficaram presas durante 38 dias em Frankfurt, na Alemanha, depois de terem as malas trocadas no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos (SP), já estão em Goiânia, onde moram. A personal trainer Kátyna Baía, de 44 anos, e a veterinária Jeanne Paolini, de 40, desembarcaram por volta das 9h30 desta sexta-feira, 14, em uma área reservada do Aeroporto Internacional Santa Genoveva e foram direto para casa.
Durante uma escala em São Paulo, elas falaram sobre a prisão em um vídeo gravado da delegacia da Polícia Federal. "Nós fomos presas de forma muito injusta, mal recebidas, maltratadas pela polícia alemã, injustiçadas, pagando já por 38 dias por um crime que não nos pertence", disse Kátyna.
Jeanne agradeceu o esforço feito para libertá-las: "Nós gostaríamos de fazer um agradecimento aqui a todos os envolvidos, que trabalharam juntos para mandar todas as provas pra polícia alemã, ao governo alemão. Nós sabemos que o envio desses vídeos foi fundamental para a nossa liberdade. Sem eles, provavelmente, nós iríamos pagar por um crime que nós não cometemos."
Elas deixaram o presídio feminino de Frankfurt na terça-feira, 11, depois que o Ministério da Justiça do Brasil encaminhou as provas que inocentaram as duas brasileiras, que tiveram as etiquetas de identificação das malas colocadas em duas malas com 40 quilos de cocaína no dia 4 de março. Se condenadas pelo crime de tráfico de drogas, elas poderiam pegar cerca de 15 anos de prisão, comentou Kátyna.
Segundo Lorena Baía, irmã de Kátyna, o casal pretende entrar com ação de reparação de dano, mas não informou se contra a empresa aérea ou contra o terminal de Guarulhos. "A prioridade era soltar as meninas. Os advogados, agora, estão avaliando toda a situação para ingressar com a ação indenizatória", afirmou ao Estadão.
Relembre o caso
A polícia alemã apreendeu no início de março duas malas com 20kg de cocaína cada, etiquetadas com os nomes da veterinária Jeanne, de 40 anos, e da personal trainer Kátyna, de 44, e elas foram presas.
A base para a liberação foram as imagens que mostram as bagagens sendo trocadas durante uma escala no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. Segundo a Polícia Federal, um dia antes do embarque das duas brasileiras, outra goiana teve a etiqueta da mala trocada por bagagem com drogas ao viajar para Paris, na França, mas não foi presa.
Vídeos obtidos pelo Fantástico, da TV Globo, mostram como dois funcionários do aeroporto identificam as duas malas de Kátyna e Jeanne, uma rosa e uma preta, separam e, discretamente, retiram a etiqueta delas em uma área de segurança e de acesso restrito que é monitorada por várias câmeras.
Em outro vídeo, duas mulheres chegam ao aeroporto com duas malas de cores diferentes por volta das 20h30. Seriam as malas que continham os 40 quilos de cocaína, segundo a polícia. As duas vão a um guichê de companhia aérea após um sinal da única funcionária no local, deixam as malas e saem em seguida do aeroporto, sem embarcar para qualquer destino. As duas malas são levadas para o mesmo veículo onde estão as malas de Kátyna e Jeanne e a troca é feita.
A Operação Iraúna da PF já prendeu sete pessoas por envolvimento no caso.
Drama na prisão
Lorena contou no começo da semana o drama vivido pelas goianas na Alemanha. "Elas foram detidas no aeroporto separadamente, algemadas pelos pés e mãos, escoltadas por vários policiais e a única palavra que entendiam era cocaína", disse a irmã de Kátyna. Segundo Lorena, elas tentaram argumentar que aquelas não eram suas malas, pois tinham cores e pesos diferentes, mas os policiais só repetiam a palavra "cocaína".
As duas, contou a irmã, tiveram as mãos raspadas para coleta de DNA, sem que tivessem dado autorização para isso. A bagagem de mão foi retida e elas ficaram sem os medicamentos e agasalhos. As duas foram levadas para celas separadas. Nesse local, que era frio e tinha as paredes escritas com fezes, elas ficaram três dias, nos quais lhes foram oferecidos apenas pão e água.
Depois, elas foram transferidas para o presídio feminino de Frankfurt, onde permaneceram separadas e, segundo Lorena, convivendo com mulheres condenadas por diversos crimes em celas frias e desconfortáveis.