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Brasileiros trocam arroz, feijão, carne e frutas por sanduíche e pizza

Pesquisa do IBGE mostra que, apesar do arroz e feijão serem predominantes na dieta, houve aumento de ingestão de fast food; brasileiros também consomem sal e açúcar em excesso

21 ago 2020 - 10h11
(atualizado às 20h30)
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O arroz e o feijão continuam sendo o carro chefe da dieta brasileira, em geral acompanhados de alguma proteína animal, segundo números da nova Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE,, divulgada na manhã desta sexta-feira, 21. Segundo o instituto, no entanto, entre o levantamento de 2008/2009 e este último, de 2017/2018, houve uma redução no consumo desses alimentos e um aumento preocupante na ingestão de fast-food.

A frequência do consumo de arroz, por exemplo, ainda é muito predominante, mas caiu de 82,7% para 72,9%. A do feijão, de 72,1% para 59,7% e o de carne bovina de 43,8% para 34,6%. A frequência do consumo de frutas também teve uma queda acentuada, de 45,4% para 37,4%. No entanto, a frequência na ingestão de sanduíches e pizzas cresceu de 10,5% para 17%.

"O consumo de frutas já era aquém do esperado em 2008 e caiu ainda mais, o consumo de legumes e verduras está abaixo do esperado e ainda há um aumento na ingestão de sanduíches e refeições rápidas, sobretudo no caso dos adolescentes", afirmou André Martins, do IBGE, responsável pela pesquisa.

Atualmente, os alimentos in natura ou minimamente processados, que constituem a base de uma alimentação saudável, representam bem mais da metade das calorias consumidas pela população brasileira. Somados aos ingredientes culinários processados, comumente utilizados em suas preparações, eles alcançam quase 70% do total calórico.

Os alimentos ultraprocessados, por sua vez, somam cerca de um quinto das calorias consumidas. A maior participação de alimentos ultraprocessados, em relação ao total calórico, foi para os adolescentes (26,7%),sendo intermediária entre adultos (19,5%) e menor entre idosos (15,1%). Para se ter uma ideia, os jovens consomem vinte vezes mais salgadinhos tipo chips, dezesseis vezes mais biscoitos recheados e quatro vezes mais pizzas do que os idosos.

"Embora o percentual geral de alimentos naturais esteja dentro dos parâmetros recomendados, o aumento no consumo de ultraprocessados é preocupante, sobretudo entre os adolescentes", avaliou a presidente do Conselho Regional de Nutricionistas, Manuela Dolinsky, professora do curso de Nutrição da UFF. "E o consumo de verduras, legumes e frutas está muito abaixo das 400 gramas por dia, que é a recomendação."

A frequência da ingestão de sódio acima do limite aceitável é de 53,5%, sendo mais elevada ainda entre os homens adultos (74,2%). A adição de sal a preparações prontas foi referida por 13,5% da população e, novamente, foi mais frequente em homens adultos (16,5%). Já a adição de açúcar é praticada por 85,4% da população.

"É interessante notar que o sobrepeso e a obesidade também aumentam com essa mudança da dieta", disse Dolinsky.

De fato, o último levantamento Vigitel, do Ministério da Saúde, de 2019, mostrou que o percentual de obesos no País passou de 11,8% em 2006 para 19,8% em 2018, um aumento de 67,8% em treze anos. Além disso, o estudo registrou que mais da metade (55,7%) da população brasileira apresenta excesso de peso, um aumento de 30,8% no mesmo período.

Curiosamente, a POF mostrou um aumento na frequencia do consumo de salada crua (de 10,4% para 15,7%) e uma queda significativa no consumo de refrigerantes (de 38% para 27%) --- duas tendências consideradas positivas. Um outro resultado considerado positivo foi a queda do consumo alimentar fora de casa, que passou de 40,2% para 36,5% da população.

No que diz respeito aos macronutrientes, o levantamento revela que a população está muito longe de receber os volumes necessários de cálcio, vitamina A, vitamina C, magnésio e zinco, sem falar nas fibras. Segundo Martins, no entanto, esse déficit não está relacionado necessariamente ao padrão alimentar, mas à suplementação.

A nutricionista Manuela Dolinsky discorda. "Essa deficiência, sem dúvida, está ligada à alimentação", afirmou. "A maior fonte de vitaminas, minerais e fibras são os vegetais." No entanto, afirma, embora nos Estados Unidos e na Europa o consumo de ultraprocessados também esteja aumentando, não são registrados tamanhos déficits de macronutrientes porque praticamente todos os alimentos são fortificados. "Esse é um problema típico de país subdesenvolvido."

Mudança de hábito

Há um ano e meio, o servidor público Leandro Rocha, de 39 anos, decidiu mudar sua alimentação. Deixou de lado alimentos prontos e embutidos e introduziu salada crua nas refeições principais. "Passei a consumir todos os tipos de folhas. Alfaces de diversas variedades, rúcula, couve (sempre crua), agrião, folhas de beterraba, acelga e repolho. Antes disso, raramente comia alguma folha". Desde então, ele come diariamente dois tipos de folhas nas refeições.

A mudança aconteceu por dois motivos: intenção de emagrecer e, ao mesmo tempo, prevenir doenças decorrentes do aumento de peso. "Consegui perder mais de 10 quilos. Hoje estou com 78 quilos. Como tenho na família (mãe e irmãs) com diabete, pressão alta, tireoide e depressão, decorrentes do aumento de peso, entendi que era o momento de mudar a minha alimentação. Esse também foi um dos fatores que me fez querer essa mudança", disse.

Há um ano, depois da nova alimentação introduzida, Rocha também tirou o refrigerante completamente de sua vida. "No começo foi muito difícil, pois parece um vício, até o cheiro te faz querer consumir, mas após uns dois meses sem consumir, eu me acostumei e nunca mais tomei", contou.

Rocha, que também pratica atividade física para manter a qualidade de vida, observou ainda economia no bolso com a nova alimentação. "Folhas no geral são muito mais baratas que alimentos prontos. É realmente um pouco chato fazer a higienização, porém compensa muito. Além da economia no bolso, tem a melhora na saúde", afirmou.

Mesmo durante a pandemia, ele mantém a dieta saudável. "Mantenho da mesma forma a nova alimentação. A única coisa que ocorreu é que, por causa de ansiedade, passei a consumir um pouco mais de chocolate, mas do tipo amargo", confessou.

Estadão
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