Brumadinho: Primos cresceram, trabalhavam e desapareceram juntos na cidade mineira vítima de tragédia
Luis Paulo Caetano e Francis Erick Soares Silva estão entre as 248 pessoas que ainda não foram localizadas desde sexta-feira passada
Os primos Luis e Francis nasceram no mesmo ano, se casaram no mesmo mês, têm o mesmo modelo de carro. Cresceram juntos e trabalham juntos. Também desapareceram juntos.
Eles estão entre as 248 pessoas que ainda não foram localizadas desde sexta-feira passada, quando uma barragem de rejeito de mineração da Vale se rompeu, em Brumadinho, soterrando centenas de funcionários da empresa e moradores da região.
'É muito diferente do que vemos na televisão'
A BBC News Brasil esbarrou com os parentes uma semana depois, em meio ao lamaçal que virou o lugar onde funcionavam estruturas da Vale.
Pai, mãe, irmã, primos - alguns vindos de Campinas, no interior de São Pauli - têm deixado Nova Lima, o município onde moram, em direção a Brumadinho todos os dias em busca de informações.
No dia em que a reportagem os encontrou, eles haviam levado a mãe de Francis até a beira da lama pela primeira vez, a pedido dela.
"Ela foi para ver a real situação. Até então, estava com esperança. Quando você chega e vê aquilo, entende como é difícil (que tenham sobrevivido). É muito diferente do que vemos no televisão", diz Jessica, irmã de Francis. A mãe, que não quis dar entrevista, olhava em silêncio para o mar de lama.
Primos não vão à Vale todos os dias
Luis Paulo Caetano e Francis Erick Soares Silva trabalham na empresa de um parente, fazendo manutenção de tratores. Atendem diversas mineradoras da região, entre elas, a Vale. Por acaso era lá que estavam naquela sexta-feira à tarde.
A última pessoa a ter contato com um deles foi uma prima, com quem Francis trocou mensagens por volta das 11h.
Ao saber do rompimento da barragem, outra prima, que também trabalha na empresa da família, foi até Brumadinho para tentar encontrá-los. Mais tarde, ligou para avisar aos demais parentes que os dois estiveram na mineradora naquela tarde e poderiam estar entre os desaparecidos.
Família unida
"A gente faz tudo em família", diz Jessica, irmã mais nova de Francis. No trabalho e no lazer, estão sempre em grupo. "Nos fins de semana, eles gostam de juntar os amigos para fazer churrasco, beber, conversar", diz ela.
Os dois haviam casado com suas namoradas em novembro passado. Francis tem uma filha de seis anos. Os parentes pediram apoio psicológico para ajudar a menina a entender o desaparecimento do pai.
"Mas, enquanto a gente não tiver certeza, teremos sempre um fio de esperança", diz Jessica.
"Eles eram pessoas alegres. Saudade a gente sente, mas tristeza, vamos tentar não sentir", diz uma prima.