Câmeras corporais mostram momento que PMs liberam motorista de Porsche sem bafômetro
Sindicância realizada pela Polícia Militar constatou que houve falha no procedimento dos policiais que atenderam ao acidente
Imagens registradas pelas câmeras corporais dos policiais militares que atenderam a ocorrência do acidente com o Porsche que matou o motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, de 52 anos, mostram o momento em que o condutor do carro de luxo, o empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, foi liberado pelos policiais militares da cena do crime sem fazer o teste do bafômetro. O vídeo foi obtido e divulgado pela TV Globo.
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Nas imagens, é possível ver que, inicialmente, os policiais militares evitaram que Fernando e sua mãe, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, deixassem o local do acidente quando perceberam os dois se retirando.
"O senhor era o condutor do carro?", questiona uma das PMs, que anda rapidamente em direção ao empresário, que neste momento já tentava deixar o local ao lado da mãe. "Você não pode tirar ele daqui assim, a gente precisa qualificar ele primeiro, para depois a senhora retirar", acrescentou a agente a Daniela.
A mãe de Fernando então afirma que queria apenas levá-lo com urgência ao hospital. Nesse momento, uma testemunha chega a dizer que viu o carro do empresário "passar voando" antes da colisão.
No vídeo, o motorista do Porsche está com a voz arrastada e tem dificuldade de responder algumas perguntas feitas pela PM. Em determinado momento, ele diz: "A gente estava saindo da festa, iríamos para minha casa jogar sinuca, do nada aconteceu um acidente horrível e aconteceu isso, eu não lembro mais de nada".
Após filho e mãe terem sido abordados, eles tiveram seus dados registrados pelos policiais, mas depois foram convencidos pela mulher de que ela levaria o filho sozinha ao hospital, resultando na liberação do condutor. "Pode ir", diz a PM.
Apesar do que afirmou aos policiais militares, Daniela não levou o filho para atendimento médico e o condutor do Porsche foi embora sem se submeter a um exame que poderia confirmar se ele havia consumido bebida alcoólica momentos antes da colisão, que foi registrada por câmeras de segurança.
Erro no procedimento
Uma sindicância realizada pela Polícia Militar constatou que houve falha no procedimento dos policiais que atenderam a ocorrência. Em nota divulgada nesta terça-feira, 23, a SSP afirmou que a sindicância analisou as câmeras corporais dos PMs e identificou que a equipe errou ao não submeter Andrade Filho ao teste do bafômetro.
Diante da constatação do erro, foi aberto um processo de responsabilização dos policiais envolvidos no caso, afirmou a SSP. Os laudos da perícia e as imagens das câmeras corporais foram entregues à Polícia Civil, que investiga o caso.
A pasta apontou, ainda, que está sendo realizada uma reconstituição em 3D do acidente, o que deverá ajudar as investigações, já em fase final. O caso continua em segredo de Justiça, ressaltou a SSP.
Mais cedo nesta terça-feira, o Ministério Público de São Paulo confirmou que Andrade Filho dirigia a 156 km/h quando colidiu contra o carro de Ornaldo, que não resistiu aos ferimentos. A velocidade máxima permitida na Avenida Salim Farah Maluf, onde aconteceu o acidente, é de 50 km/h, três vezes menor que a velocidade do condutor da Porsche. A informação é do laudo da Polícia Técnico-Científica.
A velocidade do carro de luxo no momento da colisão foi estimada pelos peritos após a análise de imagens de câmeras de segurança, que registraram o ocorrido. No entanto, o laudo apresentado é apenas um dos documentos a serem entregues para a Polícia Civil. O Instituto de Criminalística (IC) e o Instituto Médico Legal (IML) também devem preparar conclusões.
Relembre o caso
No dia 31 de março, o empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, de 25 anos, conduzia um Porsche, avaliado em mais de R$ 1 milhão, quando bateu na traseira de um Renault Sandero. O acidente matou o motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, de 52 anos, que diriga o carro popular.
A batida aconteceu por volta das 2 horas da manhã na Avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé, zona leste de São Paulo. Depois de colidir com o veículo de Ornaldo, Fernando fugiu do local. Ele estava com um amigo, o estudante de medicina Marcus Vinícius, no momento do ocorrido. O jovem ficou gravemente ferido e chegou a ser internado.
Já o motorista de aplicativo Ornaldo não teve a sorte de sobreviver à colisão. O condutor do Sandero até chegou a ser socorrido em parada cardiorrespiratória para o Hospital Tatuapé, mas morreu por conta de "traumatismos múltiplos".
Uma informação importante para as investigações é sobre o possível consumo de bebidas momentos antes da batida. Isso porque uma comanda a qual a TV Globo teve acesso mostra que o jovem chegou a gastar R$ 600 em consumo de bebidas alcóolicas em um restaurante da capital paulista pouco antes do acidente.
A emissora também divulgou imagens de câmera de monitoramento que registraram o momento em que a garçonete de um restaurante retira os copos de bebidas alcoólicas da mesa de Andrade Filho.
O empresário foi até o local com a namorada, o amigo Marcus e a companheira dele, Juliana. Depois de ficar três horas no estabelecimento, os dois casais seguiram para uma casa de pôquer. Segundo os depoimentos coletados pela Polícia Civil, eles ficaram cerca de 2h30 na casa de jogos, até que começou uma discussão na saída.
Para a polícia, Marcus e Juliana relataram que Fernando bebeu e que a discussão era para que ele não dirigisse, pois estava “alterado”. No entanto, o motorista do carro de luxo e a namorada negam a informação.