Cantareira precisa de "dilúvio", diz presidente da ANA
Segundo Vicente Andreu Guillo, chuva precisa ultrapassar limite histórico para retomar nível do início de 2014
O presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu Guillo, disse nesta quinta-feira, que o sistema Cantareira, em São Paulo, precisa de um “dilúvio” para chegar a janeiro de 2015 no nível do mesmo mês de 2014. Segundo ele, os reservatórios precisariam receber, até o fim do ano, cerca de 500 bilhões de litros, o que dependeria de uma chuva superior ao máximo histórico para o fim do ano.
“Para chegar a janeiro do ano que vem precisamos de um dilúvio”, disse Guillo, em audiência na Câmara dos Deputados. Atualmente, o Cantareira está cerca de 20% abaixo do nível, enquanto registrava 25% positivos em janeiro de 2014.
Vicente Guillo disse que as obras apresentadas na última segunda-feira ao Palácio do Planalto pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, são positivas, mas não resolvem o problema de forma emergencial. “As obras anunciadas pelo governo do estado numa perspectiva muito positiva com o governo federal resolvem a situação? Não. Essas obras entrarão em funcionamento, na melhor das hipóteses, em alguma coisa em torno de um ano ou dois”, disse.
Para a procuradora Sandra Kishi, que representou o Ministério Público Federal (MPF) na audiência, a crise hídrica que vive o Estado de São Paulo só seria solucionada com uma forte chuva durante 60 dias. “Esse dilúvio é a chuva de 60 dias, mas no volume da pior chuva dos últimos 6 anos. Aí nós vamos provavelmente restaurar a situação que estávamos antes dessa tormentosa crise”, disse.
Na reunião, convocada pelo deputado Guilherme Campos (PSD-SP), o presidente da ANA e a procuradora reclamaram da transparência da Companhia de Saneamento de São Paulo, a Sabesp. Segundo eles, o governo confiou na retomada das chuvas e evitou dizer aos cidadãos sobre a real gravidade do problema. O governo de São Paulo não mandou representantes para a reunião.
A procuradora disse que a Sabesp falta com credibilidade por que, segundo ela, a companhia mantém dados de reservatórios sob sigilo. "Há divergência entre os dados fornecidos pela Sabesp e aqueles constatados em vistoria de campo", disse.
Sandra Kishi também disse que a Sabesp não pediu autorização da ANA para explorar o segundo volume morto do Cantareira. O presidente da agência ponderou, no entanto, que São Paulo utiliza essa parte do volume morto em apenas um dos reservatórios, que pertence ao Estado.