Carnaval de rua de SP terá patrocínio de R$ 23 milhões; nº de desfiles chega a 867
Inscrições para 2022 na capital paulista caíram 9,68%. Licitação do carnaval de 2020, também vencida pela Ambev, é alvo de ação movida pelo MP, que aponta irregularidades
Uma empresa ligada à Ambev (a CRBS S. A.) será a patrocinadora do carnaval de rua da cidade de São Paulo em 2022. A proposta de R$ 23 milhões, o valor mínimo estipulado em edital, foi tornada pública nesta segunda-feira, 8. A gigante do setor de bebidas já havia patrocinado o evento em 2019 e 2020.
A expectativa da Prefeitura é repetir o público de 2020, com 15 milhões de foliões, com 867 desfiles inscritos. A gestão Ricardo Nunes (MBD) tem destacado que a realização dependerá da liberação dos órgãos municipais de saúde, a depender da situação da pandemia da covid-19.
A CRBS S. A. é sediada em Jaguariúna, interior de São Paulo. Ela é voltada à produção de cervejas, refrigerantes e bebidas em geral e tem a Ambev como controladora final.
Nos dois carnavais anteriores, o patrocínio foi da Arosuco, também ligada à Ambev. O contrato de 2020 é alvo de ação aberta pelo Ministério Público (que também envolve outras empresas e pessoas físicas), com a alegação de haver irregularidades no processo licitatório, o que foi negado pelas partes. A ação ainda tramita na 11ª Vara de Fazenda Pública.
A Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social avaliou que "a verdadeira patrocinadora do carnaval de rua de São Paulo de 2020 foi a também requerida Ambev, mas, como referida pessoa jurídica não ostenta regularidade fiscal para contratar com o Poder Público, optou-se por uma negócio simulado, contratando empresa de seu conglomerado, que não ostenta restrições jurídicas ou fiscais".
"Verifica-se com facilidade a veracidade desta conclusão pelo simples fato de que, na publicidade realizada por conta do patrocínio prestado por força do já mencionado contrato, nenhum produto fabricado ou distribuído pela requerida Arosuco fez parte das peças publicitárias, delas constando apenas os produtos da Ambev, que, repita-se, não poderia firmar contrato com o Poder Público, em virtude de inabilitação fiscal", destaca Ricardo Manuel Castro, 9º Promotor de Justiça do Patrimônio Público e Social.
Em nota, a Ambev afirmou que "participou e venceu a licitação para o Carnaval de São Paulo de 2020 de forma regular e de acordo com nossos compromissos com a legalidade e as boas práticas de compliance". Já a Prefeitura de São Paulo disse discordar dos argumentos do Ministério Público, "razão pela qual aderiu ao pólo passivo da ação judicial em questão, a qual se encontra em fase de defesa prévia, não havendo, portanto, pronunciamento judicial quanto ao assunto". "A controvérsia encontra-se sob discussão no Poder Judiciário, a quem incumbe a decisão final", acrescentou.
Carnaval de rua de São Paulo tem 867 desfiles inscritos
Após crescimento nas edições anteriores, as inscrições para o próximo carnaval caíram 9,68%, com 867 solicitações de desfiles para 2022, ante as 960 de 2020. Os cortejos estarão concentrados majoritariamente em oito dias, 19 e 20 de fevereiro (pré-carnaval), 26, 27, 28 de fevereiro e 1º de março (carnaval) e 5 e 6 de março (pós-carnaval).
Como mostrou reportagem do Estadão, parte dos blocos se inscreveu com hesitação e decidirá se desfilará de fato apenas mais próximo da data. O número de desfiles realizados em comparação aos inscritos costuma cair até o carnaval, por motivos relacionados a patrocínio, organização e outros. Em 2020, por exemplo, o Estadão noticiou que mais de 30% do total desistiu até quatro dias antes do início da programação.
Dos 960 desfiles inscritos naquele ano, 670 foram realizados, de acordo com balanço da Prefeitura. A desistência precisa ser notificada com antecedência. Em 2022, o prazo mínimo é de 30 dias e a punição para o descumprimento é a proibição de desfilar por dois anos seguidos. Outra regra é que a dispersão deverá ocorrer às 19 horas.
As inscrições também caíram no Rio, de 731 para 620, uma redução de 15,18%. Por lá, os números também costumam variar até a chegada do carnaval. Do total em 2020, por exemplo, 441 foram autorizados a ocorrer.
Uma pesquisa do Observatório do Turismo da Prefeitura, feita em 2020, apontou que 73,6% dos foliões moram na cidade e que 50,4% vai a mais de um desfile. Entre os visitantes, 59,3% vivem na Grande São Paulo, 20,7% no interior paulista, 19,4% em outros Estados e 0,6% fora do País.
Outro dado apontado no levantamento é que o público majoritariamente utiliza transporte coletivo para ir aos desfiles, principalmente ônibus ou trem (51,4%) e ônibus (31,6%). Durante a programação, são frequentes casos de estações e veículos com alta lotação.
Em coletiva realizada em outubro deste ano, a Prefeitura mostrou ter desenvolvido um cálculo para estimar a capacidade e a quantidade de públicos dos desfiles, com a classificação da aglomeração em cinco níveis (o mais alto é de 6 pessoas por metro quadrado). Estes dados serão utilizados exclusivamente para o planejamento de infraestrutura.
Na ocasião, também foi destacado que 85% do público frequenta cerca de 10% dos blocos, de médio e grande porte. Os chamados megablocos geralmente são liderados por agremiações populares (como o Acadêmicos do Baixo Augusta, por exemplo) e artistas famosos, como a cantora Daniela Mercury e outros.
Ao todo, a edição de 2020 teve 570 blocos e 670 desfiles. A maioria dos desfiles ficou concentrada especialmente na região central (240) e zona oeste (224), majoritariamente nas subprefeituras Sé, Pinheiros e Lapa.
Para 2022, não serão autorizadas inscrições de novos desfiles de pré-carnaval nas subprefeituras da Sé, Pinheiros, Vila Mariana e Lapa, após a avaliação de que há uma grande concentração de blocos neste locais nas duas datas.
Os desfiles de maior porte continuarão concentrados na Rua da Consolação, na Avenida Tiradentes, no Parque do Ibirapuera e em outros sete pontos.
Em outubro, a Prefeitura também anunciou a instalação de tendas temáticas de cuidado infantil e também contra a violência contra a mulher, o assédio, o racismo e a LGBTfobia. Serão distribuídas pulseiras para a identificação de crianças e adolescentes, além de camisinhas.