Casa de família de Djidja era usada para cárcere privado, abusos e tinha cheiro de podridão, diz delegado
Vítimas relatam terem ficado despidas por vários dias e serem obrigadas a fazer uso de alucinógenos
A família de Djidja Cardoso, ex-sinhazinha do Boi Garantido que morreu em Manaus, é alvo de uma operação que investiga a criação da seita religiosa intitulada de 'Pai, Mãe, Vida’, que incentivava, promovia e distribuía ketamina, uma substância analésica usada como droga recreativa. Segundo a polícia, o local onde eles viviam também era usado para manter vítimas em cárcere privado e tinha ‘cheiro de podridão’.
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Em torno do caso, a polícia prendeu o irmão e a mãe da ex-sinhazinha, Ademar Farias Cardoso Neto e Cleusimar Cardoso Rodrigues, por tráfico de drogas e associação ao tráfico. Ele também foi alvo de um mandado por estupro. Em coletiva, o delegado Cícero Túlio, responsável pelo caso, explicou que testemunhas relataram fatos criminosos que indicam a possibilidade prática de estupro de vulnerável.
“Duas pessoas relataram essa situação do estupro, principalmente por terem sido dopadas durante o ato sexual e não se lembrarem nada sobre aquilo. Algumas delas permaneceram despidas por vários dias sem sequer tomar banho, numa situação de cárcere privado. Inclusive no momento em que adentramos naquela residência [onde foram feitas as prisões] o cheiro de podridão era muito forte. Isso tudo é objeto do relatório de investigação”, complementou o delegado Cícero Túlio.
Relembre o caso
Djidja Cardoso, de 32 anos, empresária e ex-sinhazinha do Boi Garantido, foi encontrada morta em casa na manhã de terça-feira, 28, em Manaus (AM). A causa da morte ainda não foi confirmada. Mas o que já foi revelado sobre o caso, que envolve prisão de familiares e uma seita que promovia o uso de drogas?
- Quem é Djidja Cardoso ?
Nascida no Amazonas, ela se apresentou pelo Boi Garantido entre os anos de 2015 e 2020. Em 2021, Djidja foi convidada para participar do reallity show A Bordo, da TV A Crítica. O programa é um concurso de beleza que confina mulheres em um barco em Manaus. Vitoriosa em sua edição, Djidja conquistou o título de Rainha do Peladão e o prêmio de R$ 30 mil. No passado, sua mãe também já tinha vencido o concurso.
Depois desse período, se tornou empresária, abriu uma rede de salões de beleza e começou a prosperar nos negócios. Em meio a isso, se dedicava à criação de conteúdo digital. Nas redes sociais, onde tem mais de 76 mil seguidores, ela compartilhava dicas de beleza, de saúde, sua vida pessoal e rotina de treinos.
Até que, no último dia 28, ela foi encontrada morta em sua casa. De acordo com fonte da rede Amazônica, que preferiu não se identificar, parentes resolveram ir à casa de Djidja após não conseguir contato com ela por telefone. Lá, encontraram o corpo da empresária na cama.
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Sua morte tem relação com uma seita?
Segundo a Polícia Civil, ainda não é possível estabelecer se houve homicídio no caso de Djidja. Mas há, sim, suspeita de que ela tenha tido uma overdose pelo uso indiscriminado de ketamina -- substância que é um analgésico usado como droga recreativa.
A polícia prendeu o irmão e a mãe da ex-sinhazinha, Ademar Farias Cardoso Neto e Cleusimar Cardoso Rodrigues, como suspeitos pela crianção uma seita religiosa intitulada de "Pai, Mãe, Vida", que incentivava, promovia e distribuía essa mesma droga. Eles foram presos na quinta-feira, 30.
Além deles, foram presas Verônica da Costa Seixas, 30, e Claudiele Santos da Silva, 33, funcionárias do salão de beleza mantido pela família de Djidja. Elas seriam responsáveis por induzir outros colaboradores e pessoas próximas à família a se associarem à seita, onde drogas de uso veterinário eram utilizadas.
- Foi a morte de Djidja que deu início à investigação?
Não. De acordo com autoridades policiais, há aproximadamente 40 dias, antes da morte da ex-sinhazinha, foi identificado que o grupo coletava a droga ketamina em clínicas veterinárias e realizava a distribuição do fármaco entre os funcionários da rede de salões de beleza da família Cardoso.
“Ao longo das investigações, tomamos conhecimento de que Ademar também foi responsável pelo aborto de uma ex-companheira sua, que era obrigada a usar a droga e sofria abuso sexual quando estava fora de si. A partir desse ponto, as diligências se intensificaram e identificamos uma clínica veterinária que fornecia medicamentos altamente perigosos para o grupo da seita”, disse Cícero Túlio, delegado à frente do caso. Em coletiva, ele acrescentou que outras duas já relataram situação de estupro, tendo sido dopadas durante o ato sexual.
Durante buscas realizadas na tarde de quinta-feira, 30, e na manhã desta sexta-feira, 31, a Polícia Civil do Amazonas apreendeu centenas de seringas, produtos destinados a acesso venoso, agulhas e ketamina, além de aparelhos celulares, documentos e computadores na residência da família e no salão de beleza e em uma clínica veterinária.
O grupo responderá por tráfico de drogas, associação para o tráfico de drogas, colocação em perigo da saúde ou da vida de outrem, falsificação, corrupção, adulteração de produtos destinados a fins terapêuticos e medicinais, aborto provocado sem consentimento da gestante, estupro de vulnerável, charlatanismo, curandeirismo, sequestro, cárcere privado e constrangimento ilegal. Eles serão submetidos a audiência de custódia e permanecerão à disposição da Justiça.
- Então, são quantas investigações em torno do caso?
Em paralelo, estão ocorrendo duas investigações. A primeira, relacionada à suposta seita e o tráfico de drogas, é conduzida pelo 1º Distrito Integrado de Polícia do Amazonas. Já a causa da morte de Dilemar Cardoso Carlos da Silva, 32 anos, conhecida como “Djidja Cardoso”, está sendo conduzida pela Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS).