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Cenário de novela, Leblon vira praça de guerra em protesto contra Cabral

18 jul 2013 - 02h51
(atualizado às 03h28)
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Um dos endereços mais nobres do Rio de Janeiro, o bairro do Leblon, sofisticado e tradicional cenário das novelas do autor Manoel Carlos, da Rede Globo, teve uma noite completamente atípica na última quarta-feira. Nada de casos de amor que tem o lugar como pano de fundo nas histórias de ficção. No mundo real das manifestações, o cenário foi de caos e destruição, com confronto entre policiais e os que protestavam, bancos e lojas atacadas, bombas explodindo e barricadas montadas dignas de um filme de guerra.

Pelo menos sete pessoas foram detidas e cinco PMs ficaram feridos após os distúrbios.

Tudo isso envolveu o clima de mais um protesto cujo alvo único foi o governador Sérgio Cabral (PMDB). Ele foi o nome mais citado da noite, sendo bastante criticado e xingado pelos manifestantes que tomaram as ruas do bairro, pedindo a saída do político.

O fato é que, na história recente, não se presenciou nada parecido nas ruas do bairro de classe alta, cujo metro quadrado é dos mais caros da cidade. Nas últimas semanas, foram registrados atos em frente à rua Aristides Espínola, onde Cabral tem casa. O da noite de ontem parecia ser mais um deles, mas os manifestantes decidiram sair do script, e tomaram várias ruas da região. Em alguns momentos, o Leblon parecia o Centro da cidade, tradicional palco dos protestos no Rio.

"Ih, ih, ih, o Leblon não vai dormir", bradavam as cercas de 2 mil pessoas que saíram as ruas, e fizeram bastante barulho.

Àquela altura, retornavam à esquina da avenida Ataulfo de Paiva com a Aristides Espínola. Antes, circularam por várias ruas, sem rumo certo, mas com um foco específico: reclamar da postura de Cabral à frente do governo. Foram bem aceitos por boa parte dos moradores, que piscavam as luzes de suas casas ou buzinavam os carros, em apoio ao ato.

"Até o Papa, renunciou, ô Cabral, a sua hora chegou", gritavam. A essa altura, nenhum sinal da polícia por perto.

No meio do percurso, cometeram um único excesso. Quando passavam pela avenida Bartolomeu Mitre, uma chuva de pedras e alguns coquetéis molotov destruiu a portaria de um edifício administrativo da Rede Globo. Alguns ensaiaram uma invasão, mas preferiram seguir adiante.

Tomaram diversas ruas, muitas delas completamente engarrafadas. Nenhum carro foi atacado pelos manifestantes, que circulavam de forma desordenada, e naquele momento, pacificamente. Alguns sinalizavam e indicavam por onde os veículos poderia passar para se livrar da confusão causada pelo ato. Muitos motoristas, inclusive, acenavam ou buzinavam para quem protestava. Os ônibus não escaparam de pichações pleiteando a saída do governador.

Na rua Mário Ribeiro, já na Gávea, uma placa da Jornada Mundial da Juventude pendurada em um poste foi queimada, e indicava que o a passagem do líder do Papa Francisco pelo Rio, deverá realmente ser conturbada.

"Não vai ter Papa", cantavam.

Na volta à rua onde mora o governador, muitos manifestantes com os rostos cobertos chegaram decididos a entrar em confronto com a polícia. Queimando lixeiras, sacos de lixo e plantas, foram montando barricadas nas ruas próximas, e quando se aproximaram do bloqueio, lançaram pedras e morteiros contra a PM.

Bastante criticada nos últimos protestos, a Tropa de Choque da PM adotou uma reação bem mais contida desta vez. Responderam com bombas de gás lacrimogênio e spray de pimenta, mas evitaram avançar pelas ruas do bairro contra os manifestantes, preferindo proteger a área próxima à casa do governador.

Em meio às diversas barricadas montadas, grupos começaram a depredar bancos e algumas lojas. A Toulon, que fica numa das esquinas da Ataulfo de Paiva com a Aristides Espínola, foi completamente saqueada e destruída. 

Os diversos bares e restaurantes do Leblon não foram atacados pelos manifestantes. Alguns, bastantes tradicionais, como a Pizzaria Guanabara, permaneceram de portas abertas, mas muitos encerraram as atividades. O restaurante Santa Satisfação foi uma exceção. Ali, mesas que estavam na varanda foram roubadas e usadas nas barricadas.

No bar Jobi, o proprietário Manuel Rocha se queixava de bombas arremessadas pelos policiais dentro do estabelecimento.

"Ninguém conseguia respirar, todo mundo teve que sair correndo, ninguém pagou as despesas. Infelizmente, muitas pessoas vêm tumultuar os protestos", afirmou. 

Muitos manifestantes seguiram tomando a avenida Visconde de Pirajá, em Ipanema, enquanto os bombeiros apagavam focos de incêndio nas ruas do Leblon. Desta vez, ao contrário das novelas, o final não foi nada feliz na noite de quarta-feira.

Fonte: Terra
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