Uma aura de mistério cerca o local onde fica o edifício Joelma, no centro da cidade de São Paulo. Palco de quase 200 mortes no dia 1º de fevereiro de 1974, o prédio que hoje se chama Edifício Praça da Bandeira foi construído em um terreno marcado por outras mortes em épocas distintas segundo relatos.
Uma das lendas que cercam o local diz que o terreno do Joelma serviu como um “local de castigo” para escravos indisciplinados que trabalhavam na região entre os séculos XVIII e XIX. Negros teriam sido torturados até a morte, gerando a primeira série de mortes no local, considerado por muitos como amaldiçoado.
Antes de ser comprado por uma grande incorporadora, o terreno do Joelma era ocupado pela casa de Paulo Ferreira de Camargo, um professor de química orgânica da Universidade de São Paulo (USP). Em 1948, ele matou a tiros a mãe e duas irmãs, jogando os corpos em um poço que mandara construir dias antes no quintal da casa.
Segundo a versão do professor, seus familiares morreram em um acidente de automóvel durante uma viagem ao Paraná. O relato, porém, não convenceu a polícia, que, ao investigar o caso acabou descobrindo os corpos jogados no poço. Ao perceber que havia sido descoberto, Paulo foi até o banheiro e cometeu suicídio, dando um tiro contra o peito.
Além das mortes de Paulo, da mãe dele e das duas irmãs, o crime do poço ainda deixou uma vítima indireta, já que um dos bombeiros que participaram do resgate dos corpos morreu dias depois por infecção cadavérica, o que aumenta o número de mortes no terreno.
Construção do Joelma
Com 25 andares, sendo dez de garagem, o Joelma foi inaugurado em 1971, no mesmo terreno que ficou conhecido pelo Crime do Poço. Apesar de ser um prédio novo, ele foi consumido em questão de minutos por um incêndio que deixou 191 pessoas mortas e feriu mais de 300 no ano de 1974.
As mortes violentas provocadas pelas chamas logo contribuíram para o surgimento de histórias envolvendo a presença de espíritos inquietos nos corredores do prédio.
Uma das histórias mais famosas, recontada diversas vezes entre os frequentadores do prédio, é a do caso de uma funcionária de um escritório de advocacia que teria ouvido, já tarde da noite, um barulho de porta sendo aberta. Porém, quando ela foi verificar, a porta continuava fechada.
Instantes depois, ela ouviu o mesmo barulho e avistou o vulto de uma mulher passando pela sala de entrada. Quando chegou perto, porém, a funcionária não viu ninguém. Com medo, ela saiu do escritório rapidamente e, ao trancar a porta, viu novamente o vulto de uma mulher ao fundo no corredor. Segundo relatos, a assistente se demitiu, já que seria obrigada a ficar até tarde da noite outras vezes.
Fantasma no estacionamento
Outro relato famoso é o de um suposto entregador que teria avistado um fantasma no estacionamento do edifico. Enquanto esperava seu ajudante retornar ao carro, ele viu uma mulher vestida toda de branco, flutuando em direção ao seu carro.
Assustado, o homem disse que saiu do local em direção ao colega de trabalho. Após a entrega, ele foi embora e não voltou mais ao prédio.
<a data-cke-saved-href="http://noticias.terra.com.br/infograficos/mapa-tragedias/" href="http://noticias.terra.com.br/infograficos/mapa-tragedias/">Mapa das tragédias</a>
Joelma, 23º andar
Em 1979, um filme com o roteiro baseado nas cartas psicografadas por Chico Xavier creditadas à uma das vítimas do Joelma também ganhou contornos sobrenaturais. Durante as filmagens do longa “Joelma, 23º andar”, membros da equipe relataram ruídos misteriosos, refletores caindo sem motivo aparente e até o registro “sobrenatural” em uma fotografia.
A imagem, do momento em que os atores gravavam uma cena crucial, quando as personagens eram atingidas pelas chamas, uma forma transparente também é translúcida. Ninguém soube explicar o que seria aquela “sombra”. Alguns acreditam que seja o espírito de uma mulher que morreu durante o incêndio.
O mistério das 13 almas
O maior mistério envolvendo o incêndio do Joelma, porém, envolve as supostas almas de 13 pessoas que morreram presas no elevador do edifício no dia do incêndio. As vítimas morreram carbonizadas e, devido ao estado dos corpos, não foi possível fazer a identificação, já que não existia teste de DNA na época.
Os 13 cadáveres foram enterrados lado a lado no Cemitério São Pedro, na Vila Alpina, zona leste da capital, em uma espécie de memorial. Desde então, o local atrai peregrinos que passaram a atribuir supostos milagres às 13 almas do edifício Joelma.
Ao lado das sepulturas, foi construída uma capela em memória às 13 almas. É costume dos visitantes do local deixar copos d’água sobre os túmulos, o que seria uma forma de aliviar o sofrimento daqueles que morreram queimados.
A ritual começou quando frequentadores do cemitério relataram que, em um certo dia, pouco tempo após o incêndio, foram ouvidos gemidos e choros vindo da área das 13 sepulturas. Sabendo da causa das mortes, uma pessoa resolveu derramar água sobre os túmulos, o que teria cessado os gemidos.
No local, existem faixas e placas com agradecimentos por graças alcançadas por intermédio das 13 almas.
Incêndio no Joelma completa 40 anos; veja relatos:
O prédio foi consumido pelas chamas do incêndio que começou no 12º andar
Foto: Jornal do Brasil/Arquivo / Reprodução
Bombeiros trabalhando no combate às chamas no Edifício Joelma
Foto: Jornal do Brasil/Arquivo / Reprodução
A densa fumaça prejudicou o trabalho de resgate
Foto: Jornal do Brasil/Arquivo / Reprodução
A região da praça da Bandeira foi tomada por equipes de resgate e curiosos
Foto: Jornal do Brasil/Arquivo / Reprodução
Vítimas observam as labaredas nas salas ao lado
Foto: Jornal do Brasil/Arquivo / Reprodução
O calor e a fumaça fizeram com que muitas pessoas ficassem isoladas em parapeitos
Foto: Jornal do Brasil/Arquivo / Reprodução
Vítimas do incêndio são resgatadas pela escada do Corpo de Bombeiros
Foto: Jornal do Brasil/Arquivo / Reprodução
Relatos de sobreviventes viraram destaques no jornal O Globo
Foto: Reprodução
O jornal Folha de S, Paulo destacou a tragédia na cidade
Foto: Reprodução
No dia seguinte ao incêndio, o jornal O Estado de S. Paulo destacou o número de mortos até então
Foto: Reprodução
O prédio foi rebatizado após a tragédia que deixou quase 200 mortos. Hoje, o edifício se chama Praça da Bandeira
Foto: Marcelo Pereira / Terra
O prédio ainda é um importante centro comercial no centro de São Paulo
Foto: Marcelo Pereira / Terra
O incêndio começou com uma pane em um aparelho de ar-condicionado, como algumas dezenas que ainda fazem parte do cenário do Edifício Praça da Bandeira
Foto: Marcelo Pereira / Terra
A arquitetura do Joelma mudou muito pouco nas últimas décadas
Foto: Marcelo Pereira / Terra
Com a reforma, o prédio passou a seguir as novas normas de prevenção a incêndios
Foto: Marcelo Pereira / Terra
Muitas vítimas ficaram esperando socorro no parapeito das janelas do prédio
Foto: Marcelo Pereira / Terra
O edifício fica em uma das avenidas mais movimentadas da capita, a Nove de Julho
Foto: Marcelo Pereira / Terra
Hiroshi Shimuta trabalhava no 22º andar do Joelma e conseguiu escapar das chamas: "Parece que isso aconteceu ontem"
Foto: Marcelo Pereira / Terra
"Quando chega fevereriro, anualmente eu rezo e acendo uma vela", disse Shimuta
Foto: Marcelo Pereira / Terra
O sobrevivente disse que o nascimento dos filhos, 12 dias antes da tragédia, lhe deu força para conseguir escapar daquilo que ele chamou de "inferno"
Foto: Marcelo Pereira / Terra
"Pedia a Deus toda hora, que me desse uma segunda chance", falou
Foto: Marcelo Pereira / Terra
"A minha dívida é muito grande diante da sociaedade e perante ao nosso pai (Deus)"
Foto: Marcelo Pereira / Terra
Shimuta lembra de ter visto muitas mortes e como esse evento marcou a sua vida para sempre
Foto: Marcelo Pereira / Terra
"Eu vi que algumas pessoas tentavam descer pela escada Magirus, contei cinco pessoas descendo. A sexta pessoa, talvez por desespero, passa a escorregar, ele acabou levando todo mundo e as seis acabaram morrendo
Foto: Marcelo Pereira / Terra
Shimuta olha para o edíficio onde quase perdeu a vida há 40 anos
Foto: Marcelo Pereira / Terra
Relembrando a tragédia, ele mostra onde estava no dia do incêndio
Foto: Marcelo Pereira / Terra
Shimuta celebra a "nova vida" após ter saído do incêndio
Foto: Marcelo Pereira / Terra
Manuel Nogueira Neto passa em frente ao edíficio todos os dias. Em 1974, seu irmão foi um dos últimos a ser resgatado pelo helicóptero da FAB. "Ele se aguentou sobre corpos de colegas deles", disse
Foto: Marcelo Pereira / Terra
"Para o meu irmão, o dia 1º de fevereiro é um aniversário. Toda a família comemora o aniversário duas vezes"
Foto: Marcelo Pereira / Terra
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