Cerrado atinge novo recorde de queimadas no mês de junho, com média de 139 focos por dia
Foram registrados 4.181 focos no último mês, quase 20% a mais do que no mesmo mês do ano passado. A chegada da temporada de incêndios tem mobilizado os governos da região do Cerrado e do Pantanal
O número de pontos de incêndio no Cerrado atingiu um novo recorde no mês de junho deste ano. Foram registrados 4.181 focos no último mês, o equivalente a 139 por dia e quase 20% a mais do que no mesmo mês do ano passado. No acumulado do ano, 9.568 focos de incêndio foram registrados no bioma. São os maiores números desde 2010 tanto para o mês de junho quanto para o semestre inteiro.
A chegada da temporada de incêndios tem mobilizado os governos da região do Cerrado e do Pantanal. Pouco mais de um quarto dos focos do Cerrado, 1.134, foram registrados no Tocantins. As unidades de conservação estaduais concentram 216 pontos de incêndio e as federais, 182. Outros 645 foram em terras indígenas.
Três Estados da região central do Brasil - Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul - tiveram alerta de emergência hídrica devido à falta de chuvas. Em Mato Grosso, onde a proibição do uso de fogo na agropecuária foi antecipada em 15 dias, até uma brigada indígena foi criada para combater incêndios. Já o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) vai contratar 1.200 brigadistas para reforçar a proteção às unidades de conservação.
O Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) emitiu alerta de emergência hídrica associada à escassez de chuvas para os Estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná, no período de junho a setembro de 2021.
Estudos meteorológicos indicam que a região central do País entra na estação seca com menor volume de chuvas, aumentando também o risco de incêndios. Em junho, essa região registrou 27 milímetros de chuva, abaixo da média histórica de 98 mm. Os cinco estados enfrentam a pior seca dos últimos 91 anos, segundo o SNM.
Apesar de o agronegócio ter mais consciência ambiental do que tinha há uma década, o avanço da fronteira agrícola também colabora para o incremento nas queimadas. A expressão se refere ao avanço da produção agropecuária sobre o meio natural.
"Hoje já é senso comum em uma parte do agronegócio que o desmatamento precisa acabar. Mas, na prática, ainda há um alto índice de desmatamento relacionado ao avanço da fronteira agrícola na Amazônia e no Cerrado", diz Márcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima.
Caatinga também vê alta
Na Caatinga, a situação é igualmente preocupante. O bioma registrou 354 focos de queimada em junho, 326% a mais do que no mesmo período do ano passado. No primeiro semestre de 2021, foram 1.609 pontos de incêndio, o maior número desde 2012.
O Estado do Piauí concentra o maior número de focos da Caatinga, especialmente na cidade de Floriano (80). Houve ainda 13 pontos em unidades de conservação federais, sete em unidades estaduais e um em terras indígenas.
Registros do Pantanal têm queda após ano recorde; medidas são reforçadas
As queimadas no Pantanal, que aumentaram bastante nos dois primeiros anos de governo do presidente Jair Bolsonaro, diminuíram. Em junho deste ano houve 98 focos de incêndio. No ano passado, quando o bioma sofreu com queimadas intensas que provocaram a morte de milhares de animais, foram 406 focos.
Em Mato Grosso do Sul, um plano de chamada imediata prevê a mobilização de 303 bombeiros militares para combater incêndios ainda na fase inicial.
Em 2020, os incêndios devastaram o Pantanal, um dos mais importantes ecossistemas do país. De janeiro a outubro, as chamas atingiram 4,1 milhões de hectares do bioma, segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Mais de um quarto da área total do Pantanal brasileiro foi queimado. De janeiro a junho deste ano, o Estado registrou 974 focos, 64% menos que em 2020.
As ações preventivas começaram em meados de abril, quando equipes do Corpo de Bombeiros Militar vistoriaram propriedades rurais, parques estaduais e zonas de amortecimento.
"Fizemos 226 incursões para mapear estradas e acessos, vistoriar aceiros e pontes, orientar produtores rurais, verificar pistas de pouso e fontes para captação de água", disse o comandante, coronel Hugo Djan Leite. Os 154 bombeiros percorreram 67 mil km de estradas e picadas para chegar aos locais críticos. Neste mês, estão previstas cerca de 500 ações semelhantes.
Um decreto estadual publicado no final de abril criou um plano estadual de manejo integrado para disciplinar o uso autorizado do fogo em atividades agropecuárias. O decreto dá ao corpo de bombeiros poder para fiscalizar essas atividades.
De julho a novembro, o Pantanal vai receber pela primeira vez ações de prevenção de incêndios pelo Manejo Integrado do Fogo (MIF), do ICMBio. A técnica, inédita para o bioma, simula a queima natural, eliminando material combustível sobre o solo com o uso de equipamentos que direcionam pequenos focos controlados de fogo no terreno.
No último dia 24, uma brigada de pronto emprego com 100 brigadistas, dividida em 14 esquadrões, se colocou em prontidão em Brasília para se deslocar a qualquer unidade de conservação do país em caso de incêndio.
Conforme o ICMBio, os brigadistas foram treinados para atuar em todos os biomas. Eles podem ser deslocados sem desfalcar o efetivo atual das unidades. Só no bioma cerrado são 129 unidades. "Com a chegada da temporada de estiagem, o instituto segue um cronograma de prevenção aos incêndios em todo o país", disse, em nota.
Em Mato Grosso, o governador Mauro Mendes (DEM) abriu a temporada de prevenção a incêndios florestais e desmatamento ilegal, nesta quinta-feira, 1º, com a entrega de 40 viaturas e equipamentos para bombeiros e brigadas de combate ao fogo.
Ele anunciou verba de R$ 73 milhões para investir durante a temporada, incluindo a locação de helicópteros e viaturas. "É um volume expressivo para que possamos minimizar os impactos dos incêndios em nosso estado", disse.
Mendes disse que o estado espera auxílio do governo federal para combater o fogo em áreas da União, como terras indígenas e unidades de conservação federais. A secretária de Meio Ambiente, Mauren Lazzaretti, disse que só no Pantanal foram treinadas 400 pessoas para combater as chamas, inclusive com a formação de uma brigada indígena.
O Ministério da Defesa disse que as Forças Armadas irão realizar ações preventivas e repressivas contra delitos ambientais, "em especial o desmatamento ilegal, em terras indígenas, em unidades federais de conservação ambiental e em áreas sob posse ou propriedade da União nos municípios dos Estados do Amazonas, Mato Grosso, Pará e Rondônia". "Cabe ressaltar que outras áreas desses municípios podem ser abrangidas, mediante aprovação de requerimento do Chefe do Poder Executivo daquele Estado."
A pasta federal informou que teve início na segunda-feira, 28, a Operação Samaúma, com emprego da Marinha, Exército e Aeronáutica. "As Forças Armadas atuarão de modo coordenado com o Conselho Nacional da Amazônia Legal (CNAL), buscando a articulação com os órgãos e entidades de proteção ambiental e os órgãos de segurança pública."