Chuva em SP: “Fiquei no carro das 2h às 8h para rio baixar”
Na volta pra casa, recém-chegado a São Paulo viu a destruição causada pela chuva antes que o dia revelasse estrago
Recém-chegado à Região Metropolitana de São Paulo, o baiano Gabriel Ramos, 27 anos, deixou uma festa de forró em Pinheiros, Zona Oeste da Capital, antes do fim para poder voltar para casa sem sustos. Apesar de novato na cidade, sabia do horário de fechamento do Metrô.
Talvez tivesse sido melhor curtir a festa até o fim. Chegando à estação Tamanduateí, onde faria a baldeação para a CPTM e seguiria para sua residência, em São Caetano do Sul, encontrou os trilhos alagados.
Deste ponto em diante, a volta para casa de Gabriel é uma das incontáveis histórias de moradores da Grande São Paulo que foram de alguma forma atingidos pelas fortes chuvas deste domingo (10). Até a publicação deste texto, foram confirmadas onze mortes.
Na manhã desta segunda-feira (11), quando milhões de pessoas saiam de casa para trabalhar, os prejuízos causados pelo temporal começavam a se revelar. Gabriel viu parte do caso ainda se formando, horas antes.
Enquanto estava no Metrô em direção à estação Tamanduateí, ouviu um aviso de que a linha Turquesa da CPTM – a que precisava pegar – estava fechada. “Achei que seria algo mais simples. Estava chovendo bastante, mas em meia hora, uma hora [a linha] iria retornar [ao normal]”.
Após constatar que não haveria funcionamento tão cedo, desceu novamente ao Metrô, voltou uma estação. Pediu transporte por meio de um aplicativo, mas ninguém aceitava a corrida.
Por volta de 1h, um motorista – Gusttavo, com quem Gabriel conversou bastante nas horas seguintes – respondeu ao chamado. Ele também mora no ABC Paulista (em Santo André, mais precisamente), estava no fim do trabalho e precisava voltar para casa.
Tentaram todas as entradas conhecidas para São Caetano, mas nenhuma era transitável. “No caminho era só desgraceira. Árvore derrubada, casa destruída, carro inundado, arrastado. Vi uma concessionária inundada com uns 15 carros atingidos”. Sem contar carros de bombeiros e ambulâncias fazendo resgates.
Por volta das 2h, resolveram parar em frente a uma das entradas e esperar que o rio Tamanduateí baixasse.
O motorista foi camarada com Gabriel. Como de qualquer maneira precisava ir para um lugar próximo do destino do passageiro, cancelou a corrida no celular para que não ficasse um preço exorbitante.
Só por volta das 8h o nível da água baixou e foi possível chegar em casa. Naquela altura, Gabriel já estava atrasado para o trabalho. Ele presta serviços de automação para a GM em São Caetano, com horário de entrada às 7h. Por isso se mudou de Salvador, sua cidade natal.
O projeto começou recentemente, está em São Paulo desde terça-feira (12). Sua passagem pela empresa deve durar até o fim do ano, depois vai para onde tiver mais trabalho. Levará lembrança de uma das chuvas que mais castigou a maior cidade do Brasil nos últimos tempos. “Nunca vi algo desse tipo, não”.