Script = https://s1.trrsf.com/update-1734630909/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Chuva em São Sebastião foi 3 vezes maior que temporal de 2014, evento 'mais extremo' da história recente na região

Diretor-técnico do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, que elaborou plano de redução de riscos para o município, diz que eventos climáticos como os que afetaram a região nos últimos dias 'são esporádicos e difíceis de prever, como no caso dos terremotos'.

20 fev 2023 - 20h54
(atualizado em 21/2/2023 às 00h09)
Compartilhar
Exibir comentários
Morador em São Sebastião, no litoral paulista, tenta recuperar objetos levados pela enchente
Morador em São Sebastião, no litoral paulista, tenta recuperar objetos levados pela enchente
Foto: Sebastião Moreira/EPA-EFE/REX/Shutterstock / BBC News Brasil

A região de São Sebastião, uma das mais afetadas pelas inundações e deslizamentos no litoral norte de São Paulo, recebeu 640 mm de chuva em 24 horas.

O volume é mais de três vezes maior que o registrado em 2014, quando choveu 179 mm em dez horas - o evento climático mais extremo da história recente do município, conforme relatório do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).

Elaborado em 2018 e divulgado no ano seguinte, o documento, chamado de Plano Municipal de Redução de Riscos para São Sebastião, mapeou as principais áreas vulneráveis, os riscos de inundações e dos chamados "movimentos de massa", termo que engloba vários tipos de instabilidade de solos, rochas e detritos, entre eles os deslizamentos.

Além do diagnóstico, ele traz recomendações de ações para mitigação das ameaças, que, conforme Fabrício Araújo Mirandola, diretor técnico da Unidade de Negócios em Cidades, Infraestrutura e Meio Ambiente do IPT, vinham sendo observadas em São Sebastião nos últimos anos.

"Temos conhecimento de que o município vinha atuando no planejamento e na gestão dos riscos, com implementação de medidas estruturais e não estruturais e na regularização fundiária de alguns bairros", disse, por e-mail, à reportagem da BBC News Brasil.

Para ele, eventos climáticos como os que afetaram a região nos últimos dias "são esporádicos e difíceis de prever, como no caso dos terremotos".

"As prefeituras dos municípios atingidos estavam com equipes em alerta e prontidão, e estas fizeram diversos atendimentos emergenciais desde o início das chuvas. Esse fato, sem dúvida, salvou diversas vidas", afirmou, acrescentando que a média de chuvas para o mês de fevereiro inteiro na região é de 225 mm.

"Ou seja, em 24 horas tivemos três vezes o volume de chuvas esperado para 28 dias."

O IPT tem no momento duas equipes em campo nas áreas afetadas, em São Sebastião e em Ubatuba.

'Certificado de resiliência'

Na manhã de segunda (20/2), técnicos do instituto, junto com a Defesa Civil, sobrevoaram parte da rodovia SP-055 (trecho da BR-101 conhecido como Rio-Santos) para elaborar um diagnóstico geológico-geotécnico das situações mais críticas e identificar os bairros e núcleos que acabaram ficando isolados devido às dezenas de deslizamentos ocorridos ao longo da estrada.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou na noite de segunda que a rodovia tem dez pontos de bloqueio e que alguns de seus trechos podem ter sido arrastados pelas enxurradas.

Até o momento, há 40 mortos - 36 em São Sebastião -, mais de 40 desaparecidos e centenas de desalojados e desabrigados.

O município é um dos 66 em São Paulo que receberam neste ano um "certificado de resiliência", dado com base em indicadores de gestão de risco e desastres no âmbito do Programa Município Resiliente, criado em 2019 pelo governo do Estado.

Conforme a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente de São Paulo, o programa é uma das iniciativas colocadas em prática para tentar fazer frente à "crise climática global, que está cada vez mais grave, tem causado ocorrências mais frequentes de eventos extremos como deslizamentos, inundações, erosão acelerada e tempestades, e tem afetando gravemente populações em situação de vulnerabilidade, socioeconômica e ambiental".

A reportagem tentou contato com a Prefeitura de São Sebastião para conversar sobre os eventos climáticos extremos dos últimos anos, sobre a implementação do plano de redução de riscos e sobre os alertas de temporais na região nos últimos dias, mas não obteve retorno.

A forte chuva registrada no município em 2014, que ocorreu na madrugada de 23 de dezembro, bloqueou trechos da Rio-Santos e também provocou deslizamentos, alagamentos e isolou praias em São Sebastião.

O relatório do IPT traz a análise de que o episódio atingiu "excepcional gravidade provavelmente porque combinou a ação de diversos fenômenos: maré alta, alagamento por insuficiência da rede de microdrenagem e, considerando a topografia acidentada da região, enxurradas produzidas por precipitações em regiões montanhosas".

O documento mostra ainda o cálculo do chamado "período de retorno", que é o "o intervalo de tempo médio em anos que um determinado evento é igualado ou superado ao menos uma vez", e conclui que eventos como esse podem frequentes e que "medidas devem ser tomadas no sentido de prover sistemas de alerta e de contingência, de modo a evitar consequências danosas, sobretudo à população mais vulnerável".

À BBC News Brasil, Mirandola afirmou que um novo estudo deve ser realizado após o evento climático do fim de semana, já que dados novos de entrada - especialmente quando estão fora da média pluviométrica - são relevantes para se definir o período de retorno.

- Este texto foi publicado em

https://www.bbc.com/portuguese/articles/czrmpxdk443o

BBC News Brasil BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade