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Com medo, viúva de garçom morto em operação policial muda de estado: 'A gente era pobre, mas não ladrão'

Filipe está entre os mortos na Operação Escudo; familiares dele e de outros rapazes denunciam execuções nas comunidades de Guarujá

7 ago 2023 - 10h30
(atualizado às 10h36)
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Filipe do Nascimento, de 22 anos, trabalhava em uma barraca de praia em Guarujá, no litoral de São Paulo
Filipe do Nascimento, de 22 anos, trabalhava em uma barraca de praia em Guarujá, no litoral de São Paulo
Foto: Reprodução/Facebook

A esposa do garçom Filipe do Nascimento, de 22 anos, morto durante a Operação Escudo em Guarujá, no litoral de São Paulo, relatou que, por medo, mudou de estado após o que ocorreu com o marido. Em entrevista ao Fantástico deste domingo, 6, ela reforçou que o marido não tinha arma de fogo e que teria sido vítima de execução, assim como já relatado pelo patrão da vítima

Filipe trabalhava em uma barraca de praia em Guarujá. No entanto, no último dia 31 foi morto por policiais militares no bairro Morrinhos. A Secretaria de Segurança Pública alega que todas as pessoas mortas na Operação Escudo trocaram tiros com os agentes. No entanto, o patrão do rapaz, sua família e amigos afirmam que Filipe era trabalhador, havia saído apenas para ir ao mercado naquela noite e não tinha arma de fogo. 

O jovem está entre os mortos na Operação Escudo. A ação -- que começou em 28 de julho e está prevista para prosseguir até 28 de agosto -- foi iniciada com o objetivo localizar e prender os assassinos de Patrick Bastos Reis, policial militar das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), tropa de elite da corporação. O agente foi morto a tiros no dia 27, na comunidade da Vila Zilda.

No entanto, a operação prossegue mesmo após a Polícia Civil ter concluído as investigações sobre o caso e informar que todos os suspeitos foram presos. Filipe, não era um dos suspeitos pelo crime, e, segundo a família, já havia sido abordado por policiais militares horas antes de ser morto na comunidade em que morava. 

"O vizinho falou assim para mim: 'Eu vi quando o policial pegou teu marido, jogou lá dentro da casa e lá deram três tiros' ", contou a esposa dele ao Fantástico

O barraco em que Filipe foi encontrado morto fica há cerca de 30 metros de onde o casal morava. Além disso, a mulher diz ter presenciado outro fato suspeito. "Eu vi um policial pegando a minha bicicleta [que Filipe tinha usado para ir ao mercado]. Jogou dentro do mangue. Aí eu falei assim: 'Policial, essa bicileta é minha'. A gente era pobre, mas a gente não era traficante. A gente não era ladrão. A gente não era assassino", afirmou. 

Filipe trabalhava em um quiosque da praia havia três anos e sonhava em ser influenciador digital. Em entrevista ao Terra e nas redes sociais, o patrão dele o defendeu e reforçou a índole do jovem. "Eu tinha fotos dele trabalhando, comprovante de pagamento, argumentos que contradizem a polícia. Ele já trabalhava comigo faz tempo. Então tem uma base sólida que ele não era envolvido. Realmente aconteceu por essa questão de classe, preconceito por ser negro", lamentou Douglas Brito. 

Denúncias de abuso policial

Desde o início da Operação Escudo, moradores das comunidades relatam casos de abusos policiais. No dia 1º, o Terra passou a manhã visitando bairros que estão vivenciando a tensão desde o início da operação da Polícia Militar na última sexta-feira, 28. Nesses locais, além de ruas vazias e rastro de sangue, a população relatou sentir medo da situação e até mesmo de falar demais sobre o que estão vivendo nos últimos dias. 

Ao Fantástico, moradores também se queixaram que PMs estariam entrando nas casas sem ordens judiciais. "Ninguém está aguentando mais essa opressão desses policiais. Já entraram três vezes na minha casa com os meus filhos pequenos", disse uma moradora, que preferiu não se identificar.

"A polícia te pergunta se você tem passagem, se você tiver é esculacho. Eu vi tanta gente já apanhando aqui na comunidade. Eu não criminoso, eu não sou bandido, pra andar com medo na comunidade onde eu vivo", acrescentou outro morador. 

"Ele chamou minha filha de pu**, vaga*****. Não é o jeito dele falar com uma criança, uma adolescente. Ele falou que pra dar um tiro na nossa cara, pra eles não dá nada", contou uma moradora. 

Familiares e testemunhas alegam execuções

Além de Filipe, familiares de outros moradores das comunidades denunciam execuções. A esposa de Cleiton Barbosa Moura, uma das vítimas da operação policial em Guarujá, alegou que o marido foi executado pela polícia. Ela contou que Cleiton foi arrastado de sua residência até um mangue, onde foi "fuzilado" na presença do filho de apenas 10 meses. 

De acordo com informações de vizinhos relatadas ao Estadão, o vendedor ambulante Felipe Vieira Nunes, de 30 anos, também foi executado. Ele foi morto com 9 tiros na noite de sexta-feira, 28, nas proximidades de sua residência na Vila Baiana. As testemunhas afirmam que ele não ofereceu resistência à abordagem e estava desarmado. No entanto, no boletim de ocorrência, a Polícia Militar afirmou que ele atirou primeiro contra os policiais.

Fonte: Redação Terra
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