Com shopping fechado, sem-teto mostram notas de R$ 50 e cartões
Um adesivo colado na porta do estabelecimento, que informava a autorização para a entrada de cães com coleira foi ironizado
O "rolezão" proposto pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) nos shoppings Jardim Sul e Campo Limpo, ambos na zona sul da capital paulista, terminou na porta dos estabelecimentos comerciais, fechados mais cedo por questões de segurança, na tarde desta quinta-feira. As cerca de 500 pessoas que caminharam cerca de 1 quilômetro entre a estação Giovanni Gronchi da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) até o estabelecimento comercial exibiram notas de R$ 50 e cartões bancários como protesto por serem barrados. Até um adesivo colado na porta do estabelecimento, que informava a autorização para a entrada de cães com coleira foi ironizado. "Negros, pobres e favelados não são bem-vindos", disse Jussara Bastos dos Santos, uma das coordenadoras do movimento.
O grupo que foi ao Jardim Sul foi formado por membros das ocupações Faixa de Gaza, em Paraisópolis , e Capadócia, em Campo Limpo, ambos na zona sul. Mulheres formaram o bloco majoritário, acompanhadas de algumas crianças. Já na saída, Jussara, em um discurso improvisado, resumiu o objetivo do "rolezão".
"Nós fazemos parte de um movimento político. Os jovens estão sendo barrados por conta da cor da pela e das suas vestimentas. Falam em supostos arrastões, mas não apresentam provas. No nosso movimento, é muito incomum haver confusão", disse ela.
Outra coordenadora do movimento, Ana Paula Ribeiro, disse que os sem-teto fazem coro ao movimento dos jovens, justamente por ter as mesmas dificuldades apresentadas por eles. "A nossa pauta principal é a moradia, mas também queremos direito à cultura e ao lazer", afirma.
A direção do shopping, que fecha às 22h, informou que decidiu encerrar as atividades mais cedo por medida de segurança. O estabelecimento colocou seguranças particulares nos acessos. Na entrada principal, havia cerca de 20 homens e uma barreira de grades de proteção. Quando os manifestantes se aproximaram de um dos acessos, houve um princípio de tumulto, que foi contido.
Quando perceberam que não seria possível entrar, os manifestantes passaram a ironizar os seguranças. Cartões bancários e de crédito foram levantados, assim como notas de R$ 20 e R$50. Alguns gritos deram o tom do protesto. "Tô com fome, quero entrar para comer", gritou um manifestante. Outro ironizou as pessoas que não conseguiram sair a tempo do shopping e acabaram ficando lá dentro. "Tá todo mundo preso, querendo sair. Nós vamos dormir aqui hoje". Outro completou. "Nós vamos morar no Morumbi".
Um pouco depois, um deles lembrou que precisava de um "celular novo". Um garoto disse em voz alta que queria comprar uma casquinha de sorvete. Outro pleiteou uma entrada no cinema.
Durante todo o protesto, a Polícia Militar se limitou a acompanhar à distância a caminhada dos sem-teto. Não foi vista a presença de policiais em frente ao shopping quando o grupo chegou ao local.