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Comida no lixo e busca de diesel para gerador: os prejuízos com o apagão em Pinheiros

Associação de bares e restaurantes moveu ação na Justiça pedindo indenização para a Enel; empresa acionou reforços de outros Estados para acelerar o restabelecimento do serviço

15 out 2024 - 07h45
(atualizado às 09h20)
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Comerciantes da Rua Joaquim Antunes em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, trabalharam à luz de vela
Comerciantes da Rua Joaquim Antunes em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, trabalharam à luz de vela
Foto: Fábio Vieira/Estadão / Estadão

Era difícil passar na segunda-feira, 14, pelo cruzamento das ruas Joaquim Antunes e Cardeal Arcoverde, na região de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, sem sentir um forte cheiro de comida estragada saindo dos sacos de lixo dispostos na calçada para coleta por ali.

Moradores e comerciantes tentam calcular os prejuízos com o novo apagão que deixou parte dos imóveis quase três dias sem luz. A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel-SP), promete ajuizar nova ação contra a concessionária Enel exigindo que a empresa indenize os bares e restaurantes pela perda financeira.

A Advocacia-Geral da União também prevê medidas judiciais para que os clientes da empresa sejam ressarcidos.

Na região de Pinheiros, moradores ficaram mais de 60 horas sem luz, em rotina marcada por improvisos para tomar banho - para alguns, a solução foi usar até canecas para evitar a água fria do chuveiro - e pela correria de funcionários dos prédios da rua para manter os geradores emergenciais ligados.

Na manhã desta terça-feira, 15, ainda eram 250 mil imóveis sem o serviço na Grande São Paulo. A concessionária não deu prazo para o restabelecimento total de energia, mas o ministro de Minas e Energia afirmou que a empresa tem três dias para resolver os problemas de maior volume.

A concessionária disse que vai cumprir esse prazo e afirmou ter recebido equipes de reforço de outros Estados e até de outros países para acelerar o restabelecimento da luz em todos os imóveis afetados. Na sexta-feira, 11, o blecaute chegou a atingir 2,1 milhões de imóveis logo após o temporal.

"Teve um morador que relatou um prejuízo de R$ 2 mil só em mantimentos jogados fora, principalmente carnes", contou José Azevedo, de 54 anos, zelador de um prédio com mais de 60 apartamentos na região. Segundo ele, a quantidade de sacos de lixo que tiveram de ser retirados do edifício onde trabalha foi muito maior do que a usual.

Entre os alimentos descartados, estão desde carnes que antes estavam congeladas a marmitas inteiras, algumas delas já porcionadas por moradores que não contavam com o apagão para passar a semana. "Normalmente a gente sai com quatro sacos de lixo. Na segunda foi pelo menos cinco vezes isso."

Moradores e comerciantes da Rua Joaquim Antunes, em Pinheiros, ficaram sem luz até por volta de 11h30 desta segunda
Moradores e comerciantes da Rua Joaquim Antunes, em Pinheiros, ficaram sem luz até por volta de 11h30 desta segunda
Foto: Fábio Vieira/Estadão / Estadão

A situação perdurou das 19h30 de sexta até por volta de 11h da manhã de segunda. O trecho mais afetado da Joaquim Antunes, relataram, é o que vai da Rua Cardeal Arcoverde até o cruzamento com a Rua Teodoro Sampaio.

"Teve até o relato de uma moradora que guardava leite materno refrigerado para alimentar o filho quando estivesse fora trabalhando e perdeu tudo", contou outro zelador. Diante das limitações, muitos residentes da região foram para as casas de familiares e conhecidos para se refugiar durante o apagão.

Já os que ficaram tiveram de alterar totalmente a rotina para diminuir os impactos causados pelo apagão ao longo dos últimos dias. "Lá em casa tomamos banho de caneca. Esquentamos a água no fogão", contou a restauradora Adriana Teixeira, de 61 anos. "Com esse frio, não tinha condições de tomar banho gelado."

Em relação aos alimentos, a alternativa foi comprar gelo e usar a geladeira como caixa térmica, na tentativa de diminuir o prejuízo. "Nunca tinha visto um apagão por tanto tempo por aqui", acrescentou Adriana, moradora da Joaquim Antunes há cerca de 17 anos.

No caso do engenheiro Lannes Moura, de 66 anos, a solução foi levar os mantimentos para a geladeira de um conhecido que não teve a luz cortada nesses dias. "Foi a única solução que encontramos. Só assim conseguimos evitar o prejuízo. A Enel não dava perspectiva nenhuma do restabelecimento da energia", contou.

O transtorno só não foi maior porque alguns prédios já têm geradores para manter pelo menos os elevadores em funcionamento e as áreas iluminadas. A situação, ainda assim, demandou uma espécie de força-tarefa dos funcionários dos prédios.

"Eu mesmo ia folgar no domingo, mas não tive como deixar de trabalhar. Tive que ficar aqui", contou José. "Fui buscar diesel várias vezes em postos da região. O prédio gastou mais de R$ 2 mil só em combustível para manter o equipamento funcionando."

Segundo ele, a busca por diesel foi tanta que os postos da região passaram a ficar desabastecidos. No domingo, ele relata que só conseguiu achar o combustível em um posto nos arredores do estádio Allianz Parque, na região da Pompeia, na zona oeste.

Nas redes sociais, a chef Vivianne Wakuda, que possui uma confeitaria por ali, chegou a postar um vídeo chorando depois do restabelecimento da energia. "A gente já jogou tudo fora, as geladeiras estão todas vazias", desabafou na publicação nas redes sociais. Ao Estadão, ela disse que, só de mantimentos, o prejuízo superou R$ 10 mil, isso sem contar o que deixou de faturar no fim de semana.

A Abrasel SP estima que cerca de 50% dos 155 restaurantes e bares da capital paulista foram afetados de alguma forma e tiveram prejuízo com a falta de energia, com perda mínima de cerca de R$ 10 mil.

Chef Vivianne Wakuda teve que esvaziar geladeiras diante de apagão
Chef Vivianne Wakuda teve que esvaziar geladeiras diante de apagão
Foto: Fábio Vieira/Estadão / Estadão

Próximo dali, na Vila Madalena, o drama foi parecido. "Perdi trabalho e tive um prejuízo enorme com todo o alimento comprado que está na geladeira. O destino será o lixo", disse a empresária Beatriz Torres, de 57 anos, que mora na Rua Iperó.

"A população está ao Deus dará... No escuro", reclama.

Estadão
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