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Como atuavam policiais presos em investigação por esquema de extorsão no Brás?

Agentes são investigados por realizar cobranças indevidas a comerciantes; defesas não foram localizadas pela reportagem

16 dez 2024 - 15h31
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Os sete agentes das policias Civil e Militar que foram alvos de mandados de prisão nesta segunda-feira, 16, em ação conjunta do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) com as corregedorias das duas corporações, são investigados por um esquema que perduraria pelo menos desde o ano passado e que envolveria inclusive divisão de tarefas para realizar cobranças indevidas a comerciantes no Brás, região central de São Paulo. As defesas dos investigados não foram localizadas pela reportagem.

Operação quebrou sigilos bancário e fiscal de 8 empresas e 21 pessoas.
Operação quebrou sigilos bancário e fiscal de 8 empresas e 21 pessoas.
Foto: Governo de São Paulo/Divulgação / Estadão

"É uma ação muito triste. Nós vimos a exploração de pessoas muito humildes, que sofriam prática de extorsão, violência e diversos tipos de abuso", disse o corregedor da PM, coronel Fabio Sérgio do Amaral em coletiva de imprensa realizada no fim da manhã desta segunda-feira.

Ao menos cinco policiais militares e quatro suspeitos civis foram presos até o momento, segundo balanço preliminar da Operação Aurora, que teve participação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço do MP-SP. As autoridades ainda buscam localizar um dos PMs, a policial civil e outros quatro civis que teriam participação no esquema.

Como mostrou o Estadão, a investigação apontou que os policiais agiam como uma milícia, dividindo o território e exigindo pagamentos de vendedores informais, muitos deles imigrantes. "No transcorrer das investigações, constatou que se trata de uma verdadeira organização criminosa, com divisão de tarefas, bem estruturada e com atividade habitual, já que todos os dias atuam na região fiscalizando e cobrando os ambulantes", disse o corregedor.

Segundo ele, a investigação começou em maio de 2024, quando trabalhadores ambulantes da região relataram ser vítimas de extorsão praticada especialmente por PMs. Diante disso, foi instaurado inquérito policial militar (IPM) e os ambulantes passaram a ser ouvidos como testemunhas protegidas.

A investigação contabilizou ao menos quatro vítimas até aqui, mas a hipótese é que o esquema seja maior. Durante a operação desta segunda, foram apreendidas planilhas e outros mecanismos de controle com os investigados. Agora, a ideia da polícia é tentar ouvir também pessoas cujos nomes constam nesses documentos.

"Todos (que prestaram depoimento) informaram que essa organização criminosa cobrava uma espécie de 'luva' para que eles pudessem iniciar seu negócio (anualmente) ali na região do Brás, cujo valor girava em torno de R$ 15 mil", disse Amaral. "Não era um valor fixo, variava em torno da rua e do tamanho da barraca que o comerciante quisesse montar."

O corregedor afirmou também que, conforme o que foi apurado até aqui, havia também um valor semanal cobrado pelo esquema que girava em torno de R$ 200 a R$ 300. "Uma vez que fosse vendido esse espaço ao comerciante, ele era obrigado a comparecer diariamente no seu espaço cedido na rua. Se não comparecesse, era expulso do bairro e não poderia retomar suas atividades", disse.

Entre seis policiais militares investigados, são cinco em atividade e um reformado. O esquema também contaria com a participação de uma policial civil, que está na ativa, e ao menos oito civis. Para trazer um ar de legalidade para as cobranças, os envolvidos no esquema usuariam uma cooperativa e sindicatos com atuação na região. "É uma organização criminosa que se formou no Brás", disse Amaral.

O grupo estaria atuando pelo menos desde o ano passado, conforme o que já foi apurado. Não há informação de vínculo com uma organização criminosa maior, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), e também não se sabe ao certo quanto valor foi movimentado. "Como toda a região do Brás foi loteada por essa organização criminosa, nós imaginamos que o valor seja bem alto", disse o corregedor.

Ele cita um exemplo: "Em uma noite, por uma das interceptações que nós tivemos, durante uma cobrança eles arrecadaram R$ 2,5 mil em uma rua". Durante o cumprimento dos mandados de busca nesta segunda, cerca de R$ 145 mil de dinheiro em espécie foram encontrados na casa de um dos investigados. O montante estava ocultado em diferentes pontos da residência.

Policiais também fariam cobrança para agiotas, aponta investigação

Amaral ressaltou que boa parte das vítimas eram comerciantes de outros países da América Latina. Uma das partes importantes do esquema é que, quando não tinham dinheiro para fazer o pagamento das taxas irregularmente cobradas, as vítimas seriam encaminhados para agiotas.

"(Os agiotas) Cobravam juros exorbitantes e depois adotavam práticas de cobrança violentas, para que pudessem iniciar seus trabalhos na região", disse o corregedor. Além de ser investigado por praticar extorsão de comerciantes, o grupo de policiais também seria responsável por fazer as cobranças para agiotas que emprestavam dinheiro aos comerciantes.

Em uma dessas cobranças, afirmou Amaral, um comerciante equatoriano teria tido a casa invadida e teria sido espancado por ter atrasado os pagamentos. "E teve a quantia de R$ 4 mil em espécie que tinha dentro de casa subtraída por um desses policiais", afirmou.

Além das prisões preventivas, a Justiça de São Paulo também autorizou buscas em endereços residenciais e comerciais ligados aos investigados e a quebra do sigilo bancário e fiscal de oito empresas e 21 pessoas. As investigações prosseguem para localizar mais suspeitos. "O inquérito está muito robusto", concluiu Amaral.

Operação quebrou sigilos bancário e fiscal de 8 empresas e 21 pessoas.
Operação quebrou sigilos bancário e fiscal de 8 empresas e 21 pessoas.
Foto: Governo de São Paulo/Divulgação / Estadão
Estadão
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