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Complexo do Caju, Rio: a crônica de uma ocupação 'para gringo ver'

O barulho dos helicópteros rasantes no céu era o prenúncio de que, naquele domingo, o dia amanheceria diferente para mais de 20 mil moradores

5 mar 2013 - 17h37
(atualizado às 17h37)
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Ocupação do Caju: imagens de uma operação cinematográfica:

Viaturas e mais viaturas, retroescavadeiras com a insígnia da caveira das telonas do cinema, armamento pesado para um efetivo de 1,4 mil homens, blindados da Marinha por todos os lados, enquanto o barulho dos helicópteros rasantes no céu era o prenúncio de que, naquele domingo, o dia amanheceria diferente para mais de 20 mil moradores do Complexo do Caju e da Barreira do Vasco, comunidades da zona norte do Rio de Janeiro, enfim, livres do poder do tráfico.

<p>O Complexo do Caju e a Barreira do Vasco, comunidades da zona norte do Rio de Janeiro, foram ocupados pelas forças de segurança</p>
O Complexo do Caju e a Barreira do Vasco, comunidades da zona norte do Rio de Janeiro, foram ocupados pelas forças de segurança
Foto: Daniel Ramalho / Terra

Em 25 minutos, tudo estava "resolvido". Foi o tempo que a Secretaria de Segurança Pública do Estado levou para alcançar o seu objetivo e avisar a imprensa que o território, por onde traficantes ostentavam fuzis de alto calibre, estava retomado. A partir daí, o que se viu foi uma operação cinematográfica para que os jornalistas de todo o mundo pudesse captar as melhores imagens, e terem a devida noção do poderio das forças de segurança.

"E aí, ficou boa a imagem? Viu como fica legal quando a gente sobe aquela escadaria com as motos?", indagou um membro do Batalhão de Choque para uma jornalista inglesa, que ainda iniciante no português, fingiu que entendeu. Quando a reportagem do Terra pediu para também acompanhar uma incursão motorizada, o comandante da guarnição gritou, alto: "tem mais um cliente aqui, alguém me dá um capacete!".

Era cena comum, nas viaturas do Bope que rompiam as vielas agora tomadas, perceber que, em algum canto do veículo, havia um cinegrafista registrando tudo. Muitos profissionais nem coletes à prova de bala usavam. Desprevenidos ou não, o fato é que todos ali tinham a clara certeza de que nenhum tiro seria disparado.

O seguro morreu de velho, obviamente, mas era consenso entre os "colegas" que a ocupação era "algo para gringo ver". BBC, France Press, Associated Press, a mídia estrangeira estava presente em peso. Nada mal uma repercussão internacional do sucesso absoluto da operação na cidade que vai ser sede de Olimpíada.

"Os vagabundos não vão ficar aqui para encarar todo esse efetivo, não são nem loucos, metem o pé mesmo", contava um dos homens da guarnição do Bope que o Terra acompanhou na busca por armas e drogas. Sim, pois é a isso que, hoje, as ocupações se restringem: poucas prisões, poucas armas e munições, e drogas como crack, maconha e cocaína. O cheirinho da loló, mais conhecido como lança-perfume, destoava um pouco na mesa onde os fotógrafos batiam fotos, junto com uma espada artesanal.

"Algumas pessoas dizem que o resultado é frustrante porque foram poucas prisões. Não existe isso, primeiro porque a operação não começou hoje. Foi amplamente divulgado. Ocupar uma área daquela sem disparar um tiro eu acho que é um sucesso. A política de pacificar tem que ser feita dessa forma. O princípio era esse. O cerco antes nos deu mais de 200 prisões, então, contemplamos o que havia sido objetivado", esclareceu o secretário de Segurança José Mariano Beltrame. De acordo com a Polícia Militar, a operação de cerco aos criminosos efetuou, nos dias que antecederam a ocupação do Caju e da Barreira do Vasco, 284 prisões, e apreendeu 36 menores.

A frase do secretário de Segurança diz tudo: depois de toda a tensão vivida no Complexo do Alemão, o crime organizado sabe, hoje, que não dá para encarar as forças de segurança, que alcançaram, no Rio de Janeiro, um nível de organização que reúne desde a Polícia Civil, até o ministério da Defesa, passando por Polícia Federal e Rodoviária.

O trabalho prévio de inteligência, de cercar, abordar e avisar a comunidade - e por tabela, obviamente, os criminosos - que a ocupação do terreno está em curso faz com que as ocupações, daqui para a frente, sejam algo como "a cereja do bolo". Plano estratégico contundente, claro, que faz com o que aclamado "Dia D" seja de imagens fartas para a imprensa.

O simbolismo das bandeiras do Brasil e do Estado do Rio de Janeiro hasteadas, hoje, servem como prova de que o poder público restabeleceu o domínio. Territorial, diga-se, já que o processo de aproximação com os moradores e de eliminação das profundas raízes do tráfico aí, sim, vão determinar se a ocupação vai ser ou não bem sucedida. 

Fonte: Terra
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