Viaturas e mais viaturas, retroescavadeiras com a insígnia da caveira das telonas do cinema, armamento pesado para um efetivo de 1,4 mil homens, blindados da Marinha por todos os lados, enquanto o barulho dos helicópteros rasantes no céu era o prenúncio de que, naquele domingo, o dia amanheceria diferente para mais de 20 mil moradores do Complexo do Caju e da Barreira do Vasco, comunidades da zona norte do Rio de Janeiro, enfim, livres do poder do tráfico.
Em 25 minutos, tudo estava "resolvido". Foi o tempo que a Secretaria de Segurança Pública do Estado levou para alcançar o seu objetivo e avisar a imprensa que o território, por onde traficantes ostentavam fuzis de alto calibre, estava retomado. A partir daí, o que se viu foi uma operação cinematográfica para que os jornalistas de todo o mundo pudesse captar as melhores imagens, e terem a devida noção do poderio das forças de segurança.
"E aí, ficou boa a imagem? Viu como fica legal quando a gente sobe aquela escadaria com as motos?", indagou um membro do Batalhão de Choque para uma jornalista inglesa, que ainda iniciante no português, fingiu que entendeu. Quando a reportagem do Terra pediu para também acompanhar uma incursão motorizada, o comandante da guarnição gritou, alto: "tem mais um cliente aqui, alguém me dá um capacete!".
Era cena comum, nas viaturas do Bope que rompiam as vielas agora tomadas, perceber que, em algum canto do veículo, havia um cinegrafista registrando tudo. Muitos profissionais nem coletes à prova de bala usavam. Desprevenidos ou não, o fato é que todos ali tinham a clara certeza de que nenhum tiro seria disparado.
O seguro morreu de velho, obviamente, mas era consenso entre os "colegas" que a ocupação era "algo para gringo ver". BBC, France Press, Associated Press, a mídia estrangeira estava presente em peso. Nada mal uma repercussão internacional do sucesso absoluto da operação na cidade que vai ser sede de Olimpíada.
"Os vagabundos não vão ficar aqui para encarar todo esse efetivo, não são nem loucos, metem o pé mesmo", contava um dos homens da guarnição do Bope que o Terra acompanhou na busca por armas e drogas. Sim, pois é a isso que, hoje, as ocupações se restringem: poucas prisões, poucas armas e munições, e drogas como crack, maconha e cocaína. O cheirinho da loló, mais conhecido como lança-perfume, destoava um pouco na mesa onde os fotógrafos batiam fotos, junto com uma espada artesanal.
"Algumas pessoas dizem que o resultado é frustrante porque foram poucas prisões. Não existe isso, primeiro porque a operação não começou hoje. Foi amplamente divulgado. Ocupar uma área daquela sem disparar um tiro eu acho que é um sucesso. A política de pacificar tem que ser feita dessa forma. O princípio era esse. O cerco antes nos deu mais de 200 prisões, então, contemplamos o que havia sido objetivado", esclareceu o secretário de Segurança José Mariano Beltrame. De acordo com a Polícia Militar, a operação de cerco aos criminosos efetuou, nos dias que antecederam a ocupação do Caju e da Barreira do Vasco, 284 prisões, e apreendeu 36 menores.
A frase do secretário de Segurança diz tudo: depois de toda a tensão vivida no Complexo do Alemão, o crime organizado sabe, hoje, que não dá para encarar as forças de segurança, que alcançaram, no Rio de Janeiro, um nível de organização que reúne desde a Polícia Civil, até o ministério da Defesa, passando por Polícia Federal e Rodoviária.
O trabalho prévio de inteligência, de cercar, abordar e avisar a comunidade - e por tabela, obviamente, os criminosos - que a ocupação do terreno está em curso faz com que as ocupações, daqui para a frente, sejam algo como "a cereja do bolo". Plano estratégico contundente, claro, que faz com o que aclamado "Dia D" seja de imagens fartas para a imprensa.
O simbolismo das bandeiras do Brasil e do Estado do Rio de Janeiro hasteadas, hoje, servem como prova de que o poder público restabeleceu o domínio. Territorial, diga-se, já que o processo de aproximação com os moradores e de eliminação das profundas raízes do tráfico aí, sim, vão determinar se a ocupação vai ser ou não bem sucedida.
Policiais hasteiam bandeira no Complexo do Caju, no Rio de Janeiro. O hasteamento é o ato que simboliza a ocupação
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Policiais hasteiam bandeira no Complexo do Caju, no Rio de Janeiro. O hasteamento é o ato que simboliza a ocupação
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Policiais caminham com menino em cavalo no Complexo do Caju, no Rio de Janeiro
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Polícia mostra foto de suspeitos do Complexo do Caju
Foto: Daniel Ramalho / Terra
No total, cerca de 20 mil moradores vivem no Caju. Além desse complexo, também a Barreira do Vasco, na zona norte da capital fluminense, foi ocupada
Foto: Daniel Ramalho / Terra
As forças de segurança ocuparam na madrugada deste domingo o Complexo do Caju, conjunto de favelas que, no total, abrange 13 comunidades no Rio de Janeiro
Foto: Daniel Ramalho / Terra
A ação teve início às 5h e durou cerca de 25 minutos, sem encontrar resistência
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Com as comunidades ocupadas, a Secretaria de Segurança Pública do Estado deve instalar novas Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs, no local
Foto: Daniel Ramalho / Terra
As forças das Polícias Militar, Civil e Rodoviária Federal procuram por criminosos, armas, drogas, objetos roubados
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Mais de 1,3 mil homens do agrupamento Centro de Operações Especiais (COE) participaram da ocupação do Complexo do Caju
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Blindados da Marinha - 17 unidades no total -, juntamente com 200 militares, deram apoio tático durante a ação
Foto: Daniel Ramalho / Terra
O COE, grupo responsável pela ocupação, engloba, dentro da PM, o Batalhão de Operações Policiais Especiais, o Batalhão de Choque, o Batalhão de Ações com Cães e o Grupamento Aeromarítimo
Foto: Daniel Ramalho / Terra
No sábado, policiais militares realizam blitzes no entorno do complexo na etapa preliminar da operação
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Os policiais revistaram carros, motoqueiros e averiguaram documentação
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Nos locais a serem ocupados, está prevista a instalação de três UPPs: Parque Alegria, Parque Boa Esperança e Barreira do Vasco
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Na primeira etapa das operações, Bope e fuzileiros navais permanecem nas comunidades
Foto: Daniel Ramalho / Terra
As forças de segurança fazem o cerco por armas, drogas escondidas e membros da facção criminosa local
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Bope e fuzileiros navais permanecem nas comunidades até a chegada do efetivo da PM, estimado em 500 homens, que trabalhará permanentemente nas favelas
Foto: Daniel Ramalho / Terra
O objetivo final de recuperação territorial é o conjunto de favelas da Maré, de acordo com o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame
Foto: Daniel Ramalho / Terra
A ocupação da Maré, outro reduto próximo e perigoso do tráfico, deve fechar o "cinturão" de pacificação da região
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Forças das Polícias Militar, Civil e Rodoviária Federal estão em busca de criminosos, armas, drogas, objetos roubados
Foto: Daniel Ramalho / Terra
No total, cerca de 20 mil moradores vivem no Caju, e outros sete mil na Barreira do Vasco, também ocupada neste domingo
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Policiais revistaram carros, motoqueiros e averiguaram documentação
Foto: Daniel Ramalho / Terra
O ônibus do Instituto de Identificação Félix Pacheco (IIFP) ficará baseado próximo ao local para facilitar a identificação de possíveis criminosos
Foto: Daniel Ramalho / Terra
A Linha Vermelha chegou a ser interditada às 4h para a preparação e início da ocupação no Complexo do Caju e Barreira do Vasco
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Por volta de 6h20, o Centro de Operações da prefeitura do Rio de Janeiro informou que a via começou a ser liberada ao tráfego
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Por ser domingo, o trânsito não ficou complicado no local
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Está prevista a instalação de três UPPs nos locais a serem ocupados: Parque Alegria, Parque Boa Esperança e Barreira do Vasco
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Moradores do Complexo do Caju observam a ação da polícia na comunidade
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Homens do Bope vasculham as casas, carros e matas atrás de traficantes, drogas e armas
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Moradora lava a roupa enquanto policiais vasculham a área
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Moradora lava a roupa enquanto policiais vasculham a área
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Ocupação do Complexo do caju levou 25 minutos e sem disparar nenhum tiro, segundo a polícia
Foto: Daniel Ramalho / Terra
O secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, e o governador Sérgio Cabral, discutem o saldo da operação
Foto: André Naddeo / Terra
Muros estavam com vários escritos de protestos, entre eles "vai morrer polícia"
Foto: Nucom RJ / Divulgação
Polícia do Rio de Janeiro utilizou os cães para auxiliar na procura de drogas
Foto: Nucom RJ / Divulgação
Policial observa enquanto operação de ocupação é realizada