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Conheça história da mulher que perdeu perna ao salvar cadela

13 jun 2017 - 15h48
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Foto: Diego Torres / Especial para Terra

Esqueça tudo o que você já ouviu falar sobre salvamento de animais ou amor por bichos de estimação. Nosso personagem é uma vendedora que não pensou duas vezes quando viu um muro de arrimo com quase cinco metros de altura e que ameaçava cair sobre a casa de sua cadelinha: ela correu em direção ao animal e, por isso, sofreu um grave acidente que culminou com sua perna amputada.

Quando estava deitada no sofá na noite do dia 4 de dezembro, Andrea Pertence jamais imaginou que pudesse, um dia, ter semelhanças com a matéria que assistia pela TV. A atenção estava em uma reportagem sobre o resgate do time da Chapecoense. Nos minutos que antecederam a tragédia que mudaria a vida de Andrea Duarte, casada e mãe de duas gêmeas de 9 anos, o Fantástico exibia uma matéria com um dos sobreviventes do acidente, o goleiro Jackson Follman, ele também teve uma perna amputada.

É Fabiano, seu marido, quem percebe que algo estranho acontecia no quintal. Ele levanta e pergunta se Andrea ouviu algum barulho. Ela diz que não e continua vendo TV, enquanto ele vai até a janela do quarto e vê muita água descendo da casa do vizinho. Barulhos de estalados e o marido apreensivo levam Andrea a pensar na cadela, Lolita, uma basset hound de 2 anos.

Foto: Diego Torres / Especial para Terra

As filhas estavam deitadas na cama e levantaram com a correria dos pais. Andrea passa pela porta que dá acesso ao quintal e vai em direção de Lolita. É segurada pelo braço por Fabiano, tenta soltar, mas é puxada com mais força. O impacto do muro de contenção do vizinho sob Andrea faz o marido cair a alguns metros. Ele só consegue vê-la da cintura até a cabeça. Lolita está completamente soterrada.

O que se segue é desesperador. As filhas ligam para a vó e não conseguem falar nada, só gritar. Fabiano tenta escavar a terra que não parava de cair em cima da esposa e gritar por socorro. Do lado de fora, vizinhos tentam entrar na casa. Andrea fala com naturalidade sobre a inconsequente tentativa de salvar a cadela. "Como que eu ia ficar sabendo que ela morreu soterrada e eu vi tudo e não fiz nada?".

Ela não viu a cadela sair debaixo da terra coberta de lama. A mesma viga que esmagou a casa da Lolita esmagou a perna de Andrea. Ela foi para o hospital e só depois de acordar no CTI soube da notícia. "Eu tava no CTI quando eles me disseram que ela tava viva. Nenhuma unha quebrada, saiu intacta. Eu não acreditava porque na hora que a viga caiu ela deu um grito. Depois eu ainda fiquei pensando: se a minha dor foi grande e foi só a perna, imagina a dor que ela deve ter sentido".

Foto: Diego Torres / Especial para Terra

O resgate

Mesmo com a chegada dos vizinhos para ajudar a retirar os escombros, o resgate de Andrea ainda teria mais um "quase". Depois de conseguir levantar a viga que esmagou a perna esquerda, só deu tempo de puxá-la rapidamente. Mais um monte de terra, tijolos e ferro retorcido se amontoaria onde Andrea ficou por 40 minutos.

Enquanto era retirada do monte de entulho, Andrea lembra de sentir uma dor dilacerante. "Parecia que tinha alguém passando um maçarico na minha perna. E o pior era que eu não gritava para não assustar as meninas. Eu pensei que fosse morrer bem ali".

O vídeo

A tragédia de ter uma perna amputada não foi suficiente para tirar o sorriso de Andrea. Foi seu riso, aliás, que fez com que a prima, Letícia Dawahri, criasse uma página no Facebook para informações sobre sua recuperação e doações. Ela gravou um vídeo, o qual Andrea considera uma "zoação". O jeito como ela fala da perna que "tava ali e não está mais" a diverte até hoje.

Ela brinca com o dia de sua saída com tranças no cabelo em homenagem a personagem 'Elsa', de Frozen. O telefone é entregue com uma advertência. "Eu tava chapada com morfina quando disseram que iam fazer um vídeo. Pode ver como eu tô legal", brinca.

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A rotina desde o acidente

Andrea recebeu a reportagem na casa da mãe, onde está morando com o marido e as duas filhas desde que teve alta do Hospital João XXIII. Em um dos quartos ela dorme com o marido: ele em um colchão no chão e ela em uma cama de solteiro. As filhas dormem com a avó em um colchão também de solteiro. "É assim que a gente está. Até resolver como fica a situação da nossa casa", explica.

Foto: Diego Torres / Especial para Terra

A ajuda

Começou abril e boas notícias foram chegando à medida em que Andrea se recuperava. Sua fisioterapia foi autorizada pelo SUS e a mais emocionante e surpreendente de todas: a doação de uma prótese pelo Instituto de Próteses e Órteses em parceria com a modelo e youtuber Paola Antonini. Paola foi atropelada por uma motorista bêbada em 2014 enquanto colocava as mochilas no porta-malas do carro para passar a festa de Réveillon no Rio de Janeiro.

Hoje a modelo é uma influenciadora digital e seus vídeos no YouTube já foram vistos mais de 4 milhões de vezes, desde maio de 2014. No Instagram, Paola tem mais de 1 milhão e meio de seguidores e é pelas redes sociais ela conta os detalhes de sua recuperação. Foi no Instagram, por exemplo, que ela confirmou a doação da prótese completa e reabilitação de Andrea.

O fisioterapeuta, mestre em engenharia biomédica e especialista em próteses e órteses avançadas, Fabrício Daniel é o responsável pelo procedimento. Ele explica que o equipamento colocado será um dos mais modernos existentes no mercado. "A prótese dela é computadorizada com um joelho eletrônico que controla toda a fase de apoio e fase de balanço através de um computador que tem dentro dele".

Foto: Diego Torres / Especial para Terra

Depois de instalada a prótese vai permitir que Andrea volte a usar calçados normalmente. "A prótese ainda é constituída de um pé de resposta dinâmica em fibra de carbono que vai ter uma regulagem para ela usar salto, sandália de dedo".

A vida de Andrea vai sendo retomada aos poucos, com muitas portas se abrindo ao longo de sua jornada. No entanto, falar sobre a casa onde vivia ainda a deixa entristecida. A rotina na casa da mãe, com as filhas e o marido traz dificuldades. Ela quer voltar para sua casa, que apenas três meses antes havia concluído uma reforma. "Eu não posso reclamar de nada, muito pelo contrário. Agradeço demais toda a ajuda neste momento, mas eu queria estar em casa. É o nosso lugar, onde pensamos cada cantinho, onde as meninas brincavam e onde recebíamos os amigos".

Para isso, ela conta com a ajuda de amigos e quem mais se sensibilizar com a sua história com doações que podem ser feitas diretamente na casa da mãe ou por conta bancária. Seu endereço é Rua Clemente Pereira de Oliveira, 81 - Conjunto Renato Ernesto do Nascimento, Bairro Vale do Jatobá. CEP 30668-600. Seus dados bancários são: Banco Caixa Econômica Federal; Agência 0084; Conta 60338-4; Titular: Andrea Pertence Dawahri Duarte.

Fonte: Especial para Terra
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