CPI dos Transportes: empresa japonesa nega envolvimento em cartel de trens
A empresa japonesa Mitsui, que seria uma subcontratada da Alstom, negou qualquer envolvimento com a formação de cartel e fraude nas licitações de trens do Estado de São Paulo. O presidente e o diretor da multinacional, Shinsuke Fujii e Kazuhisa Ota, respectivamente, prestaram depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Transporte Coletivo na manhã desta segunda-feira, na Câmara Municipal de São Paulo.
A CPI dos Transportes começou logo após o início das manifestações da população paulista contra o aumento das passagens de transporte coletivo, em junho deste ano. Apesar de parte da mesa da comissão ser contra envolver o escândalo de cartel do Metrô, que diz respeito ao governo do Estado, na CPI, que trata de abrir os relatórios sobre o transporte municipal, os presidentes e diretores das empresas citadas no cartel estão sendo chamados pelos vereadores para prestar esclarecimentos.
“Possuímos regras de conduta bastante rígidas no cumprimento de normas e princípios éticos. Fazemos todos os esforços para que a regra de conduta seja cumprida. Quanto à formação de cartel, não há existência disso. Não estou em condições de comentar as perguntas feitas com base em hipóteses. Não tenho conhecimento de qualquer tipo de cartel ou de envolvimento ilícito da empresa”, disse o presidente Fujii.
Assim como os representantes da Alston, que também negaram qualquer envolvimento ilícito, o presidente da Mitsui afirmou cooperar com as investigações e nega fazer a chamada delação premiada, ação adotada pela francesa Siemens.
“Não temos nenhum conhecimento sobre delação premiada, não sabemos nada. A única coisa que podemos afirmar é que a empresa colabora de forma honesta com as investigações”, disse.
A Mitsui seria uma subcontratada da Alstom e o vereador Eduardo Tuma (PSDB) questionou o diretor responsável pelo projeto de transporte da empresa, Kazuhisa Ota, a respeito disso. Segundo Tuma, é comum empresas que perderam licitações serem subcontratadas pelas vencedoras para prestar os serviços. Ota, porém, desconversou sobre o tema.
“Não tenho resposta para essa pergunta, mas dependendo do projeto, quando envolve muitas áreas de trabalho, uma única empresa não consegue arcar com todas as responsabilidades, então tem que montar um consórcio e atender ao cliente”, disse Ota.
Apesar das mais de três horas de oitiva na Câmara Municipal, o presidente da CPI Paulo Fiorillo (PT) não ficou nada satisfeito com as respostas dos representantes japoneses. O vereador Milton Leite (DEM), que também faz parte da comissão, propôs inclusive uma CPI específica para evitar esse tipo de problema.
“Infelizmente não foi convincente. As empresas que foram citadas no cartel pela Siemens têm tido uma postura de negar tudo, que não há relação, não há cartel, não há participação em acordos com outras empresas. Isso é ruim. Há sugestão de outra CPI com escopo específico para isso, mas acho que é um debate que tem que ser feito no plenário. Aqui cabe a nós saber se houveram desvios e se isso pode afetar nos preços das passagens de ônibus, da CPTM e Metrô”, disse Fiorillo.
De acordo com o presidente da CPI, a negativa dos representantes das empresas envolvidas não é boa para as investigações.
“Tem sido prática constante das empresas. Isso é muito ruim para cidade, para o Estado e para o País. Todos os dias vemos informações sobre o conluio. Há investigação da Polícia Federal, pelo Cade e internacional, mas eles se negam a apontar se houve conluio”, completou.