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Cracolândia: Santa Ifigênia tem bar saqueado após dispersão de usuários de drogas

Quatro suspeitos foram presos e autuados por furto qualificado. Delegado vê relação do caso com menor quantidade de droga disponível na região

6 jul 2022 - 16h40
(atualizado às 23h06)
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SÃO PAULO - Um bar em Santa Ifigênia, zona central de São Paulo, foi saqueado na madrugada desta quarta-feira, 6, após uma nova operação da Polícia Civil para dispersar o chamado "fluxo" da Cracolândia, que se concentrou nos últimos dias na Rua dos Gusmões. Ao todo, quatro suspeitos foram presos e autuados por furto qualificado. Comerciantes relatam ainda que outros estabelecimentos foram alvo de tentativas de assalto e que houve quebra-quebra na região.

"Em 32 anos à frente do bar, nunca tinha me acontecido algo assim", disse ao Estadão o comerciante Jailton Oliveira, de 52 anos. Dono do estabelecimento saqueado, que fica localizado em uma esquina da Rua dos Guaianazes, ele conta que o prejuízo estimado com o roubo foi de R$ 30 mil. "Levaram até minha máquina de café."

Jailton relata ter sido acordado por volta de 4h com o telefonema de um morador de um prédio próximo ao bar. Ao receber a notícia de que estavam invadindo o local, ele saiu às pressas de carro da Lapa, onde mora, e diz ter chegado ao bar em cerca de 20 minutos. "Devo ter tomado um tanto de multa."

Após estacionar, viu que o estrago já estava feito. "Só encontrei alguns agentes da GCM (Guarda Civil Metropolitana) com quatro pessoas presas, o resto tinha sumido tudo", conta o comerciante, apontando para o bar vazio. Conforme a Secretaria de Segurança Pública, cerca de 50 pessoas participaram da invasão ao estabelecimento.

Agora, Jailton está providenciando serviços de reparo - a porta estava sendo trocada quando a reportagem foi ao local, no final da tarde desta quarta - e diz estar pagando tudo com cartão de crédito. "Não pretendo fechar o bar, mas tem que ver como vou fazer no futuro", diz o comerciante.

Para o delegado Roberto Monteiro, da 1ª Seccional Centro, não há relação direta entre o saque ao bar e a operação realizada pela Polícia Civil, que começou por volta de 19h30 desta terça e se estendeu até 0h30 de quarta. Ele reforçou que não houve confronto durante incursão.

"O que vejo é uma relação direta entre abstinência e a invasão do bar", disse ao Estadão. "Nós sabemos que não existe uma quantidade suficiente de drogas sendo vendida no centro de São Paulo, está faltando drogas (...) É muito explicativo o fato de eles terem invadido um bar, por estarem justamente atrás de bebidas alcoólicas."

O boletim da polícia aponta que, com o saque, foram furtados não só bebidas e maços de cigarro, como um televisor (avaliado em R$ 1.500) e outros pertences de valor. Quatros suspeitos, descritos pela Polícia Civil como dependentes químicos, foram presos pela GCM e encaminhados ao 77º Distrito Policial.

Outros comerciantes da região contam que, após a invasão ao bar de Jailton, os usuários do fluxo também tentaram saquear outros estabelecimentos em ruas próximas. Um dos focos foi uma loja de acessórios de moto, localizada na Rua General Osório.

"Vieram por volta de 6h, só não conseguiram porque tem um segurança terceirizado que trabalha para a gente", disse o vendedor Michel Carvalho, de 40 anos. Segundo ele, diante do medo gerada pela migração do fluxo, lojistas se reuniram e contrataram o profissional para ficar de sentinela em algumas ruas entre 18h e 6h. "Foi isso que nos salvou."

Posteriormente, por volta de 9h, relatos indicam que o fluxo de usuários cruzou a Avenida Rio Branco e foi para a Rua Santa Ifigênia, onde há uma grande concentração de comércios. Neste momento, vendedores que trabalham em estabelecimentos da rua relataram ao Estadão sob condição de anonimato que os lojistas baixaram as portas das lojas e alguns deles entraram em confronto com dependentes químicos.

"Alguns estavam tentando entrar mesmo nas lojas com portas fechadas. Nunca tinha visto isso nessa proporção por aqui", contou uma vendedora. Apesar do confronto, não foi registrado boletim de ocorrência deste momento, mas imagens das brigas - inclusive com uso de pedaços de pau - se espalharam pelas redes.

A reportagem do Estadão foi até a rua no final da tarde desta quarta e encontrou um clima de apreensão entre os lojistas. Em dado momento, ao observar parte do fluxo passando por uma das ruas que cortam a Santa Ifigênia, alguns comerciantes começaram a fechar as portas das lojas mais uma vez. Ao verem que nada ia ocorrer, voltaram a abrir.

Cerca de cinco carros de polícia foram vistos fazendo rondas pela Rua Santa Ifigênia e nas vias próximas. A poucas quadras dali, a Praça Princesa Isabel, que abrigava o fluxo há alguns meses, estava vazia e com as entradas protegidas por guardas da GCM.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que a Polícia Militar intensificou o patrulhamento na área. "As forças de segurança, em conjunto com o poder municipal, monitoram diariamente os deslocamentos de usuários e realizam trabalho de inteligência para identificar os traficantes que atuam na região", explicou a pasta.

Operação Caronte

Na noite desta terça-feira, 5, a Polícia Civil, sob a coordenação da 1ª Delegacia Seccional de Polícia (Centro), deflagrou a 16º etapa da fase V da Operação Caronte. A ação contou com a participação ativa da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e da Polícia Militar e teve como objetivo cumprir 28 mandados de prisão expedidos pelo Poder Judiciário a partir de trabalho de inteligência e investigação do 3º e 77º DPs. Dois deles foram cumpridos e um terceiro homem foi preso em flagrante.

Cerca de 100 dependentes químicos integravam o fluxo na Avenida Rio Branco, na Rua dos Guaianazes e nas proximidades, informou o delegado Roberto Monteiro. O número é bem menor do que o mensurado no início do ano, quando o fluxo que migrou para a Praça Princesa Isabel era estimado em cerca de 500 pessoas.

Estadão
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