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De médico com cobertura na Barra da Tijuca a foragido da Justiça. Quem é o Doutor Bumbum?

O médico Denis Cesar Barros Furtado, de 45 anos, é acusado de ter matado a bancária Lilian Calixto durante a realização de um procedimento estético. Nas redes, fazia propaganda dos seus serviços

18 jul 2018 - 23h47
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RIO - De Doutor Bumbum com endereço em cobertura na Barra da Tijuca a foragido da Justiça, com foto no Portal dos Procurados e R$ 1 mil de recompensa por informações que levem a seu paradeiro. A vida mudou muito rapidamente para o médico Denis Cesar Barros Furtado, de 45 anos. Desde o último domingo, ele é caçado pela Polícia Civil do Rio sob acusação de ter matado a bancária Lilian Calixto, de 46 anos, em procedimento estético proibido. Loquaz, presença frequente nas redes sociais, onde se gabava de seus feitos, ele ontem teve desativado seu perfil no Instagram.

Denis Furtado é conhecido como 'Doutor Bumbum'
Denis Furtado é conhecido como 'Doutor Bumbum'
Foto: Reprodução/Facebook / Estadão

Antes do crime de que é acusado - homicídio com dolo eventual, por ter provocado a morte da vítima ao injetar polimetilmetacrilato, conhecido como PMMA, nos glúteos da paciente - Furtado demonstrava desembaraço na propaganda de seu trabalho. De jaleco, dirigia-se em vídeos a 655 mil seguidores no Instagram e 45 mil no Facebook. Falava de doenças, citava Sigmund Freud e Charles Chaplin e criticava os conselhos de medicina. Acusava as entidades de "cerceamento" de certos procedimentos que realizava.

"Médicos como eu, que buscam inovar, são tão perseguidos que pensam em desistir e deixar pra lá (as práticas de) estudar e se atualizar, e se render ao sistema (sic)", escreveu, em janeiro. "Na minha opinião, (o sistema) lucra mais com doença que com saúde, perseguindo e vetando qualquer novidade que ameace a indústria e as mentiras já impostas como fatos."

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), porém, informou que o método utilizado por Furtado - e que teria resultado na morte da bancária - é vetado. Desde 2006, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) só permite o uso do PMMA em casos excepcionais e em pequenas quantidades. Depois de receber a injeção nas nádegas, Lilian supostamente sofreu uma embolia pulmonar, porque a substância penetrou na corrente sanguínea.

Segundo a SBCP, Furtado não tem formação em cirurgia plástica, portanto não está apto a realizar procedimentos como aquele a que submeteu a bancária. Ela morreu no domingo, no Hospital Barra D'Or, para onde foi levada por Furtado porque se sentiu mal durante a intervenção, iniciada no fim da noite de sábado.

A ação ocorreu na cobertura do médico, sem suporte apropriado. Sem registro no Conselho Regional de Medicina do Rio - é registrado em Goiás e Distrito Federal - ele não poderia atuar em território fluminense.

Mesmo assim, Furtado se sentia à vontade para divulgar seu trabalho, quase sempre com fotos no estilo "antes e depois" - prática proibida pelo Código de Ética da sua profissão. As imagens eram postadas principalmente no Facebook, quase sempre acompanhadas do número de celular da "secretária Renata". Renata Cirne, que também seria namorada de Furtado, está presa acusada de participação no crime. Nesta quarta-feira, 18, foi transferida para a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte.

A última postagem do médico no Facebook foi no sábado, 14, mesmo dia em que realizou o procedimento estético em Lilian Calixto, à noite. O assunto: as "maiores mentiras e causas relacionadas à doença cardíaca". A bancária morreu de parada cardiorrespiratória horas mais tarde. Seu corpo foi sepultado ontem em Cuiabá. Ela saiu da capital mato-grossense no sábado para ser submetida ao procedimento no Rio. O Cremerj abriu sindicância sigilosa para apurar o caso.

Críticas

Um médico que atende em um hospital privado na Barra da Tijuca contou ao Estado ter atendido outra paciente de Furtado. Ela fora submetida ao mesmo procedimento que matou Lilian - preenchimento das nádegas com polímero. Seu estado era grave. "Ela estava em insuficiência respiratória grave, mas conseguimos salvá-la", contou o profissional, sob anonimato.

Até o início da noite dessa quarta, a página de Furtado no Facebook permanecia ativa. Nela, centenas de pessoas faziam comentários. A maioria criticava o trabalho do médico. As publicações se misturam a outras, mais antigas, de pessoas que demonstravam interesse nos procedimentos oferecidos pelo médico. Algumas falavam no "sonho" de serem atendidas por ele.

Duas pessoas, contudo, acusavam o médico de erros. Uma delas afirmou que se calou "diante de todas as ameaças" que ele teria feito e afirmou que perdeu "tempo, dinheiro e, principalmente, saúde". Outra declarou que Furtado "destruiu" seus glúteos. O Estado tentou contato com ambas, mas não teve sucesso.

O Portal dos Procurados também oferece recompensa por informações que levem à mãe do médico, Maria de Fátima Barros Furtado, de 66 anos. Ela também é médica, teve o registro cassado em 2015 por infração ao Código de Ética e participou do procedimento que levou à morte de Lilian. Também está foragida, como o filho, com prisão decretada pelos crimes de homicídio qualificado e associação criminosa.

Recurso

O desembargador Luciano Rinaldi, no Plantão Judiciário na terça-feira, rejeitou pedido de habeas corpus ajuizado por Furtado e Maria de Fátima. Segundo o magistrado, os acusados não se apresentaram à polícia após a decretação da prisão temporária.

O médico, segundo nota do Tribunal de Justiça, chegou a quebrar, com o carro, a cancela do estacionamento de um shopping na Barra, ao avistar uma viatura policial e fugiu do local com a mãe. /COLABOROU ROBERTA JANSEN

Estadão
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