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Delator do PCC disse ao MP ter dado dinheiro para subornar deputado e chefe de delegacia

Antonio Vinicius Gritzbach afirmou que advogado cobrou valores para propinas. Delegado Olim e diretor do Departamento que investiga crime organizado, mencionados no depoimento, refutam acusações; defensor nega pagamento irregular

20 dez 2024 - 15h10
(atualizado às 18h34)
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O empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, delator do Primeiro Comando da Capital (PCC) executado em novembro, havia afirmado em depoimento ao Ministério Público de São Paulo que um dos seus advogados teria entregue propina ao deputado estadual Delegado Olim (PP), ao diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Fábio Pinheiro Lopes, e ao delegado Murilo Fonseca Roque, então titular do 24º Distrito Policial (Ponte Rasa). Segundo a delação, o valor total cobrado pelos três seria de R$ 4,2 milhões e o objetivo seria livrar Gritzbach de acusações, incluindo homicídio.

Olim nega as acusações e diz que nunca manteve contato próximo ou imediato com o delator. Lopes afirma que a investigação envolvendo Gritzbach foi feita "na mais estrita legalidade e que ele jamais obteve qualquer vantagem".

O advogado de Gritzbach, Ramsés Gonçalves, afirma que nunca contribuiu "direta ou indiretamente para corromper agentes públicos" (Leia mais abaixo). A reportagem ainda não conseguiu contato com Roque. A Secretaria da Segurança Pública ainda não se manifestou.

As citações às autoridades foram reveladas pelo SBT e confirmadas pelo Estadão. O depoimento foi dado em 10 de setembro, quase dois meses antes da execução a tiros de Gritzbach no Aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo. A polícia ainda investiga quem foram os mandantes e os autores do assassinato.

Segundo o depoimento, também obtido pelo Estadão, Gritzbach contou que foi apresentado ao advogado Ramsés Benjamin Samuel Costa Gonçalves em março de 2022. Na época, o delator era acusado de mandar matar Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, uma das lideranças do PCC. O crime aconteceu no Tatuapé, zona leste de São Paulo.

Ramsés Gonçalves então passou a representar Gritzbach. Segundo a delação, o advogado disse que teria feito reunião com o Deputado Olim e com os delegados Murilo Roque e Fábio Lopes, também conhecido como "Fábio Caipira". O advogado teria cobrado R$ 5 milhões do delator, sendo R$ 800 mil para honorários e o restante (R$ 4,2 milhões) supostamente para pagar propina. Não fica claro se todo o valor foi pago.

O delator afirmou que, como forma de pagamentos, ele teria dado dois apartamentos e "diversos cheques", além de entregar uma quantia em espécie (o valor não foi especificado) e fazer transferência de R$ 300 mil. Uma das hipóteses levantadas pela defesa do delegado Fabio Pinheiro Lopes é de que se trataria de um golpe do advogado, mas o caso ainda é apurado. Ramsés Gonçalves refuta "qualquer mácula que pudesse afetar minha condução ética e moral".

Em reprodução de uma suposta conversa entre Gritzbach e Ramsés Gonçalves no WhatsApp, o advogado teria mandado a localização do Deic, na zona norte da capital, e indicado que estariam contando a propina supostamente entregue por lá. Em áudio, teria afirmado ainda que ficou faltando uma parte que seria entregue a uma pessoa de nome Carlos, descrita como o escrivão responsável.

Na terça-feira, 17, uma operação da Polícia Federal e o Ministério Público de São Paulo prendeu três policiais civis e um delegado por suspeita de envolvimento com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). A ação foi resultado do cruzamento de diversas investigações sobre o PCC e consequência da delação de Gritzbach.

O Estadão apurou que entre os presos está o delegado Fábio Baena, além dos investigadores Eduardo Lopes Monteiro, Marcelo Ruggieri e Marcelo Bombom. O policial Rogério de Almeida Felício, também alvo, está foragido. Além deles, a operação ainda prendeu quatro pessoas apontadas como os principais responsáveis pela lavagem de dinheiro da facção.

Delator mentiu ou foi enganado pelo próprio advogado, diz delegado

O deputado Delegado Olim afirmou que recebeu, "com veemente indignação", notícias a seu respeito e de outras "honradas autoridades, com fatos nebulosos, imprecisos e improvados, os quais não guardam qualquer relação com a realidade". "Não conheço, nunca estive ou recebi pessoalmente, o senhor Vinicius Gritzbach. Não mantive qualquer contato próximo ou imediato com essa pessoa. Nunca intermediei ou atuei pela gestão de procedimentos judiciais ou extrajudiciais a respeito dele, disse.

O parlamentar disse ainda que não tem amizade ou relação próxima com o advogado Ramsés Benjamin Samuel Costa Gonçalves. "Na condição de deputado estadual, eu e outras autoridades recebemos e atuamos em favor da cidadania e para atender legítimos interesses de pessoas que demandam ajuda", disse.

Já o delegado Fabio Pinheiro Lopes disse que, durante as investigações sobre o homicídio de Cara Preta, Gritzbach foi indiciado, foi pedida a decretação de sua prisão e o bloqueio de seus bens, entre eles imóveis, um helicóptero e dois barcos.

"O passaporte dele continua apreendido no Deic até hoje. Além disso, os dois apartamentos que esse criminoso alegou terem sido usados para pagar propina estão em nome do próprio advogado Ramsés e da filha dele. A declaração dele é, portanto, cabalmente desmentida pelos fatos. Dessa forma ou Gritzbach deliberadamente faltou com a verdade para obter vantagens em seu acordo de delação premiada, ou foi enganado pelo advogado Ramsés, o qual aliás possui diversos registros por crime de estelionato", disse o delegado.

Já o advogado Ramsés Gonçalves afirmou, em nota, refutou as acusações. "Nunca contribui direta ou indiretamente para corromper agentes públicos, tampouco usei de influência para tal". Também disse "não ter tratado em momento algum sobre a investigação do Sr. Vinicius com os agentes públicos mencionados na denúncia".

Ainda conforme o defensor, Gritzbach "procurou fazer mau uso de instituto sério da contribuição premiada para desviar o foco das investigações que pairavam sobre si, bem como para se promover financeiramente, já que com ela teve todos seus bens desbloqueados e passou a ter uma vida normal, mesmo confesso da prática dos mais diversos crimes".

Estadão
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