Depoimentos mostram que PMs ameaçaram matar crianças e obrigaram que elas se jogassem em esgoto em Guarujá, diz defensoria
Relatos foram prestados ao órgão por pessoas que foram testemunhas de alegados abusos cometidos por agentes da polícia
A Defensoria Pública de São Paulo obteve relatos que indicam que policiais militares chegaram a ameaçar matar até mesmo crianças durante as ações da Operação Escudo na Baixada Santista, litoral do estado. As informações são da jornalista Mônica Bergamo da Folha de S.Paulo.
Os depoimentos foram prestados ao órgão por pessoas que foram testemunhas de alegados abusos cometidos por agentes da polícia. As declarações foram incluídas em uma ação judicial que solicitava que o uso de câmeras corporais pelos policiais militares fosse obrigatório durante as operações.
Um morador informou à Defensoria que, no dia 31 de julho, estava a caminho de uma padaria quando testemunhou policiais abordando crianças que estavam brincando em um campo de futebol. Os policiais as questionaram sobre a possível localização de traficantes na área.
"Como se recusaram a informar o solicitado, [os policiais] mandaram que se jogassem no canal caso não quisessem morrer. O canal recebe água de esgoto e mangue. Nenhuma criança se afogou porque logo em seguida foram socorridas por suas genitoras", aponta um trecho do depoimento
Outro relato mostra o medo constante dos moradores da Baixada Santista. Conforme uma testemunha, sempre que a polícia sobe o morro, "morre pessoas".
"A polícia tem que fazer o trabalho dela, e não tirar vidas. Eu tenho criança pequena e tem tiroteio na hora que nossos filhos estão na escola. Tem um cadáver lá no chão, e a polícia não deixa nem ver quem é", afirmou o depoente à Defensoria.
"Eu estou trabalhando, minhas filhas estão em casa. Meu filho é trabalhador e sai para trabalhar e eu fico com medo. A polícia tem que prender bandido, e não sair invadindo casa sem mandado, sem nada. Isso é um absurdo", disse ainda.
"Para gente que é trabalhador, é perigoso ali. Uma bala perdida pode tirar vida até das nossas crianças. Vão lá, por favor", desabafou uma pessoa ao órgão.
O Governo de São Paulo e a Secretaria da Segurança Pública afirmaram que as investigações não revelaram irregularidades na Operação Escudo. Durante a ação, , pelo menos 28 pessoas foram mortas, tornando-a a mais mortal da polícia paulista desde o Massacre do Carandiru, quando 102 detentos foram mortos por PMs em 1992.
De acordo com a administração do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), as mortes ocorreram em decorrência de confrontos. Na semana passada, a Secretaria da Segurança Pública também comunicou, por meio de uma nota, que todas as evidências estão sendo fornecidas ao Ministério Público e ao Poder Judiciário.
"Os laudos oficiais de todas as mortes, elaborados pelo Instituto Médico Legal (IML), foram executados com rigor técnico, isenção e nos termos da Lei. Em nenhum deles foi registrado sinais de tortura ou qualquer incompatibilidade com os episódios relatados."