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Disputa pelo título de escola de samba campeã do carnaval do Rio 2020 deve ser acirrada

Veja os principais destaques dos desfiles do carnaval do Rio, marcados por luxo e discursos sociais; apuração será nesta quarta-feira, 26

26 fev 2020 - 12h43
(atualizado às 18h42)
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Duas escolas de samba do Grupo Especial do Rio cairão nesta Quarta-Feira de Cinzas, 26, para o Grupo de Acesso e apenas uma vai subir. Essas mudanças serão conhecidas à tarde, quando será feita a apuração de votos anunciada do carnaval carioca deste ano, dominado por enredos politizados e críticas sociais. Como já ocorreu em anos anteriores, o julgamento das agremiações mudará. Houve aumento de quatro para cinco jurados na avaliação de cada um dos nove quesitos, com eliminação da maior e menor nota em cada um deles. Até o ano passado, apenas a menor nota era desconsiderada na contagem final.

Campeã de 2019, a Mangueira deverá ter dificuldade de manter o posto na disputa com Portela, Viradouro, Unidos da Tijuca, Vila Isabel e Salgueiro, escolas que mais empolgaram o Sambódromo no desfile deste ano.

Apesar de chamar atenção com uma apresentação impactante por suas críticas sociais, a verde e rosa fez uma apresentação morna e não empolgou a plateia como acontece tradicionalmente. Tanto o público como os integrantes da escola tiveram dificuldade de cantar o samba-enredo "A verdade vos fará livre", que trouxe Jesus de várias formas em carros alegóricos impressionantes. A Mangueira teve também a má sorte de desfilar logo após a Viradouro, cujo samba tinha levantado o público na arquibancada.

Junto com a Portela, a Viradouro foi uma das que mais empolgaram o público na primeira noite do desfile. Com alegorias e fantasias luxuosas e bem acabadas, a agremiação de Niterói levou à Sapucaí um enredo sobre as Ganhadeiras de Itapuã. Eram mulheres escravizadas que no século 19 vendiam comida e lavavam roupas na lagoa do Abaeté, em Salvador - e, com o dinheiro arrecadado, elas compravam a liberdade de outras mulheres submetidas ao cativeiro. Com refrão forte, o samba foi entoado à capela em dois trechos. Conquistou a plateia, em um momento de valorização da mulher empoderada.

A Portela desfilou quando já amanhecia, mas empolgou o público que ainda lotava as arquibancadas. À luz dos primeiros raios do sol, as cores das fantasias e os efeitos que os carros espelhados se destacaram, assim como as belas baianas de azul. A escola contou como era o Rio de Janeiro antes da chegada dos descobridores portugueses e fez crítica à destruição da natureza,

Já a Grande Rio e União da Ilha devem perder pontos devido à correria provocada pelos problemas em carros alegóricos. Devem, porém, escapar do rebaixamento, salvas pela Estácio e pela Paraíso do Tuiuti. As duas escolas fizeram desfiles corretos, porém mais pobres que as demais escolas e sem inovações.

Disputa acirrada no carnaval do Rio

No segundo dia do desfile a disputa foi maior. Com nível técnico superior ao das escolas de domingo, Vila Isabel, Salgueiro e Unidos da Tijuca foram destaques e concorrem hoje de igual para igual pelo campeonato. Apesar de a São Clemente, única escola da zona sul carioca, ter sido a mais comentada nas redes sociais pela irreverência e diversão que trouxe à Sapucaí o seu "Conto do Vigário". Seu desfile teve o ator Marcelo Adnet interpretando o presidente Jair Bolsonaro, mas deve garantir apenas a permanência no Grupo Especial.

Em um ano repleto de enredos não patrocinados e cheios de críticas sociais, a Vila Isabel despontou como candidata ao título em 2020 justamente com um tema que se pretendia patrocinado. Com ele, até a semana passada, a direção da escola reclamava ter registrado prejuízo. Mesmo assim, a escola do bairro de Noel Rosa conseguiu trazer carros alegóricos e fantasias luxuosas com excelente acabamento. A escola também contou com um samba animado e terminou o desfile aos gritos de "é campeã".

Logo após a Vila desfilou o Salgueiro, com a história de Benjamim de Oliveira (1870-1954), o primeiro palhaço negro do Brasil. Assim como a Vila, o Salgueiro apresentou alegorias e fantasias luxuosas, e uma crítica social mais ácida. O palhaço representado no último carro alegórico movimentava o braço para esconder o rosto negro com uma máscara branca.

Quarta escola a se apresentar, a Unidos da Tijuca discorreu sobre arquitetura, tendo como mote a cidade do Rio de Janeiro. O desfile marcou o retorno do carnavalesco Paulo Barros à escola onde ele se tornou famoso - foi campeão em 2010, 2012 e 2014, e desde 2015 trabalhou em outras agremiações. A tijucana exibiu alas e carros monumentais, que discorriam sobre a história da arquitetura, incluindo as pirâmides do Egito e o coliseu romano. O Cristo Redentor foi retratado duas vezes - na primeira, em construção, ele girava.

Já a Mocidade homenageou a cantora Elza Soares. Criada na Vila Vintém, favela da zona oeste do Rio que é o berço da escola de samba, a artista de 89 anos desfilou em um trono, no último carro alegórico. Foi aclamada pelo público, mas o desfile não brilhou tanto como a homenageada.

Ex-favorita dos carnavais, a Beija-Flor, dona de 14 campeonatos, atrás apenas das veteranas Portela e Mangueira, encerrou a segunda noite de desfiles no Rio de Janeiro correndo na avenida para não perder pontos. A correria pode custar alguns décimos precisos no quesito evolução na apuração de hoje.

Grupo de Acesso

Apesar de duas escolas deixarem o Grupo Especial, apenas uma no grupo de Acesso vai subir. A Imperatriz Leopoldinense, alvo de polêmica no ano passado por tentar permanecer no grupo principal do desfile apesar de ter ficado no penúltimo lugar, é a favorita para retornar à companhia das grandes escolas.

A escola de Ramos, zona norte da cidade, não quis arriscar e reeditou o enredo campeão do carnaval de 1981, que homenageou Lamartine Babo. Agora, o desfile se deu sob o comando de Leandro Vieira, o mesmo carnavalesco da Mangueira. Com versos cravados na memória dos amantes do samba ("Nesse palco iluminado, só dá Lalá") a escola passou luxuosa pela Marquês de Sapucaí, ao melhor estilo das ex-companheiras do Especial.

Já uma das mais tradicionais escolas do Rio e nove vezes campeã no Grupo Especial, a Império Serrano deverá amargar mais um carnaval fora da elite do carnaval. Protagonizou uma série de problemas no desfile, com destaque para o inédito e triste desfile das baianas sem saias.

Estadão
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