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'É importante que quem ouça pedidos de socorro tente ajudar', diz paisagista agredida

Elaine Caparróz depôs nesta segunda; para Polícia Civil, ação de estudante de Direito foi premeditada

26 fev 2019 - 00h49
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RIO - A Polícia Civil do Rio concluiu nesta segunda-feira, 25, o inquérito em que o estudante de Direito Vinicius Batista Serra, de 27 anos, é acusado de tentativa de feminicídio contra a paisagista e empresária Elaine Perez Caparróz, de 55 anos. Serra, preso em flagrante na noite do crime e que cumpre prisão preventiva, pode ser condenado a pena de 4 a 20 anos de cadeia. Para a polícia, ele agiu de forma premeditada. O rapaz alega ter sofrido um surto psicótico.

O crime foi cometido na noite de 16 de fevereiro, quando, após oito meses de conversas pelo Instagram e pelo WhatsApp, os dois se encontraram pela primeira vez, no apartamento em que Elaine mora sozinha, na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio.

Rayron Gracie ao lado de sua mãe, Elaine
Rayron Gracie ao lado de sua mãe, Elaine
Foto: reprodução/ Instagram / Estadão

A polícia considera que o agressor agiu conscientemente e pretendia matar Elaine desde que se aproximou dela, após ver uma foto nas redes sociais. Em etapa posterior, se a Justiça determinar, a polícia vai investigar se Serra agiu para se vingar de algo. Ele é lutador de jiu-jítsu, e Elaine teve um filho com Ryan Gracie, neto de Carlos Gracie, fundador da primeira escola brasileira desse esporte. Uma hipótese como motivo para o crime seria vingança.

Ao prestar depoimento na 16ª DP (Barra da Tijuca), Serra afirmou que tomou vinho e dormiu com Elaine, mas, quando acordou, sofreu o surto. A Polícia Civil não acredita nessa hipótese.

Na audiência de custódia, realizada no último dia 18 na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte, onde Serra estava preso, a defesa dele apresentou declarações médicas emitidas em 2016 que comprovariam que o agressor tem problemas mentais.

O juiz Alex Quaresma Ravache considerou os documentos insuficientes para atestar a condição. Determinou que o acusado seja submetido a avaliação psiquiátrica. Dois dias depois, o rapaz foi internado em um hospital penitenciário para fazer os exames, mas o resultado ainda não foi divulgado.

Os pais de Serra foram convidados a prestar depoimento, mas não compareceram.

"Nem ele nem a família demonstraram interesse em ajudar nas investigações, mas isso não importa. Nossa convicção é que Serra queria matar Elaine e não teve nenhum surto. Os pais dele não podem ser responsabilizados pelo crime", afirmou nesta segunda-feira a delegada Adriana Belém, titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), responsável pelo inquérito concluído.

Elaine ficou internada por cinco dias e recebeu alta na manhã de sexta-feira, 22. Ela prestou depoimento na 16ª DP na tarde desta segunda-feira e depois fez um breve pronunciamento à imprensa. Elaine agradeceu às pessoas que a socorreram, em casa, e a atenderam depois, no hospital e na delegacia. Disse esperar que a Justiça confirme a versão da Polícia Civil e mantenha o agressor preso.

"Espero de coração que a Justiça possa dar uma atenção maior, para que a gente possa combater esse tipo de crime e evitar que esses delinquentes fiquem soltos e não paguem, que tenham penas mais rígidas. Não adianta nada você denunciar se depois eles saem, com convívio normal, e voltam a cometer crimes", disse Elaine.

A paisagista alertou também para a necessidade de quem suspeitar de agressões entre casais intervir para impedir consequências mais graves. "Se alguém tivesse arrombado a porta (após ouvir os gritos por socorro), eu não teria passado tudo o que passei. Por isso é importante que quem ouça pedidos de socorro realmente tente ajudar".

Instagram

Segundo a delegada, Serra viu Elaine pela primeira vez quando o filho dela, Rayron, postou no Instagram uma foto com a mãe. Por iniciativa de Serra começaram a conversar, primeiro pelo Instagram e depois pelo WhatsApp.

"Ele parecia uma pessoa normal, nunca despertou suspeitas dela, e Elaine tomou muita precaução, tanto que demorou oito meses para encontrar o rapaz", contou Adriana Belém. "Acredito que desde o início ele quisesse matar Elaine. Embora tenha se identificado corretamente para ela, na noite do crime ele deu um nome falso ao porteiro do prédio. Como ela não autorizou a entrada, ele disse que se chamava Vinícius Felipe e aí teve a entrada autorizada", contou.

A delegada disse não poder concluir se Elaine foi dopada, como suspeita a vítima. As agressões se estenderam por aproximadamente quatro horas, calcula a polícia, e só pararam depois que o vigia suspeitou da situação e chamou a polícia. "Elaine contou que o rapaz arrancava pedaços dela, com mordidas, e depois cuspia", narrou.

Nesta segunda-feira, a reportagem não localizou representantes de Serra para se manifestarem sobre o indiciamento.

Serra já tinha uma passagem pela polícia. Em 8 de fevereiro de 2016 ,ele agrediu o irmão, que é deficiente físico. A denúncia foi apresentada à polícia pelo próprio pai, que naquela ocasião também levou um golpe no rosto. Segundo o registro policial, por volta das 2h30 o pai acordou ao ouvir gritos no quarto dos filhos. Ao chegar lá, viu Serra agredindo o irmão com golpes de jiu-jítsu. Ao tentar separar os filhos, o pai chegou a ser ferido.

O agressor acusava o irmão de ter pegado R$ 1,2 mil que eram dele e haviam desaparecido. Mais tarde, constatou-se que o dinheiro estava em outro local e não havia sido levado pelo irmão. A investigação acabou arquivada depois que o pai desistiu de acusar o filho.

Estadão
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