'É importante que quem ouça pedidos de socorro tente ajudar', diz paisagista agredida
Elaine Caparróz depôs nesta segunda; para Polícia Civil, ação de estudante de Direito foi premeditada
RIO - A Polícia Civil do Rio concluiu nesta segunda-feira, 25, o inquérito em que o estudante de Direito Vinicius Batista Serra, de 27 anos, é acusado de tentativa de feminicídio contra a paisagista e empresária Elaine Perez Caparróz, de 55 anos. Serra, preso em flagrante na noite do crime e que cumpre prisão preventiva, pode ser condenado a pena de 4 a 20 anos de cadeia. Para a polícia, ele agiu de forma premeditada. O rapaz alega ter sofrido um surto psicótico.
O crime foi cometido na noite de 16 de fevereiro, quando, após oito meses de conversas pelo Instagram e pelo WhatsApp, os dois se encontraram pela primeira vez, no apartamento em que Elaine mora sozinha, na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio.
A polícia considera que o agressor agiu conscientemente e pretendia matar Elaine desde que se aproximou dela, após ver uma foto nas redes sociais. Em etapa posterior, se a Justiça determinar, a polícia vai investigar se Serra agiu para se vingar de algo. Ele é lutador de jiu-jítsu, e Elaine teve um filho com Ryan Gracie, neto de Carlos Gracie, fundador da primeira escola brasileira desse esporte. Uma hipótese como motivo para o crime seria vingança.
Ao prestar depoimento na 16ª DP (Barra da Tijuca), Serra afirmou que tomou vinho e dormiu com Elaine, mas, quando acordou, sofreu o surto. A Polícia Civil não acredita nessa hipótese.
Na audiência de custódia, realizada no último dia 18 na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte, onde Serra estava preso, a defesa dele apresentou declarações médicas emitidas em 2016 que comprovariam que o agressor tem problemas mentais.
O juiz Alex Quaresma Ravache considerou os documentos insuficientes para atestar a condição. Determinou que o acusado seja submetido a avaliação psiquiátrica. Dois dias depois, o rapaz foi internado em um hospital penitenciário para fazer os exames, mas o resultado ainda não foi divulgado.
Os pais de Serra foram convidados a prestar depoimento, mas não compareceram.
"Nem ele nem a família demonstraram interesse em ajudar nas investigações, mas isso não importa. Nossa convicção é que Serra queria matar Elaine e não teve nenhum surto. Os pais dele não podem ser responsabilizados pelo crime", afirmou nesta segunda-feira a delegada Adriana Belém, titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), responsável pelo inquérito concluído.
Elaine ficou internada por cinco dias e recebeu alta na manhã de sexta-feira, 22. Ela prestou depoimento na 16ª DP na tarde desta segunda-feira e depois fez um breve pronunciamento à imprensa. Elaine agradeceu às pessoas que a socorreram, em casa, e a atenderam depois, no hospital e na delegacia. Disse esperar que a Justiça confirme a versão da Polícia Civil e mantenha o agressor preso.
"Espero de coração que a Justiça possa dar uma atenção maior, para que a gente possa combater esse tipo de crime e evitar que esses delinquentes fiquem soltos e não paguem, que tenham penas mais rígidas. Não adianta nada você denunciar se depois eles saem, com convívio normal, e voltam a cometer crimes", disse Elaine.
A paisagista alertou também para a necessidade de quem suspeitar de agressões entre casais intervir para impedir consequências mais graves. "Se alguém tivesse arrombado a porta (após ouvir os gritos por socorro), eu não teria passado tudo o que passei. Por isso é importante que quem ouça pedidos de socorro realmente tente ajudar".
Segundo a delegada, Serra viu Elaine pela primeira vez quando o filho dela, Rayron, postou no Instagram uma foto com a mãe. Por iniciativa de Serra começaram a conversar, primeiro pelo Instagram e depois pelo WhatsApp.
"Ele parecia uma pessoa normal, nunca despertou suspeitas dela, e Elaine tomou muita precaução, tanto que demorou oito meses para encontrar o rapaz", contou Adriana Belém. "Acredito que desde o início ele quisesse matar Elaine. Embora tenha se identificado corretamente para ela, na noite do crime ele deu um nome falso ao porteiro do prédio. Como ela não autorizou a entrada, ele disse que se chamava Vinícius Felipe e aí teve a entrada autorizada", contou.
A delegada disse não poder concluir se Elaine foi dopada, como suspeita a vítima. As agressões se estenderam por aproximadamente quatro horas, calcula a polícia, e só pararam depois que o vigia suspeitou da situação e chamou a polícia. "Elaine contou que o rapaz arrancava pedaços dela, com mordidas, e depois cuspia", narrou.
Nesta segunda-feira, a reportagem não localizou representantes de Serra para se manifestarem sobre o indiciamento.
Serra já tinha uma passagem pela polícia. Em 8 de fevereiro de 2016 ,ele agrediu o irmão, que é deficiente físico. A denúncia foi apresentada à polícia pelo próprio pai, que naquela ocasião também levou um golpe no rosto. Segundo o registro policial, por volta das 2h30 o pai acordou ao ouvir gritos no quarto dos filhos. Ao chegar lá, viu Serra agredindo o irmão com golpes de jiu-jítsu. Ao tentar separar os filhos, o pai chegou a ser ferido.
O agressor acusava o irmão de ter pegado R$ 1,2 mil que eram dele e haviam desaparecido. Mais tarde, constatou-se que o dinheiro estava em outro local e não havia sido levado pelo irmão. A investigação acabou arquivada depois que o pai desistiu de acusar o filho.