"Eles vão ter que aturar": familiares de Marielle Franco fazem ato após condenação de Lessa e Queiroz
Após seis anos e meio da morte de Marielle e Anderson Gomes, Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram condenados pelo Tribunal do Júri do RJ
Após o julgamento que condenou Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, ex-policias militares acusados pela morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, familiares da parlamentar organizaram um ato em homenagem às vítimas nesta quinta-feira, 31, no Centro do Rio de Janeiro.
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Dezenas de pessoas se concentraram ao lado do 4º Tribunal do Júri da Justiça do Rio de Janeiro após o anúncio da sentença. Com faixas, camisas e girassóis -- símbolo do Instituto Marielle Franco e do legado da vereadora -- os manifestantes formaram um círculo entorno da família de Marielle.
A primeira a discursar foi a mãe, Marinete Silva, que agradeceu o companheirismo dos apoiadores da causa desde o crime, ocorrido em 14 de março de 2018, e repudiu os condenados: "São réus confessos, são bandidos, não tem que ter perdão, isso não existe para uma mãe que perde um filho".
"Quero agradecer a cada um que caminhou conosco, a cada ato. A gente está aqui hoje para celebrar, para dizer que nós nunca estamos sozinhos", disse Marinete, antes de passar a palavra para Anielle Franco, irmã de Marielle e ministra da Igualdade Racial.
Assim como Marinete, Anielle e os demais familiares agradeceram o apoio da militância. A ministra recordou os seis anos desde a morte da vereadora e falou sobre a dor da perda familiar.
"A gente sabe o que é a dor de perder um familiar, não precisa passar pela mesma coisa para você saber qual é a dor, mas a gente sabe quando a gente tem empatia, tem valor. A gente definitivamente não pode normalizar esses corpos serem tombados, essas parlamentares serem ameaçadas ou atacadas", disse.
"Hoje a gente 'tá' aqui, sim, com a certeza de que a Justiça está começando a ser feita, com um vazio no peito sim, mas com muita luta, com muita garra e vontade de seguir lutando", afirmou Anielle.
O pai da vereadora, Antônio Francisco da Silva Neto, afirmou que a condenação é uma 'vitória maiúscula', buscada desde a morte de Marielle. "Tive um momento de muita alegria quando ouvi a sentença, não tinha como me controlar. Essa vitória de hoje, eu quero que seja estendida a todos os familiares que perderam seus entes queridos e caminharam conosco".
Por fim, Luyara Franco, filha de Marielle, exaltou o legado da mãe e citou a 'exaustão' vivida durante os dois dias de julgamento no Rio de Janeiro: "Foram dois dias exaustivos, a frieza com que os réus estavam falando, como se a nossa vida, a vida dos nossos corpos pretos, nossos filhos, nossos pais, fossem descartáveis como papel".
"A gente vai continuar honrando e preservando o legado da minha mãe, do Anderson, para que os filhos, os maridos, as esposas de vocês terem a tranquilidade vendo a responsabilização do caso. Esse foi o primeiro passo, a gente precisa que vocês continuem com a gente, hoje foram os executores, ainda tem os mandantes, a gente não pode normalizar que nem um corpo preto, mulher preta, vereadora eleita, essa vida seja ceifada", finalizou.
Julgamento de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz
Após seis anos e meio das execuções de Marielle Franco e Anderson Gomes, os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram julgados. Lessa, que atirou contra a vereadora e seu motorista, foi condenado a 78 anos de prisão. Já Queiroz, que dirigiu o veículo no dia do crime, foi condenado a 59. Eles foram condenados por todos os crimes dos quais foram acusados.
A sessão, promovida no 4º Tribunal do Júri da Justiça do Rio de Janeiro, começou às 10h30 da quarta-feira, 30, e seguiu até 23h50. A ideia era que o julgamento fosse finalizado no mesmo dia, mas, após cerca de 13 horas de duração, a sessão foi suspensa e retomada nesta manhã.
No total, foram mais de 18 horas de julgamento. Lessa e Queiroz foram presos em 2019, um ano após o crime, e participaram do julgamento por videoconferência da cadeia onde estão presos. Lessa está no Complexo Penitenciário de Tremembé, no interior de São Paulo, e Queiroz, no Complexo da Papuda, em Brasília.