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Empresa de ônibus ligada ao PCC tem contrato com a Prefeitura de SP, diz polícia

Valor de contrato é de R$ 600 milhões por ano; governo afirma que investigação não afeta o resultado da licitação de concessão

7 jun 2022 - 20h50
(atualizado às 20h57)
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Edifício Matarazzo, sede da Prefeitura de São Paulo
Edifício Matarazzo, sede da Prefeitura de São Paulo
Foto: Divulgação/Guilherme Cunha/SMTUR

Três integrantes da cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC) estavam entre os acionistas da UPBus, empresa de ônibus controlada pela facção que detém contrato de R$ 600 milhões por ano com a Prefeitura de São Paulo. A empresa foi alvo de operação do Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) na quinta-feira.

Os policiais do departamento descobriram que a empresa de transporte coletivo havia sido comprada pelo traficante de drogas Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta. Ele tinha como sócios Silvio Luiz Ferreira, o Cebola; Cláudio Marcos de Almeida, o Django; e Décio Gouveia Luis, o Português, todos acusados de compor a cúpula da facção. Além deles, outros dois integrantes do PCC foram identificados como sócios da UPBus: Alexandre Salles Brito, o Xandi, e Anísio Amaral da Silva, o Biu. De acordo com o delegado Fernando Santiago, da 4.ª Delegacia do Denarc, outras 18 pessoas relacionadas aos 6, a maioria de familiares dos acusados, constam como sócias.

A investigação do Denarc começou depois do assassinato de Santa Fausta, em dezembro, no Tatuapé. Cara Preta estava com Antonio Corona Neto, o Sem Sangue, também assassinado. Além de ser um dos maiores fornecedores de drogas e armas para facção, Cara Preta teria financiado grandes assaltos, como o roubo de 770 quilos de ouro no aeroporto de Guarulhos, em 2019. Teria sido dele a ideia de lavar o dinheiro do tráfico na empresa de ônibus. Os bandidos também usavam loterias do governo para esquentar o dinheiro do tráfico e compravam armas de parentes que conseguiram se registrar como colecionadores.

Para a compra da empresa, Cara Preta usou o nome falso de Ubiratan Antonio da Cunha. Na ata da assembleia da empresa registrada na Junta Comercial de São Paulo, Biu consta como secretário. Preso ao lado de Xandi em 2012, com dez quilos de maconha e com um fuzil, o acusado teria injetado R$ 247 mil na empresa. Batizado como integrante da facção em 2008, Xandi teria investido R$ 123 mil na empresa.

Além deles, os policiais descobriram que Cebola teria sido o responsável pela compra de 56 ônibus. Preso também em 2012 com 500 quilos de maconha, ele saiu da cadeia em 2014, quando recebeu o direito de responder ao processo em liberdade. Hoje, está foragido. Cebola era apontado como o chefe da chamada Sintonia do Progresso - o tráfico de drogas mantido pela facção.

Por fim, o outro sócio da empresa seria Django, assassinado em janeiro embaixo de um viaduto na Vila Matilde, zona leste de São Paulo. A morte de Django teria relação com a de Cara Preta - os dois foram vítimas de uma guerra dentro da facção. Ele investira R$ 1,2 milhão na empresa Por fim, os parentes de Décio Português colocaram R$ 618 mil na UPBus. Português foi mandado para um presídio federal, depois que a polícia descobriu a participação dele e de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, em um plano para assassinar autoridades paulistas, entre elas o então delegado-geral, Ruy Ferraz Fontes.

A UPBus controlaria 13 linhas de ônibus na zona leste de São Paulo. A empresa tinha como sede o mesmo endereço em que ficava uma cooperativa de ônibus onde Cebola fora preso em 2012 com os 500 quilos de maconha. Durante a operação na semana passada, o Denarc cumpriu 62 mandados de busca e apreensão da 1.ª Vara de Crimes Tributários e Financeiros, Organizações Criminosas e Lavagem de Dinheiro da Capital. Os policiais apreenderam então celulares, computadores, documentos, dois fuzis, pistolas, revólveres e grande quantidade de munição. Os investigadores pediram à Justiça o sequestro dos bens dos acusados no inquérito que investiga a lavagem de dinheiro pelo crime organizado.

O Estadão não conseguiu localizar os advogados dos acusados. A Prefeitura de São Paulo informou que "recebeu ofício da Polícia Civil, informando que a investigação não afeta o resultado da licitação de concessão do serviço de transporte público". E destacou que a SPTrans seguirá acompanhando o caso e colaborará com a polícia "naquilo que for solicitada". / COLABOROU LEON FERRARI

Estadão
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