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Empresário deu entrevista meses antes de ser executado sobre ‘pessoas que orquestraram plano’ para matá-lo

Antônio Vinícius Lopes Gritzbach teria delatado o PCC ao Ministério Público; ele foi morto a tiros no Aeroporto de Guarulhos (SP)

9 nov 2024 - 10h25
(atualizado às 13h00)
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Antônio Vinícius Lopes Gritzbach foi morto no Aeroporto de Guarulhos (SP)
Antônio Vinícius Lopes Gritzbach foi morto no Aeroporto de Guarulhos (SP)
Foto: Reprodução/TV Record

O empresário que foi executado a tiros no Terminal 2 do Aeroporto de Guarulhos (SP), nesta sexta-feira, 8, deu uma entrevista seis meses do crime contando que foi alvo de "pessoas que orquestraram um plano" para matá-lo. Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, de 38 anos, foi delator do Ministério Público e teria entregado membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) em uma delação. 

O corretor de imóveis estaria jurado de morte pela organização criminosa, e foi vítima de um sequestro que teria sido sequestrado pelo grupo no passado. O motivo seria a acusação de desvio de R$ 100 milhões da facção e de ter ordenado matar o traficante Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como Cara Preta, e de seu motorista, Antônio Corona Neto, o Sem Sangue. 

Cara Preta teria entregado os valores a Gritzbach para que fossem investidos em criptomoedas, mas com a morte do criminoso em 2021, o PCC chamou o empresário para "conversar" na casa de outro integrante do grupo. Ao programa Domingo Espetacular, da TV Record, ele afirmou que não conhecia Anselmo pelo apelido, e que sua relação era de cliente. 

“A minha atribuição era intermediar a compra e venda de imóveis. [Ele me procurou e disse] que queria investir. Fez uma compra de R$ 12 milhões. Ele era uma pessoa que tinha família, que frequentou o escritório algumas vezes. Não tinha inimizade, descontentamento [entre os dois].”

Ao ser questionado como recebeu a morte de Anselmo, Gritzbach afirmou que não foi “fácil”, e que em “momento nenhum” achou que seria acusado do crime. “Não mandei matar ninguém. Eu não tive participação nenhuma. Em nenhum momento o Anselmo me incomodou. [Estou sendo acusado injustamente] porque talvez teria um plano deles que deu errado e eu não morri. Pessoas que orquestraram um plano de me matar”, declarou. 

Ele teria ficado sob a mira dos criminosos por 9 horas, durante um “tribunal do crime”, segundo seu depoimento à Polícia, mas foi liberado com a promessa de reaver o montante. No entanto, foi preso e decidiu contar o que sabia sobre a facção. Sua defesa ofereceu em setembro de 2023 uma delação premiada ao MPSP, homologada em abril deste ano pela Justiça. 

O empresário Antonio Vinícius Lopes Gritzbach foi morto a tiros no Aeroporto Internacional de Guarulhos
O empresário Antonio Vinícius Lopes Gritzbach foi morto a tiros no Aeroporto Internacional de Guarulhos
Foto: Reprodução

O corretor de imóveis acusou dirigentes ligados a empresas que agenciam jogadores de futebol de terem lavado dinheiro do PCC. Um dos envolvidos com uma dessas empresas estaria presente no sequestro, no qual o delator foi torturado, e seria o mais violento dos sequestradores. 

Em depoimento, Gritzbach afirmou que esse homem o mandou ligar para familiares e se despedir, além de ameaçar esquartejar a vítima. 

Execução 

O caso ocorreu na  entrada do Terminal 2 por volta das 16h10 da tarde. Imagens de câmeras de segurança do aeroporto mostram o momento em que atiradores saem de um veículo estacionado e executam o empresário. Gritzbach levava uma mala de rodinhas quando é foi surpreendido pelos criminosos.

Vídeo mostra momento em que empresário delator do PCC é executado no Aeroporto de Guarulhos:

Ele tenta fugir, é atingido pelos disparos e cai perto da faixa de pedestres. É possível ver outras pessoas correndo por causa do tiroteio. Após o crime, os atiradores fogem. Além dele, outras três pessoas ficaram feridas. 

Gritzbach voltava de viagem quando foi baleado no Aeroporto de Guarulhos.
Gritzbach voltava de viagem quando foi baleado no Aeroporto de Guarulhos.
Foto: Polícia Civil/Divulgação / Estadão

Uma dupla da Guarda Civil Municipal (GCM) de Guarulhos estava em ronda próximo à entrada onde houve o tiroteio até por volta das 13h, quando identificaram um suspeito de ter adulterado a placa de um carro.

Depois disso, eles o conduziram para a delegacia do aeroporto. Como a ocorrência demorou três horas para ser registrada, segundo eles, os agentes não faziam ronda na hora da execução.

Celulares recolhidos

De acordo com o colunista do UOL, Josmar Josino, quatro PMs foram contratados para fazer a escolta do empresário, que desembarcava no terminal 2 do aeroporto, onde sofreu uma emboscada. Eles buscariam Gritzbach após a viagem para o Nordeste com a namorada e um motorista. 

Agentes da  3ª Delegacia de Atendimento ao Turista (Deatur) do aeroporto de Guarulhos apuraram que os policiais usavam um veículo GM Trailblazer e um Volkswagen Amarok para fazer a escolta, no entanto, esse segundo carro teve um problema mecânico e não conseguiu chegar à área de desembarque. A Amarok foi deixada em um posto de combustível. 

Com o Trailblaze, um policial chegou ao terminal 2, junto com o filho de Gritzbach, de 11 anos, e um estudante amigo do empresário, de 23. Eles também tiveram seus celulares apreendidos pela Polícia. 

A namorada do empresário deixou o local com um policial militar que fazia parte da escolta do empresário e não foi ouvida. Já os policiais foram encaminhados para a 3ª Deatur, onde prestaram depoimento, deixaram os celulares e foram liberados. A Corregedoria da PM também deve investigar a conduta do grupo. 

Gritzbach voltava de viagem quando foi atacado a tiros no Aeroporto de Guarulhos.
Gritzbach voltava de viagem quando foi atacado a tiros no Aeroporto de Guarulhos.
Foto: Ítalo Lo Re/Estadão / Estadão

Segundo a TV Globo, um investigador disse que, como o delator do PCC seria visado por ter delatado a organização criminosa, o mais lógico seria que todos os agentes que cuidavam da segurança do empresário deixassem o carro quebrado para trás e seguissem para o aeroporto. No entanto, ao que parece, dos quatros, três ficaram cuidando do veículo com defeito. 

O celular de Gritzbach também foi recolhido no local do crime e passará por perícia. O aparelho pode ajudar nas apurações a partir de trocas de mensagens que deverão ser extraídas. A Polícia também acredita que a vítima já tinha sendo monitorada desde sua saída de Goiás, já que os assassinos sabiam o horário que ele desembarcaria. 

Ataque a tiros no Aeroporto Internacional de SP deixa um morto e feridos:

As autoridades suspeitam que os criminosos foram avisados do momento em que o empresário desembarcaria para que o ataque ocorresse no momento em que ele saísse do saguão do aeroporto.

O Terra solicitou à Secretaria de Segurança Pública e à Corregedoria das Polícias um posicionamento sobre o caso, mas não obteve retorno até o momento. O espaço permanece aberto para manifestações. 

Quem era Gritzbach

Gritzbach era relator do Ministério Público, e teria entregado membros do PCC em uma delação. Aos investigadores, pessoas próximas da vítima disseram que ele temia pela própria vida, e que sabia que membros do PCC tinham conhecimento de sua colaboração com o Ministério Público.

Na delação, ele falou sobre o envolvimento com a organização criminosa, a maior do país, com o futebol e o mercado imobiliário. Ele também deu informações sobre os assassinatos de líderes da facção, como Cara Preta e Django, mencionando a corrupção policial e suspeita de pagamento de propina na investigação da morte de Cara Preta.

Conforme o portal Metrópoles, em dezembro de 2023, Vinícius havia sido alvo de um suposto atentado na sacada do apartamento em que morava na zona leste da capital paulista.

O empresário ficou preso até 7 de junho de 2023, quando ganhou liberdade condicional e passou a usar tornozeleira eletrônica.

Em junho deste ano, a polícia foi mobilizada para atender a um suposto sequestro do empresário. O DHPP foi acionado após a esposa de Vinícius e os dois seguranças dele ligarem para o advogado de defesa, informando que houve uma movimentação suspeita, de um carro para outro.

Ao dar seu depoimento, Gritzbach demonstrou nervosismo. O teor do depoimento não foi revelado, e o caso segue sendo investigado.

Gritzbach atuou na Porte Engenharia e Urbanismo como corretor de imóveis entre 2014 e 2018, segundo a empresa. Ele afirmou ter conhecido membros da facção criminosa devido ao trabalho, por meio de um corretor de imóveis.

A Porte é investigada pelo Ministério Público Estadual (MPE), por suspeita de ter vendido mais de uma dezena de imóveis para traficantes de drogas, segundo a delação. Gritzbach também afirmou que executivos da construtora sabiam do pagamento de imóveis em dinheiro em espécie e também de registros de bens cujo nome do verdadeiro proprietário ficava oculto, segundo o Estadão. À reportagem, a Porte diz que "não é investigada pelo Ministério Público".

"A Porte jamais tolerou qualquer atividade ilícita de qualquer colaborador e se dispôs a oferecer auxílio documental às autoridades competentes sobre as ações do ex-corretor no período em que atuou na empresa", informou por meio de nota.

Fonte: Redação Terra
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