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Entenda a tempestade Yakecan, fenômeno que traz ventos de 120 km/h e até neve no Brasil

Temperaturas vão cair em diversos Estados, há previsão de geadas e o litoral de SP e RJ podem sofrer com ressacas marítimas

18 mai 2022 - 05h12
(atualizado às 10h52)
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As casas ficaram cheias de neves em Santa Catarina
As casas ficaram cheias de neves em Santa Catarina
Foto: Reprodução/Facebook/@Jardel Joaquim

A tempestade subtropical Yakecan já está mudando o clima nos Estados da Região Sul do Brasil, vai baixar as temperaturas em metade do País nos próximos dias e já causou pelo menos uma morte. Entre os efeitos prováveis estão rajadas de ventos fortes, de até 120 km/h, e possível ocorrência de neve em Rio Grande do Sul, Santa Catarina e sul do Paraná, na região da Serra de Palmas.

Esse sistema de baixa pressão começou como um ciclone extratropical, muito comum, juntamente com uma frente fria no fim de semana. "Mas na segunda-feira se desprendeu dessa frente fria e começou a se movimentar do mar em direção ao continente, com trajetória típica de furacão", observa Estael Sias, meteorologista da Metsul. Isso não significa que a tempestade vai se tornar um furacão. Em linhas gerais, o ciclone é um sistema de baixa pressão atmosférica em que o vento gira no sentido horário.

"Essa tempestade mescla características de um ciclone extratropical e um tropical. À medida que ela se aproxima do litoral, ela também pode se intensificar, com a pressão em seu centro caindo muito. Por isso é um ciclone anômalo, com características especiais", explica Estael Sias, meteorologista da Metsul.

A especialista explica que o sistema de baixa pressão começou como um ciclone extratropical, muito comum, junto com uma frente fria no final de semana. "Mas na segunda-feira se desprendeu dessa frente fria e começou a se movimentar do mar em direção ao continente, com trajetória típica de furacão", conta.

Mas apesar disso, não significa que a tempestade vai se tornar um furacão. Em linhas gerais, o ciclone é um sistema de baixa pressão atmosférica em que o vento gira no sentido horário. É um fenômeno muito abrangente na escala de centenas de quilômetros, ou seja, pode ter o tamanho de um Estado, bem diferente dos tornados, que são pontuais, pode ter ventos de mais de 400 km/h e são visíveis a olho nu. Já os ciclones são vistos em sua totalidade geralmente em imagens do espaço, de satélites, por causa do imenso tamanho.

Segundo Estael, o ciclone extratropical, como o próprio nome diz, se forma fora dos trópicos, nas regiões de latitudes médias, a partir do grande contraste de temperatura. Então é associado à formação de uma frente fria, e quase toda semana tem isso no Atlântico Sul. Ele se forma no continente e avança para o mar.

Já o ciclone com características tropicais, que seria furacão, se forma a partir do calor, de um mar com temperatura da água mais quente, acima de 27°C na superfície. Essa energia desprendida por essa água muito quente vai fazendo a evaporação, baixando a pressão atmosférica naquela região e forma ciclones tropicais ou furacões. E se movimentam do mar em direção ao continente.

"Para que essa tempestade virasse furacão teria de ter vento sustentado acima de 118 km/h, por alguns minutos ou horas de duração, mas nenhum modelo indica isso. Temos apenas rajadas fortes, de até 120 km/h. Além disso, o núcleo teria de ser quente, mas a gente não acredita que haverá essa condição", afirma Estael.

Um fenômeno climático dessas proporções está chamando a atenção porque vai ter impacto diretamente na vida das pessoas nesta semana. Em seu movimento, o ciclone impulsiona a massa de ar polar do polo sul para dentro do continente, derrubando as temperaturas. Então os Estados da região Sul poderão ter marcas negativas em algumas localidades e no Sudeste e Centro-Oeste haverá geada em diversos lugares, inclusive no Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e norte de Minas Gerais, onde historicamente nesta época do ano os termômetros registram números mais elevados.

Com fortes rajadas de ventos, as cidades litorâneas do Sul e Sudeste serão afetadas e é possível a presença de ressacas marítimas em muitas cidades da costa. Na Serra da Mantiqueira os indicadores mostram que poderemos ter temperaturas negativas e algumas cidades do Sul do País verão neve, algo que costuma atrair muitos turistas para essas regiões.

BATISMO COM NOME INDÍGENA

A Marinha tem uma lista com nomes em tupi-guarani para batizar os Sistemas Tropicais e Subtropicais Significativos que apareçam no Atlântico Sul. E pela sequência, a tempestade subtropical foi chamada de Yakecan, que significa "o som do céu". É o 15º nome da lista, em ordem alfabética, e a próxima voltará ao primeiro (Arani, que significa "tempo furioso").

Segundo Olivio Bahia, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), esses ciclones como o atual são mais frequentes do que se imagina. "Existem diversos atuando neste momento no globo terrestre. A Marinha classifica como tempestade subtropical e existe a expectativa de que os ventos se intensifiquem", diz.

O meteorologista reforça que a tempestade já vem provocando grande impacto no litoral brasileiro e a Defesa Civil já está informada sobre as particularidades desse fenômeno. Apesar de ocorrer em maio, Olivio Bahia reforça que isso não significa que teremos um longo e frio inverno. "Não tem como saber, qualquer coisa que falarem é chute. A gente está com uma massa de ar frio bem intensa. É um período seco no Brasil e as frentes frias devem avançar até o final do inverno", avisa.

 

MUDANÇA DE ROTINA POR CAUSA DO CICLONE

Um fenômeno climático dessas proporções está chamando a atenção por já apresentar impacto direto na vida das pessoas. Em Porto Alegre, na segunda-feira, um pequeno barco com três pescadores naufragou no Lago Guaíba, causando a morte de uma pessoa. O corpo de Ademar Silveira da Silva, de 51 anos, foi achado pelos bombeiros. Os outros dois tripulantes conseguiram se salvar.

No município de Rio Grande, no extremo Sul do Estado, os ventos chegaram a 95 km/h nas Praias do Cassino e na Barra. Toda a costa litorânea está sob alerta e a Marinha do Brasil orienta as embarcações para que não naveguem, em razão do mau tempo e de grandes ondulações que podem ultrapassar os 4 metros.

Já a cidade serrana de Urupema, em Santa Catarina, amanheceu com neve ontem. Este foi o primeiro registro de 2022, mais de um mês antes do início do inverno. O fenômeno foi registrado no Morro das Antenas, a pouco mais de 1,3 mil metros de altitude. Houve ainda registros posteriores em São José dos Ausentes e Cambará do Sul, na região dos Campos de Cima da Serra.

Em Porto Alegre, as aulas da rede municipal foram suspensas nos turnos da tarde e noite desta terça. Segundo a prefeitura, "a decisão foi tomada para preservar a segurança dos alunos e das equipes". O mesmo ocorreu em Canoas, Eldorado do Sul, Guaíba, Cachoeirinha, Gravataí e Glorinha.

Anteontem o Ministério do Desenvolvimento Regional, por meio da Defesa Civil Nacional, sugeriu à população evitar sair de casa durante a tempestade, buscar locais mais protegidos, caso esteja na rua, desligar a energia da tomada e fechar a saída de gás do botijão. Enquanto isso, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) emitiu um alerta recomendando que condutores evitem trafegar com veículos leves pelas rodovias do Rio Grande do Sul.

TEMPO EM SÃO PAULO

Com a chegada da massa de ar frio e mínima prevista pela Climatempo de 6ºC para a cidade de São Paulo nesta quarta, a Prefeitura anunciou a criação de mais 2 mil vagas de abrigo para pessoas em situação de rua na rede socioassistencial - para além das 15.116 já existentes -, durante as noites mais frias. Além disso, serão montadas dez tendas de atendimento à população em situação de rua sempre que a temperatura ficar abaixo dos 10ºC. Haverá ainda a busca ativa de pessoas durante noites e madrugadas frias. / COLABOROU LUCIANO NAGEL, ESPECIAL PARA O ESTADÃO

Estadão
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